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04 de Dezembro de 2017 às 23:00

É só o presidente do Eurogrupo

"Não se pode gastar todo o dinheiro em copos e mulheres e, de seguida, pedir para ser ajudado." Todos nos lembramos das declarações de Dijsselbloem. Embora seja de pouca justiça definir a praxis de alguém a partir de uma só frase, ela é um poderoso símbolo da mudança que a substituição do holandês por Mário Centeno pode representar para a Zona Euro.

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A frase é de Março, tem nove meses. Há apenas nove meses ainda fazia sentido alimentar o estigma em relação aos países do Sul numa entrevista a um jornal conservador alemão. Granjeava simpatia. Na altura, perante o reacção furiosa dos países do Sul, entre eles Portugal, Wolfgang  Schäuble veio defender Dijsselbloem.

Nove meses depois, o ministro das Finanças de um desses países pouco confiáveis, na visão de Dijsselbloem e de outros responsáveis europeus do Norte, foi eleito presidente do Eurogrupo.


É um reconhecimento do esforço feito por Portugal e uma clara reabilitação do país no palco europeu, na senda da tirada do "Ronaldo das Finanças" de Schäuble. Só é possível porque o ambiente na Zona Euro é outro, muito mais desanuviado, com o crescimento económico a acelerar e a superar o do Reino Unido e dos Estados Unidos. Até a Grécia caminha já para regressar aos mercados.

Mário Centeno é um homem novo para um tempo novo, é um lamber das feridas e fracturas abertas pela crise da dívida, representa uma vontade de unir, que tão importante será para as aspirações de aprofundamento da integração na Zona Euro.


Mas será que representa uma mudança de política, como o próprio deseja? Mário Centeno tem razão quando diz que a União Monetária tem criado mais divergência do que convergência e que as desigualdades são um combustível para o populismo. Mas é duvidoso que exista abertura para acarinhar os caminhos alternativos que têm sido seguidos pelo Governo português.


Na conferência de imprensa que se seguiu à reunião de ontem do Eurogrupo, quer Dijsselbloem quer o comissário dos Assuntos Económicos vincaram, mais uma vez, a importância de aproveitar o bom momento económico para acelerar a consolidação das contas públicas e prepará-las para momentos de menor expansão, em particular os países mais endividados. O que é de bom senso. O ministro das Finanças português também trouxe, aliás, avisos para casa.

Catarina Martins diz que ter um português no Eurogrupo "não significa nada". Di-lo por niilismo em relação ao órgão e ao que ele representa. Mas arrisca-se a ter razão, pelo menos no plano externo. No plano interno, Centeno bem pode declarar que a sua eleição "não muda nada", mas dificilmente deixará tudo na mesma. A menos que a visão conservadora do Norte e centro da Europa deixe de prevalecer no Eurogrupo, o Governo português estará mais pressionado, agora pela necessidade de dar o exemplo.


Humilde e consciente das limitações do seu poder, Centeno diz que será "apenas presidente do Eurogrupo". Não significa que não tenha a ambição de deixar a sua marca e uma Zona Euro mais forte e convergente. Seria bom para Portugal e a Europa que fosse bem-sucedido.

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