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Primeiro-ministro turco reúne-se com Erdogan para renunciar a formar governo

O falhanço das negociações com os nacionalistas deita por terra a esperança de formação de uma coligação de governo. Davutoglu deverá comunicar a Erdogan a renúncia à formação de governo abrindo caminho a eleições antecipadas.

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18 de Agosto de 2015 às 14:06
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O ainda primeiro-ministro da Turquia, Ahmet Davutoglu, revelou ter esgotado todas as possibilidades tendo em vista a formação de uma coligação de governo, pelo que irá reunir-se ainda esta terça-feira, 18 de Agosto, com o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, para formalizar a devolução do mandato atribuído por este na sequência das eleições de Junho.

 

A decisão de Davutoglu surge depois de ontem os nacionalistas do Partido de Acção Nacionalista (MHP) terem rejeitado formar uma coligação com o Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP), e terem também negado o apoio parlamentar a um governo de minoria do partido dos actuais primeiro-ministro e presidente da Turquia. O AKP perdeu a maioria parlamentar nas legislativas de Junho, resultado que apesar de ter permitido a Erdogan endossar a Davutoglu um mandato para a formação de governo, acabou por culminar num impasse político-partidário.

 

Assim, após a reunião de hoje, Erdogan deverá ser forçado a formar um governo provisório de iniciativa presidencial, que deverá suceder ao actual governo que se mantém em funções desde Junho de forma interina. Como tal, deverão ser convocadas eleições antecipadas já para o próximo mês de Setembro ou, o mais tardar, para o início de Outubro.

 

Depois de falhadas as negociações entre o AKP e o MHP, o ainda primeiro-ministro turco asseverou ter "tentado todas as opções possíveis com os partidos da oposição", admitindo, porém, que não foi possível encontrar bases comuns que permitissem desbloquear o impasse político que, nas últimas semanas, tem contribuído para o agravar das condições económicas do país, dada a incerteza provocada pela expectativa de novas eleições, o que tem penalizado a lira turca

Convocação de novas eleições deverá ser o próximo passo

 

As eleições de 7 de Junho ditaram que o AKP do presidente Erdogan se visse incapaz, pela primeira vez desde 2002, de formar governo sozinho. O principal responsável pela perda da maioria absoluta do AKP foi o Partido Democrático do Povo (HDP). O HDP tornou-se no primeiro partido pró-curdo a conseguir ultrapassar a fasquia mínima de 10% que garante a entrada no parlamento da Turquia. Tanto o HDP como os nacionalistas do MHP elegeram 80 deputados.

 

E apesar de o Partido Republicano do Povo (CHP) ter assegurado 132 assentos parlamentares, dificilmente conseguirá reunir o apoio simultâneo do HDP e do MHP, que seria necessário para garantir uma maioria absoluta. Eleições antecipadas surgem como cenário altamente provável.

 

A BBC nota que as sondagens mais recentes mostram que o AKP de Erdogan e de Davutoglu, que em Junho alcançou quase 41% dos votos, está agora a subir nas intenções de voto que lhe atribuem uma votação superior àquela alcançada há cerca de dois meses.

 

A confirmar-se o, assim, provável cenário de eleições antecipadas, e tendo em conta as últimas sondagens, o AKP poderá agora alcançar a pretendida maioria absoluta. A contribuir para a melhoria nas intenções de voto do AKP está a quebra do HDP, isto depois de Ancara ter decretado há poucas semanas uma "luta indiscriminada contra o terrorismo".

 

Com este anúncio, as autoridades turcas resolveram assumir finalmente uma posição de força no conflito contra o autoproclamado  Estado Islâmico (EI), integrando, de forma efectiva, a coligação internacional, liderada pelos Estados Unidos, que combate este grupo extremista sunita na Síria e no Iraque. As forças do EI controlam há meses vários territórios junto à fronteira síria com a Turquia. No entanto, a guerra decretada contra o terror inclui também um embate contra o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), que Ancara continua a classificar de "organização terrorista".

 

A comunidade curda, tanto no Curdistão iraquiano como no Curdistão turco, tem sido a força que, no terreno, tem conseguido impor recuos ao EI ao longo dos já longos meses de combates. No entanto, o ataque ao PKK incorpora uma retórica anti-curda que está a penalizar o HDP, partido que apesar da sua génese pró-curda aquando da formação no Verão de 2012, se transformou numa força política pós-curda e de âmbito nacional, assumindo a defesa do fim das discriminações religiosas e étnicas elementos-chave da sua acção política.

 

O HDP surgiu assim em contracorrente face aos objectivos de Erdogan. O presidente da República turca, que tem reforçado o carácter islamita do Estado turco, pretende que o AKP obtenha uma maioria absoluta parlamentar que permita alterar a constituição no sentido da criação de um regime presidencialista.

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