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Passos diz que houve suicídios por falta de apoio psicológico após incêndios

O presidente do PSD diz ter tido conhecimento de que "pessoas em desespero se suicidaram" na sequência dos danos provocados pelo incêndio de Pedrógão Grande. Passos avisa que "ninguém me convencerá de que não há responsabilidades a atribuir por isto".

Miguel Baltazar/Negócios
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Pedro Passos Coelho teceu esta segunda-feira, 26 de Junho, duras críticas às "falhas" do Estado na gestão, durante e após, o incêndio de Pedrógão Grande. De visita ao quartel de bombeiros de Castanheira de Pêra, distrito de Leiria, o presidente do PSD começou por reiterar a necessidade de ser feita "uma avaliação do que é que se passou para podermos estar seguros das conclusões a que vamos chegar".

 

De seguida, o líder social-democrata apontou uma falha concreta do Estado, dizendo ter "tomado conhecimento" de pessoas que "puseram termo à vida" por não terem recebido o devido apoio psicológico na sequência dos incêndios.

 

Houve "vítimas indirectas deste processo que, em desespero, se suicidaram e que não receberam em tempo o apoio psicológico que devia ter existido", afirmou Passos em declarações feitas aos jornalistas presentes.

 

"Isso ainda hoje se passa e tem havido dificuldade em que esse apoio seja prestado", prosseguiu Passos Coelho que admite que existe no terreno "apoio solidário da sociedade civil" mas que "não é apoio do Estado".

 

Por isso, o ex-primeiro-ministro avisa já que "ninguém me convencerá de que não há responsabilidades a atribuir por isto".

 

Contactada pelo Negócios, fonte oficial da Segurança Social, no terreno desde a semana passada, afiança "não ter conhecimento" de qualquer suicídio e realça que além do apoio psicológico providenciado por elementos das IPSS, da Cruz Vermelha e do INEM há também muitos voluntários que vão juntando esforços para apoiar psicologicamente as vítimas do incêndio. Esta segunda-feira o Diário de Notícias reporta que, no domingo, havia já um grupo "a crescer todos os dias" de 300 técnicos a prestar apoio psicológico.

Costa rejeita entrar em "debate com o líder da oposição"

A resposta do Governo não tardou. O primeiro-ministro, António Costa, em declarações feitas no Barreiro, questionado sobre as afirmações de Passos Coelho, admitiu que "quando temos uma tragédia com a dimensão que tivemos todos temos falta de meios". "Tenho a certeza que todos os órgãos de comunicação social tiveram falta de meios para conseguir fazer cobertura completa, tal a dispersão, tal a intensidade, tal a diversidade" de acontecimentos, defendeu António Costa que frisa que "todos os meios disponíveis estão a ser deslocados" para "respondermos da melhor maneira".

Costa disse ainda que o Governo percebeu que era "tão importante acorrer à emergência como responder aos danos que se vão prolongar", quer materiais quer psicológicos. Considerando que "o apoio psicológico é crucial", o primeiro-ministro assegura que "os recursos estão a ser mobilizados". 

Ainda em reacção às declarações de Passos, António Costa rejeita entrar "em debate com o líder da oposição" porque "o que os portugueses esperam do Governo é que se empenhe para esclarecer, contribuir para a reconstrução e a normalidade daquelas populações".

"Não vou contribuir para a polémica", remata António Costa que pede prudência. "Acho que devemos ser todos muito prudentes na produção de afirmações e daquilo que noticiamos", disse dando como exemplo as notícias que davam conta de um avião que tinha caído e, afinal, não tinha. "Temos de ter muita prudência e muita seriedade", insistiu António Costa identificando como único dever "criar condições para esclarecermos tudo".

Autarca diz que alegados suicídios são "boatos"

Antes, já o ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, que Costa diz estar "a acompanhar a situação", tinha assegurado ter conhecimento de que "foram já feitos neste processo mais de 840 atendimentos pelas diferentes equipas de psicologia", tendo adiantado também que "a Administração Regional de Saúde (ARS) está a rever o que foi feito".


Governo assegura apoio de psicólogos para as populações afectadas pelos incêndios
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O ministro da Saúde assegurou hoje, em Sintra, que vai ser prestado apoio psicológico às populações afectadas pelos incêndios na região Centro, além dos 840 atendimentos já efectuados, bem como outros tipos de cuidados de saúde.


Campos Fernandes respondia assim a uma crítica feita esta manhã pelo presidente da câmara de Pedrógão Grande, Valdemar Alves, que, citado pela agência Lusa, garantia que o único apoio psicológico visível no terreno estava a ser providenciado pelos fuzileiros. 

"Neste momento, temos o apoio psicossocial dos fuzileiros que a câmara municipal, juntamente com a presidente da Comissão de Coordenação Regional do Centro (CCDRC), Ana Abrunhosa, resolveu pedir. Os fuzileiros da Armada Portuguesa vão ficar até quarta-feira. Mas penso que é capaz de não chegar", declarou o autarca citado pela Lusa.

Já em reacção à revelação feita esta manhã por Passos Coelho, Valdemar Alves, questionado pela RTP sobre a existência de veracidade no alegado suicídio de pessoas afectadas pela tragédia de Pedrógão Grande, garante que "há, sim, é boatos""O que peço às pessoas é que não aceitem. Corram com os boateiros, porque efectivamente, graças a Deus, não há confirmação nenhuma de suicídios", atirou o edil.

 

Passos exige mecanismo que suprima falha do Estado


Numa altura em que Comissão Independente, pedida pelo PSD para avaliar a forma como as diversas entidades lidaram com o incêndio de Pedrógão, está ainda por criar, Passos Coelho mostra-se seguro de que não será preciso "nenhum estudo para saber que o Estado falhou e, 10 dias depois, ainda está a falhar".

 

Para Passos "há uma responsabilidade objectiva do Estado" nesta "tragédia sem precedente". E apesar de não pretender "estar a antecipar conclusões", o presidente do PSD exige que o Governo aprove "alguma coisa" no sentido de garantir que não voltarão a ser verificadas as falhas que o líder social-democrata apontou.

 

"Continuo a aguardar que o Governo possa de uma forma muito rápida criar um mecanismo" que permita ressarcir as famílias das vítimas, até por forma a não obrigar essas pessoas a avançarem para tribunal em litigância contra o Estado.

 

Se o Governo não se apressar a "pôr cobro a este vazio que ainda se sente", Passos promete que será o PSD a apresentar no Parlamento uma alternativa legislativa.

Entretanto, e depois de a ARS já ter desmentido a existência de suicídios, o Expresso cita uma fonte do PSD que revelou que ao longo desta manhã a comitiva social-democrata liderada por Passos ouviu "várias pessoas, em vários locais" a fazer referência a suicídios relacionados com o incêndio de Pedrógão. "Ele não inventou suicídios, falou naquilo que as pessoas lhe contaram", acrescentou a mesma fonte ao Expresso pese embora admita que nem Passos nem nenhum elemento do seu staff confirmou a informação recolhida no terreno.


(Notícia actualizada pela última vez às 14:20)

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