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Recuo de Schulz deixa Alemanha ver luz ao fundo do túnel

O presidente alemão vai reunir-se com os líderes da CDU, da CSU e do SPD na próxima quinta-feira. Martin Schulz admite viabilizar um novo governo de Merkel, que pode ganhar forma de coligação ou de mero apoio de incidência parlamentar. Militantes social-democratas terão palavra final.

Reuters
25 de Novembro de 2017 às 18:00
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Depois desta sexta-feira o céu ficou menos carregado na Alemanha, que agora vislumbra no horizonte a possibilidade de formar governo e deixar para trás o inédito bloqueio político que ameaçava levar o país a eleições antecipadas. O SPD aceita negociar com os democratas-cristãos uma solução que permita superar o actual impasse e já há data para o início das conversações.

 

De acordo com fonte governamental do gabinete do presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, a líder da CDU, Angela Merkel, o líder do partido-irmão bávaro dos democratas-cristãos (CSU), Horst Seehofer, e o líder do SPD, Martin Schulz, vão reunir-se na próxima quinta-feira.

 

O volte-face deu-se esta sexta-feira. Schulz recuou relativamente à recusa em participar, ou sequer negociar, uma solução governativa liderada pela chanceler Merkel, decisão tomada após as eleições federais de Setembro, em que o SPD obteve o pior resultado no pós-Guerra, e reiterada na segunda-feira depois do fracasso negocial para forjar a coligação Jamaica.

 

Em conferência de imprensa, o ex-presidente do Parlamento Europeu, que lembra não existir ainda qualquer garantia de acordo final, anunciou que fará depender uma eventual solução saída das conversações com a aliança CDU/CSU da aprovação dos militantes social-democratas.

 

"Nada é automático acerca da direcção que iremos seguir", avisa Schulz. E, citado pela agência Reuters, adianta que se no final das discussões a direcção do SPD decidir "participar, sob qualquer forma, na formação de um governo, iremos colocar [essa decisão] à votação dos militantes do nosso partido".

Grande coligação ou espécie de geringonça alemã?

 

Esta garantia permite concluir que Martin Schulz admite agora dois cenários de viabilização de um novo governo chefiado por Merkel: a reedição da grande coligação (CDU/CSU-SPD), que continua em funções sob a forma de governo em gestão, ou o apoio, na câmara baixa (Bundestag) do parlamento germânico, a um executivo minoritário dos democratas-cristãos que poderia, ou não, incluir também os Verdes, num acordo de incidência parlamentar que poderia assentar na garantia de aprovação de medidas-chave para a governação como o Orçamento ou num programa político conjunto de âmbito mais alargado.

 

A reviravolta na posição de Schulz decorreu da forte pressão exercida por sectores social-democratas que consideram inaceitável que o SPD possa assumir um papel desestabilizador num país que é encarado como o pilar de estabilidade no seio da Europa e da moeda única.

 

Por outro lado, vários elementos social-democratas consideram que o partido deve aproveitar o maior momento de fragilidade política de Merkel para negociar um acordo de governo em que o SPD possa capitalizar politicamente mediante a aprovação de medidas tais como o reforço da integração da Zona Euro ou o reforço do Estado Social alemão. 

 

Decisivo parece ter também sido o papel de Steinmeier, ex-ministro dos Negócios Estrangeiros de Merkel e membro do SPD (agora com pertença suspensa durante o período em que desempenhar a função de presidente) que, perante a possibilidade de eleições antecipadas, avisou que essa seria uma solução de último recurso.

 

Logo depois de os liberais terem abandonado as negociações, Steinmeier instou todas as forças com assento no Bundestag a aceitarem negociar, considerando que seria irresponsável devolver a responsabilidade aos eleitores alemães.

 

Ainda que não existam garantias de acordo, os mercados reagiram de forma positiva à perspectiva de uma solução que impeça a Alemanha de ter o seu primeiro governo minoritário desde a aprovação da actual Constituição, em 1949. Esta sexta-feira o euro terminou o dia a valorizar, atingindo o valor mais alto desde o final de Setembro.

 

Schulz enfrenta decisão complexa... e Merkel também 

 

A pressão exercida pelo presidente alemão e por importantes grupos do SPD levou Martin Schulz a um primeiro recuo, restando porém saber se esta cedência culminará na viabilização de um governo. A decisão surgiu depois de uma reunião de oito horas que terminou já noite dentro da última quinta-feira.

É impossível dissociar o pior resultado de sempre do partido da participação em duas grandes coligações com os democratas-cristãos de Merkel, sendo também difícil prever o impacto eleitoral em eleições antecipadas decorrentes da inexistência de acordo.

 

Com as sondagens a mostrarem o eleitorado germânico dividido entre quem prefere novas eleições e quem rejeita esse cenário, um estudo de opinião do instituto Kantar Emnid, publicado esta sexta-feira, revela que entre os apoiantes do SPD, 70% apoia a continuação de Schulz como líder do partido, mas em caso de eleições antecipadas esse apoio cai para 51%. Ou seja, Schulz poderá ter mais a ganhar facilitando a vida a Merkel.


Todavia, também a ainda chanceler poderá ter de tomar uma decisão difícil. Recusando demitir-se para facilitar um entendimento com liberais (FDP) e Verdes, e depois de ter dito que não lideraria um governo minoritário, preferindo eleições antecipadas para as quais se mostrou "preparada", Angela Merkel pode ter de recuar.


É que se não alcançar um consenso mínimo com Schulz para reeditar a actual grande coligação, Merkel pode ter de dar o dito por não dito e liderar um governo minoritário na composição partidária e somente maioritário em termos aritméticos como forma de assegurar o mínimo de estabilidade para governar.

Já este sábado, 25 de Novembro, a líder alemã, que nestes dois meses sempre recusou excluir a hipótese de novo acordo com o SPD, reconheceu que o cenário de novas eleições não é o mais desejado: "Pedir aos eleitores para ir a eleições outra vez seria totalmente errado," disse a membros do seu partido, citada pela Reuters.

Por outro lado, defendeu que a experiência com o SPD em oito dos 12 anos como chanceler correu bem - "trabalhámos  bem juntos", afirmou -, e sublinhou a urgência na formação de um novo governo, defendendo que é "desejável ter rapidamente um executivo em funções".

Os próximos dias serão assim decisivos para a Alemanha e também para a União Europeia. Porque como disse o primeiro-ministro português António Costa, não poderia avançar-se na reforma da Zona Euro antes das eleições germânicas. Nem, por maioria de razão, antes de haver governo em plenitude de funções na Alemanha.

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