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Liberais recusam regresso às negociações e Merkel obrigada a entender-se com Schulz

O líder dos liberais rejeita retomar as conversações com democratas-cristãos e Verdes para formar um governo maioritário, uma decisão já esperada que obriga Angela Merkel a entender-se com Martin Schulz por forma a evitar eleições antecipadas.

Reuters
22 de Novembro de 2017 às 20:16
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Aperta-se o cerco a Angela Merkel. A chanceler alemã viu esta quarta-feira, 22 de Novembro, o líder dos liberais (FDP), Christian Lindner, recusar retomar as conversações com vista à formação de uma coligação de governo com apoio maioritário na câmara baixa (Bundestag) do parlamento germânico.

 

Lindner explicou que, no "futuro próximo", não é concebível para os liberais aliarem-se aos Verdes. Na madrugada da passada segunda-feira, Lindner abandonou a mesa de negociações em que participavam a CDU de Merkel, o partido-irmão democrata-cristão da Baviera (CSU), e também os ambientalistas.

 

A aguardada confirmação feita por Lindner surge depois de ontem o líder do FDP se ter reunido com o presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, que não foi bem-sucedido no apelo, feito ainda na segunda-feira, de regresso às conversações. Lindner já justificara a impossibilidade de acordo considerando que "é melhor não governar do que governar mal". Claramente Lindner não esqueceu que depois de no segundo mandato de Merkel, em coligação com os liberais, o FDP falhou pela primeira vez a eleição para o Bundestag.

 

O social-democrata Steinmeier, que foi ministro dos Negócios Estrangeiros de Merkel, tinha apelado à "responsabilidade" dos partidos com assento parlamentar, instando-os a encontrarem uma solução que evitasse o regresso às urnas. Esse apelo incluía também o seu próprio partido (SPD), que em Setembro registou o pior resultado em eleições federais desde a Segunda Guerra.

 

Pressão sobre Schulz também se acentua

 

O actual líder social-democrata, Martin Schulz, assume agora um papel preponderante. Apesar de logo na noite eleitoral de Setembro ter rejeitado reeditar a grande coligação com os democratas-cristãos, actualmente no governo, e de ter reiterado essa posição na sequência do fracasso negocial para a coligação Jamaica (CDU-CSU/FDP/Verdes), Schulz vê aumentar a pressão, no seio do SPD, para negociar com Merkel uma coligação vantajosa para os social-democratas.

 

Depois de duas coligações com a aliança CDU-CSU, o SPD viu a sua expressão eleitoral reduzir-se para patamares nunca observados. Porém, há social-democratas que acreditam poder tirar partido do momento de maior fragilidade política experimentado por Merkel em 12 anos à frente da chancelaria.

 

Este momento de indefinição é encarado por membros do SPD como uma oportunidade para pressionar Merkel a aceitar uma maior integração na Zona Euro – tal como pretendido pelo presidente francês Emmanuel Macron – ou, no plano interno, para promover medidas de alargamento e reforço do Estado Social germânico.

 

Seeheimer Kreis, porta-voz do Seeheimer Kreis, um dos três principais grupos que compõem o SPD, disse ao jornal do partido, citado pelo Politico, que os social-democratas não devem excluir já uma nova grande coligação, antes "pesar as vantagens e desvantagens" de viabilizar um novo governo chefiado por Merkel.


Outro membro do SPD, Johannes Kahrs, pertencente a uma ala próxima do empresariado, defendeu, em declarações reproduzidas pela Bloomberg,  que o partido deve fazer depender a sua decisão da margem que tiver para garantir "as políticas que queremos implementar".

 

Antes de se reunir amanhã com o presidente Steinmeier, Martin Schulz parecia já aceitar, ou pelo menos considerar, outras opções para lá da recusa em negociar com Merkel. "O SPD está perfeitamente consciente das suas responsabilidades", disse Schulz que se mostrou seguro, em declarações à agência alemã DPA, de que será encontrada uma "boa solução".

As indicações dadas ontem pelo experiente Wolfgang Schäuble, agora presidente do Bundestag, também apontam no sentido de que a actual situação ainda é ultrapassável. O ex-ministro das Finanças considera que o impasse político não representa uma "crise de Estado" mas um "teste" ao sistema político-partidário do país. 

 

Sem acordo haverá eleições

 

Se o pedido feito por Steinmeier – "não podemos simplesmente atribuir outra vez a responsabilidade aos eleitores - não produzir efeitos, a Alemanha terá eleições por incapacidade de formar um governo maioritário, algo que nunca aconteceu desde a aprovação da Constituição, em 1949.

 

Na segunda-feira, depois de falar com o presidente, Merkel mostrou-se indisponível para governar em minoria, cenário também nunca experimentado na Alemanha pós-Guerra.

 

Com congresso do SPD marcado para daqui a duas semanas, desconhece-se se Martin Schulz tentará manter-se como líder do partido ou se abrirá caminho a nova liderança.

 

O Guardian nota que o jornal alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung escreve que a única forma de o ex-presidente do Parlamento Europeu salvar a sua posição é acordar uma nova grande coligação com a chanceler. "[Schulz] podia mostrar ao FDP o que significa assumir responsabilidades", sustenta aquele jornal.

 

Se não houver acordo, torna-se quase certa a realização de eleições antecipadas na próxima Primavera. Nesse caso, a Alemanha continuaria a ser governada pela actual coligação num governo de gestão ao qual a Constituição germânica não tolhe os principais poderes, pelo que a maior economia europeia continuaria com o essencial da governação assegurado. Contudo, dificilmente Merkel teria condições políticas para acompanhar a agenda reformista proposta por Macron.

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