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Negociações a três acabam após primeira reunião e deixam Espanha perto de eleições
O Podemos chegou à primeira reunião conjunta com PSOE e Cidadãos com uma contraproposta de 20 medidas que arrasou as poucas possibilidades de um acordo entre estas três forças políticas. Espanha ficou ainda mais perto de novas eleições.
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A primeira reunião a três entre o PSOE, o Podemos e o Cidadãos, realizada na passada quinta-feira, não permitiu ultrapassar o bloqueio político que impede o Congresso (equivalente à Assembleia da República) espanhol saído das eleições de 20 de Dezembro de formar Governo. Antes pelo contrário, parece ter confirmado a impossibilidade de um acordo entre estas três forças políticas, reforçando o cenário de novas eleições gerais já em Junho.
Depois de ter faltado à conferência de imprensa agendada para depois do encontro que terminou ao início da noite de ontem, esta sexta-feira, 8 de Abril, o secretário-geral do Podemos, Pablo Iglesias, tentou encostar os socialistas à direita dizendo que o PSOE quer um "Governo de [Albert] Rivera presidido por [Pedro] Sánchez".
Confrontado com a garantia dada pelo líder socialista, Pedro Sánchez, de que o pacto firmado com o Cidadãos de Albert Rivera seria a base para um eventual acordo que inclua o Podemos, Pablo Iglesias chegou à reunião de ontem com uma contraproposta de 20 medidas que, ao invés das concessões anunciadas, mantém o essencial das anteriores propostas do partido e que o Cidadãos rejeita liminarmente. Isso mesmo foi criticado por Rivera.
Podemos confirma lo que se esperaba: quería dinamitar el #AcuerdoReformas y vuelve a pedir la mitad del gobierno con apoyo de separatistas.
— Albert Rivera (@Albert_Rivera) 7 de abril de 2016
Já esta manhã, Pablo Iglesias lamentou que "o Cidadãos [diga] que jamais apoiará um Governo em que esteja o Podemos". Com o líder do Podemos a insistir na tentativa de obtenção do suporte do Cidadãos a um Governo das esquerdas – PSOE, Podemos e a Esquerda Unida (IU, pró-comunista), isto apesar de saber que a intenção de PSOE e Cidadãos passa por tentar garantir o apoio parlamentar do Podemos ao acordo assinado entre Sánchez e Rivera.
Pablo Iglesias prosseguiu lamentando que Sánchez e Rivera não estejam "dispostos a ceder em praticamente nada" e defendendo que "seria muito triste que não houvesse em Espanha um Governo progressista quando existe uma maioria para tal". Ainda assim, Iglesias anunciou que o Podemos irá consultar as bases do partido num referendo interno em que serão colocadas duas perguntas citadas pelo El País: "Queres um Governo assente no pacto Rivera-Sánchez?" e "Estás de acordo com a proposta para um Governo de mudança defendida pelo Podemos, En Comú Podem e En Marea (duas confluências regionais do Podemos)?".
O El Mundo escreve que o líder do Podemos está apenas a simular uma espécie de referendo "cujo resultado pode prever-se de antemão", assim tentando afirmar-se como verdadeiro líder da esquerda espanhola ao mesmo tempo que empurra PedroSánchez para a direita, numa espécie de slogan antecipado para as cada vez mais prováveis eleições gerais que, a acontecer, deverão ter lugar a 26 de Junho. O número dois do Podemos, Íñigo Errejón, avisou hoje que "não estamos de acordo com o pacto Sánchez-Rivera. Se a oferta é a mesma, vamos votar da mesma maneira". Ou seja, vão votar contra a investidura do líder socialista como primeiro-ministro, tal como fizeram nas duas tentativas de investidura falhadas.
No fundo, o acordo a três defendido pelos socialistas – que o porta-voz do PSOE, Antonio Hernando – disse ontem "ainda ser possível apesar de difícil", permitiria ao secretário-geral socialista surgir no centro político como mediador de um acordo das forças de "mudança" capaz de superar o impasse político em Espanha.
O socialista Hernando explicava ontem que a via dos 161 deputados (PSOE, Podemos, IU, Compromís) "não é possível, que a via dos 130 (PSOE e Cidadãos) "também não", notando que "só resta a via 199, a do grande acordo transversal" entre PSOE, Podemos e Cidadãos. Possibilidade cada vez mais distante. Porque se o Podemos rejeita o acordo PSOE-Cidadãos, o Cidadãos também recusa apoiar o pretendido Governo PSOE-Podemos.
Cidadãos põe fim às negociações a três
Logo à saída do encontro de ontem, o porta-voz do Cidadãos, José Manuel Villegas, sublinhava a distância que separa o seu partido do Podemos, mas deixava em aberto a possibilidade de as conversações a três prosseguirem. Contudo, esta manhã Alberto Rivera avisou que "não haverá mais negociações a três se o Podemos não mudar de postura".
Isto porque Pablo Iglesias chegou à reunião de ontem reafirmando a intenção do Podemos que passa por garantir o direito à autodeterminação e pela insistência na formação de um Governo das esquerdas. As 20 medidas apresentadas poucas mudanças trouxeram ao programa do Podemos, consistindo essencialmente em pequenos retoques.
O prazo para a formação de Governo termina no dia 2 de Maio, pelo que o expectável revés na possibilidade de um acordo PSOE-Podemos-Cidadãos deixou Espanha ainda mais próxima de novas eleições gerais. Possibilidade que o PSOE quer evitar por considerar que só Mariano Rajoy, presidente do PP e primeiro-ministro ainda em funções, poderá beneficiar de tal situação.
Mas esta não parece uma posição unânime no sei do PSOE, com o antigo líder socialista e ex-primeiro-ministro, José Luis Zapatero, um homem próximo de Susana Díaz, presidente da Andaluzia e aspirante à liderança do PSOE, a ver com bons olhos a hipótese de novas eleições: "Não vou dizer que seria horrível não formar Governo".