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Suicídios: Provedor da Santa Casa de Pedrógão diz ter induzido Passos em erro
Afinal, não se confirma nenhum suicídio na sequência dos incêndios de Pedrógão Grande. O provedor da Santa Casa diz ter sido ele a induzir o líder social-democrata em erro.
Paulo Zacarias Gomes
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David Santiago
dsantiago@negocios.pt
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Sara Antunes
saraantunes@negocios.pt
26 de Junho de 2017 às 16:47
O provedor da Santa Casa da Misericórdia de Pedrógão Grande assumiu ter induzido Pedro Passos Coelho em erro ao dar conta da existência de suicídios por falta de apoio psicológico na sequência dos incêndios da semana passada.
Em causa estão as declarações do antigo primeiro-ministro aos jornalistas, ao final da manhã desta segunda-feira, 26 de Junho, em que dizia ter "tomado conhecimento" de pessoas que "puseram termo à vida" por não terem recebido o devido apoio psicológico na sequência dos incêndios.
Houve "vítimas indirectas deste processo que, em desespero, se suicidaram e que não receberam em tempo o apoio psicológico que devia ter existido", afirmou Passos em visita ao quartel de bombeiros de Castanheira de Pêra, distrito de Leiria.
"Isso ainda hoje se passa e tem havido dificuldade em que esse apoio seja prestado", prosseguiu o líder social-democrata, admitindo que existe no terreno "apoio solidário da sociedade civil" mas que "não é apoio do Estado".
Ao Negócios, fonte da Segurança Social no terreno já tinha dito desconhecer casos de pessoas que teriam posto fim à vida na sequência do desastre. Também a Administração Regional de Saúde negou ter conhecimento desse facto.
O provedor reconhece a existência de "duas ou três tentativas de suicídio". "Mas, suicídios mesmo, isso é boato", acrescenta, pegando na mesma expressão com que, horas antes, o presidente da Câmara local, Valdemar Alves, tinha classificado a situação.
"Há, sim, é boatos. (...) O que peço às pessoas é que não aceitem. Corram com os boateiros, porque efectivamente, graças a Deus, não há confirmação nenhuma de suicídios", disse o autarca.
"Acho que devemos ser todos muito prudentes na produção de afirmações e daquilo que noticiamos", disse dando como exemplo as notícias que davam conta de um avião que tinha caído e, afinal, não tinha. "Temos de ter muita prudência e muita seriedade", insistiu depois António Costa, identificando como único dever "criar condições para esclarecermos tudo".
João Marques é candidato à câmara por Pedrógão
Como relata a Lusa, às 10:30, João Marques alertou o líder do PSD, Passos Coelho, na vila sede do concelho, sobre o caso de suicídio, "com base na informação" que lhe tinha sido dada em Vila Facaia.
"Por volta das 15:00", acabou por saber que a informação que lhe tinha sido dada estava "errada", pedindo "desculpas" a Passos Coelho e "à própria pessoa" que supostamente se teria suicidado.
"Tomámos a notícia como verdadeira. Devíamos ter confirmado", admitiu o também ex-presidente do município durante quatro mandatos.
João Marques foi líder do executivo de Pedrógão Grande (distrito de Leiria) pelo PSD de 1997 até 2013, altura em que não se pôde recandidatar devido à lei de limitação de mandatos.
Em 2013, Valdemar Alves foi eleito presidente da autarquia, como independente, nas listas do PSD.
Quando se esperava uma recandidatura de Valdemar Alves pelo PSD, a concelhia liderada por João Marques aprovou o nome deste antigo presidente da Câmara como candidato social-democrata à autarquia.
Após esta decisão, Valdemar Alves tornou-se candidato independente pelo PS às eleições de outubro.
O presidente do PSD, Pedro Passos Coelho, disse hoje que o Estado falhou no apoio psicológico às vítimas do incêndio que começou em Pedrógão Grande, adiantando ter tido conhecimento de que um suicídio ocorreu por falta desse apoio.
"Tenho conhecimento de vítimas indiretas deste processo, de pessoas que puseram termo à vida, em desespero", sinal de que "não receberam a tempo o apoio psicológico que lhes devia ter sido prestado", declarou o líder dos sociais-democratas aos jornalistas, após uma visita ao quartel dos bombeiros de Castanheira de Pera.
À agência Lusa, pouco depois, o presidente da Administração Regional de Saúde do Centro (ARSC), José Tereso, disse que não há, até hoje, "nenhum caso de suicídio com ligação" direta à zona afetada pelo incêndio que começou em Pedrógão Grande.