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Chávez financiou Podemos com 7 milhões para criar força bolivariana em Espanha

A intenção do antigo presidente da Venezuela de criar uma força política bolivariana em Espanha contribuiu para a germinação do Podemos. Hugo Chávez investiu 7 milhões de euros neste projecto político.

Reuters
05 de Abril de 2016 às 13:25
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O Governo venezuelano liderado pelo então presidente Hugo Chávez investiu mais de 7 milhões de euros num projecto político que tinha como objectivo criar uma força bolivariana em Espanha. E o Podemos terá sido o resultado final do plano de alargamento do "chavismo" a Espanha, dado que o agora falecido Chávez pretendia mesmo criar um novo partido naquele país.

 

De acordo com uma investigação conduzida pelo jornal espanhol ABC, noticiada esta terça-feira, 5 de Abril, que teve acesso a documentos oficiais do Governo venezuelano datados de 2008, o então ministro das Finanças de Chávez, Rafael Isea, comunicava nesse ano ao presidente o andamento do plano. O financiamento da Fundação CEPS (Fundación del Centro de Estudios Políticos y Sociales), "permitirá estreitar laços e compromissos com reconhecidos representantes de escolas de pensamento de esquerda, fundamentalmente anticapitalistas, que possam criar em Espanha consensos de forças políticas e movimentos sociais, propiciando nesse país mudanças políticas ainda mais tendentes ao governo bolivariano".

 

A CEPS, bem como o movimento dos Indignados, esteve na génese da criação oficial do Podemos no início de 2014, uma fundação pela qual passaram algumas das principais figuras deste partido de extrema-esquerda, entre elas os actuais números um e dois Pablo Iglesias e Íñigo Errejón, respectivamente. Recorde-se que a CEPS teve presença na Venezuela até ao ano de 2012.

 

Nestes documentos, o ministro solicitava ao presidente Chávez a aprovação da dotação de recursos à CEPS para o período 2008-2010 com Isea a explicar que a assessoria dada por esta fundação ao Governo da Venezuela, prestação de serviços iniciada em 2003, tinha permitido "promover os conceitos de emancipação popular, consciência anticapitalista e controlo social".


O ministro informava ainda Chávez de que "nesses anos" (2003-2007) haviam já sido investidos quase 2,7 milhões de euros na satisfação das necessidades da CEPS, pedindo então a aprovação de mais 1,65 milhões de euros para 2008 e 2,8 milhões de euros adicionais para o período 2009-2011, num financiamento total que alcançou os 7.168.090 euros. Ora, este montante é bem superior aos 3,7 milhões de euros que a CEPS, segundo a própria fundação, referia ter recebido do Estado venezuelano.

 

Ainda segundo avançou esta terça-feira o ABC, ao longo dos quase 10 anos de assessoria política prestada pela CEPS ao Governo venezuelano, cada assessor terá recebido cerca de 7 mil euros mensais pelo apoio prestado ao regime de Chávez. A intenção passava por perpetuar o "chavismo", nota o ABC que cita ainda uma das estratégias delineadas pela CEPS em que eram sugeridos "passos significativos para a construção de uma nova narrativa hegemónica socialista".

 

Iglesias, um simpatizante do "chavismo"

 

Os documentos hoje divulgados pelo ABC parecem confirmar que os primeiros passos para a criação do Podemos, que nas eleições gerais espanholas de 20 de Dezembro último ascendeu ao lugar de terceira maior força política em Espanha, remonta a um período muito anterior ao do registo oficial da sua constituição enquanto partido, há pouco mais de dois anos.

 

A CEPS permitiu assim germinar as ideias que estariam na base do movimento Podemos, criado a partir da mobilização dos Indignados que ocuparam as Portas do Sol, em Madrid, a partir do dia 15 de Maio de 2011. Iglesias era então um professor de Ciência Política com uma presença crescente nos meios digitais e redes sociais e um claro defensor do marxismo. O actual líder do Podemos afirmava sem qualquer problema a simpatia pelo "chavismo", tendo mesmo chegado, no auge do regime de Chávez, a afirmar ter "inveja dos espanhóis que vivem na Venezuela, um exemplo democrático". Ainda assim, Pablo iglesias garantia não ser adepto do "bolivarianismo".

 

Entretanto, o jornal El Confidencial adianta que estes documentos oficiais divulgados pelo ABC serão incorporados na investigação do fisco espanhol ao alegado financiamento ilegal do Podemos, uma investigação que partiu da informação anteriormente noticiada de que a actividade política inicial do partido de extrema-esquerda terá sido financiada com pelo menos 5 milhões de euros provenientes dos regimes do Irão e da Venezuela. Mas, afinal, os valores terão sido bem superiores. 

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