Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Notícia

Pós-Brexit? Mercado único sem “opt-out” de pessoas, avisam europeus

Em Bruxelas, há consenso sobre dois princípios: a negociação concreta do pós-Brexit apenas pode ter lugar após o Reino Unido formalizar o pedido de saída e Londres deve esperar um tratamento amigável mas sem mais excepções. Mercado único inclui pessoas, frisou Merkel.

4 de Fevereiro – Merkel em declarações proferidas em Berlim. “Tudo o que estamos a fazer pela Grécia é no sentido de assegurar que a Grécia permanece na Zona Euro”.
Reuters
28 de Junho de 2016 às 21:02
  • 2
  • ...
O pedido de divórcio só deverá ser entregue por Londres no último trimestre do ano, já pelo sucessor de David Cameron, e apenas então se começará a negociar, ponto por ponto, a saída do Reino Unido como Estado-membro da União Europeia e uma parceria futura que espelhe os laços que ficam de quatro décadas de convivência e vantagens mútuas em ter pontes sobre o canal da Mancha.

Mas Londres não deve esperar mais excepções e "opt-outs", como os que, desde 1973, marcaram o seu casamento pouco assumido com a União. Ao contrário do que acenavam e continuam a acenar alguns dos que defenderam o Brexit, se o Reino Unido quiser continuar a ter livre acesso ao mercado de quase 500 milhões de habitantes dos demais 27 Estados da UE tem de estar preparado para aceitar que "mercado único" quer dizer também liberdade de circulação de trabalhadores – e não apenas de bens, serviços e capitais.

Estes foram dois princípios que, de forma mais ou menos explícita, estiveram presentes nas muitas declarações proferidas em Bruxelas, onde permanecem reunidos os líderes europeus numa cimeira que ficará para a História como a que deu início à despedida do primeiro país da UE.

Quem os frisou de forma inequívoca foi Angela Merkel, chanceler de uma Alemanha que se vê obrigada a ser agora ainda mais ancora do projecto de integração no continente. "Só posso aconselhar os nossos amigos britânicos a não se iludirem", avisou. Depois de lamentar a decisão dos britânicos e de assegurar que a União Europeia "é forte o suficiente" para sobreviver a 27. Merkel foi directa ao assunto. "Se querem deixar a família, não podem esperar manter todos os privilégios e desistir das obrigações", afirmou perante o parlamento alemão em Berlim, escassas horas de partir para Bruxelas. Para que não restem dúvidas, a chanceler concretizou e exemplificou. "Tem entrada no mercado comum quem reconhece e aceita quatro liberdades de movimento: pessoas, bens, serviços e capitais. A Noruega, por exemplo, não é membro da UE mas integra o mercado comum porque aceita esses quatro princípios".

Em Bruxelas, o primeiro-ministro italiano optou igualmente por uma narrativa suficientemente directa, como a que a diplomacia britânica tem fama e proveito de usar. "É impossível pertencer a uma comunidade só com as coisas boas, sem as coisas más. É impossível falar apenas sobre o mercado único, e não aceitar a política sobre migração. É impossível ser-se muito comunitário acerca da economia e não acerca dos valores. Este é o problema, a meu ver, sobre esta campanha", afirmou Matteo Renzi.

À chegada ao Conselho Europeu, David Cameron, o ainda primeiro-ministro britânico, disse querer discutir o Brexit mas não negociar o processo de saída da UE, já que essa será uma tarefa para o seu sucessor. Manteve-se, por isso, relativamente na defensiva - mas não falou de imigração. "O Reino Unido vai sair da União Europeia mas quero que o processo seja o mais construtivo possível e espero que o resultado também seja o mais construtivo possível. Estamos a sair da UE mas não queremos virar as costas à Europa". "Estes países são nossos vizinhos, nossos amigos, nossos aliados, nossos parceiros e espero que mantenhamos relações o mais próximas possíveis em termos de comércio, cooperação e segurança", precisou.

Pouco antes, Nigel Farage, líder do UKIP e a voz mais feroz da campanha do Brexit, havia reiterado que quer apenas livre comércio o resto da UE, garantindo que, nesse caso, "nós seremos os vossos melhores amigos".

Perante a incerteza, vários bancos estão a ponderar sair da City, e os líderes da Bélgica, França e Irlanda também não perderam tempo: "tapete vermelho", ofereceram.
Ver comentários
Saber mais opt-out Brexit David Cameron Bruxelas Matteo Renzi Noruega Conselho Europeu Nigel Farage
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio