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FT: A esquerda não vai tomar conta do Eurogrupo
O Financial Times escreve esta manhã que Mário Centeno é presidente do Eurogrupo “por acaso” e que não se deve esperar uma revolução de esquerda no órgão comunitário.
"Foi uma nomeação que, tal como muitas outras, se resumiu a puro cálculo político das principais capitais da Zona Euro", escreve Mehreen Khan, na Brussels Briefing, a newsletter do FT feita a partir de Bruxelas. Mais do que uma escolha com qualquer intenção política, o ministro português acabou no cargo "por acidente", argumenta a correspondente.
O FT reconhece que dar o cargo a um ministro de um país resgatado - ainda por cima de um governo socialista anti-austeridade - carrega um simbolismo poderoso. Contudo, lembra que foi necessário que várias pedras que Centeno não controla se tivessem mexido, como o facto de o espanhol Luis de Guindos estar de olhos postos no BCE, o italiano Pier Carlo Padoan ter eleições à porta e França estar a espreitar a liderança da própria Comissão.
Sobraram quatro líderes de quatro países pequenos: Luxemburgo, Letónia, Eslováquia e Portugal. "Nenhum dos candidatos era considerado um líder nato, mas Centeno emergiu como o candidato do compromisso", explica Khan. "Para Paris, pode ser um aliado quando quiser impulsionar a agenda ambiciosa de integração no euro, enquanto para Angela Merkel, que está a negociar coligações com a esquerda, apoiar um socialista em Bruxelas pode ser bem visto dentro de portas."
Quanto a toda a narrativa anti-austeridade, a correspondente do FT também está céptica, notando que o governo de Centeno tem feito consolidação orçamental a um ritmo que "deixaria a maioria dos alemães orgulhosos". Além de o próprio Centeno ter assumido que teria uma posição neutra nos debates sobre o futuro do euro, o FT especula que a sua inexperiência nos palcos europeus o tornará mais permeável aos ritmos de Berlim.
"Aqueles que antecipam uma revolução de esquerda no Eurogrupo devem esperar sentados", conclui Khan.