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Trichet: "Se os países não corrigirem os desequilíbrios, teremos problemas graves no futuro" (act.)

O antigo governador do BCE e presidente honorário do Banco de França diz que as políticas dos bancos centrais apenas estão a "comprar tempo" para que os governos "corrijam os desequilíbrios". Se isso não acontecer, "teremos problemas graves no futuro".

21 de Janeiro de 2014 às 09:19
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O antigo governador do BCE e presidente honorário do Banco de França diz que as políticas dos bancos centrais apenas estão a "comprar tempo" para que os governos "corrijam os desequilíbrios". Se isso não acontecer, "teremos problemas graves no futuro".

 

Para o antigo presidente do Banco Central Europeu é "ingénuo pensar que já saímos das águas turbulentas em que entrámos em 2007". "Os países desenvolvidos ainda têm muitos problemas. Problemas que temos de resolver com determinação", defendeu Jean-Claude Trichet na conferência anual "Risco País" organizada pela seguradora de créditos francesa Coface

O que os bancos centrais estão a fazer é dar tempo aos países para corrigirem as imperfeições. Se isso não for feito, seremos colocados numa situação muito difícil no futuro.
 
Jean-Claude Trichet

(Compagnie Française d'Assurance pour le Commerce Extérieur) que está a decorrer em Paris. 

 

Jean-Claude Trichet falou sobre a crise financeira que teve início em 2007, sobre as suas causas, impactos e (possíveis) soluções. "Como causas, identifiquei a sofisticação dos mercados, a falta de transparência em mercados cada vez mais interligados e a alavancagem excessiva, tanto no sector público, como no sector privado", começou por dizer o antigo líder do banco central da Zona Euro, para quem alguns erros não têm perdão, como a "falsa tranquilidade e a crença ingénua na perfeição dos mercados". "A alavancagem excessiva estava aos olhos de todos", recorda Trichet.

 

Seis anos passados desde o início da crise, Jean-Claude Trichet considera que os bancos centrais tiveram um papel crucial na sua resolução. "Todos fizeram o possível para dar liquidez ao sistema financeiro com maturidades entre 24 horas e três anos", refere o presidente do BCE. "Olhando para as economias desenvolvidas, temos bancos centrais comprometidos com medidas que não constavam dos manuais. (...) O que os bancos centrais estão a fazer é dar tempo aos países para corrigirem as imperfeições. Se isso não for feito, seremos colocados numa situação muito difícil no futuro", alerta Jean-Claude Trichet.  

 
As três fases da crise financeira, segundo Jean Claude Trichet
Fase 1. De Agosto de 2007 a 15 de Setembro de 2008
"Foi um período de grande turbulência financeira, com epicentro nos Estados Unidos mas que afectou todos os países. Para os bancos centrais, foi o início de uma intervenção mais intensa. Deu-se liquidez ilimitada, desde que fosse apresentado um colateral. [Os bancos centrais] ajudaram a aliviar a situação, porque a crise congelou os mercados".
 
Fase 2 Falência do Lehman Brothers (15 de Setembro de 2008) 

"Poucas pessoas assistiram ao desmoronamento do baralho de cartas que era o sistema financeiro. Evitámos [bancos centrais] o colapso do sistema financeiro e uma depreciação séria que, na minha opinião, poderia ter sido pior do que a de 1929 devido às ligações entre os mercados globais.

 

Era uma crise muito séria. Se não tivesse havido uma reacção rápida, teríamos assistido à materialização de riscos graves. Os bancos centrais e os Governos foram muito audazes.

 

Quando o Lehman Brothers faliu, avaliámos os riscos de um colapso do sistema financeiro mundial. O tempo que demora  a preparar mecanismos de emergência teve de ser reduzido a poucas horas. Nem podemos imaginar o que teria acontecido se tivéssemos demorado, por exemplo, duas semanas. Conseguimos evitar algo que teria sido muito dramático". 

 

Fase 3 Crise das dívidas soberanas

“'Em 2009, em Basileia, apontaram-me o dedo: Jean-Claude, agora é a vossa vez'. Investidores de todo o mundo questionavam a sustentabilidade orçamental dos países desenvolvidos. A crise chegou à Europa, a países como a Irlanda, Grécia e Portugal, os países desenvolvidos mais vulneráveis. Algumas das economias mais vulneráveis eram europeias porque não cumprimos o Pacto de Estabilidade e Crescimento (PEC) - elemento crucial já que não tínhamos um orçamento federal.

 

Só cumprindo o PEC era possível ter uma moeda única. Em 2003, quando fui nomeado presidente do BCE havia a ideia entre os governantes de que o PEC não se devia aplicar. Mas é crucial cumprir as regras de sustentabilidade orçamental. Não tivémos o cuidado de monitorizar a evolução da competitividade dos países [da Zona Euro].

 

Além disso, não tínhamos mecanismos de segurança e emergência. Criou-se uma divergência entre países com bom crédito e mau crédito. Por estas razões, estavam na Zona Euro alguns dos países desenvolvidos mais vulneráveis". 

*O jornalista em Paris a convite da Coface 

 

(Notícia actualizada às 12h06)

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