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Draghi: Mundo precisa de melhor coordenação de políticas
O presidente do BCE apelou a uma melhor coordenação de políticas entre bancos centrais para fazer face aos muitos desafios que a economia mundial enfrente. Draghi passou ao lado do Brexit, o último desses desafios.
O mundo está a pedir demais da política monetária de cada país ou região no mundo avançado. Tal como na Zona Euro é preciso um melhor equilíbrio entre a política orçamental, as reformas estruturais e os estímulos do BCE, o mundo como um todo também precisa de coordenar melhor as suas políticas entre bancos centrais, mas não só. O apelo de Mario Draghi, o presidente do BCE, e que chega apenas cinco dias depois do Brexit acrescentar mais um desafio à economia europeia e mundial.
"Num mundo globalizado, o 'mix' de política global interessa - e provavelmente interessará cada vez mais à medida que as nossas economias se tornam mais integradas. Por isso temos de pensar não só sobre se as nossas políticas monetárias são apropriadas, mas se estão alinhadas convenientemente entre jurisdições", afirmou Mario Draghi, no 3º Fórum do BCE que está a decorrer em Sintra, no qual defendeu "a necessidade de alinhar políticas".
Mario Draghi falou na abertura do primeiro dia de trabalhos completos do encontro anual organizado pelo BCE em Sintra, que junta banqueiros centrais e académicos para reflectir sobre os desafios da banca central. O tema deste ano é a arquitectura financeira e monetária internacional, explorando as políticas de cada banco central e o potencial de coordenação.
O encontro deste ano fica marcado pelas ondas de choque que se continuam a fazer sentir da decisão britânica de sair da União Europeia. As bolsas britânica e europeias tem estado em terreno negativo, lideradas pelo sector financeiro, e a libra desvalorizou cerca de 14% para um mínimo de 30 anos, tendo entretanto recuperado. Janet Yellen e Mark Carney cancelaram a sua vinda a Sintra para gerirem a turbulências nas respectivas sedes, e evitando assim falar em público num momento em que ainda se está a fazer balanço do Brexit.
O tema passou ao lado da intervenção de Draghi que, até agora, descreveu os desenvolvimentos dos últimos dias apenas como tristes. Uma coisa é clara, trata-se de mais um desafio que se junta aos muitos que a economia global enfrenta, e que o Presidente do BCE descreveu com algum detalhe na sua intervenção em que reclamou uma maior coordenação das políticas.
Para Mario Draghi a recuperação lenta e a inflação teimosamente baixa nas economias avançadas, resultam de menos investimento, de um abrandamento da produtividade a nível global, do envelhecimento populacional e da queda de preços de matérias-primas. Neste contexto, explicou, os bancos centrais, e o BCE em particular, estão a ser forçados a aplicar estímulos cada vez mais fortes - taxas de juro zero, compras de dívida pública, taxas de depósitos negativas, entre outros - para tentarem cumprir o seu mandato de inflação. Ora isso gera inevitavelmente riscos para a estabilidade financeira, desde a acumulação de mais dívida privada, a possível concorrência cambial entre países, até bolhas em alguns activos. Além disso, acrescentou, as economias dos mercados emergentes, que pesam cada vez mais na economia mundial, estão a abrandar e estão ameaçados por riscos de saída de capitais.
Perante tantos riscos, Draghi não tem dúvidas: "podemos não precisar de uma coordenação formal de políticas. Mas podemos beneficiar de um alinhamento de políticas", defendeu, concretizando: "o que quero dizer por alinhamento é um diagnóstico partilhado das causas dos desafios que nos afectam a todos; e um compromisso partilhado para encontrar as nossas políticas domésticas para esse diagnóstico".
O apelo do Presidente do BCE centrou-se na actividade dos bancos centrais, mas lembrou também as que as outras políticas nacionais fazem diferença: "Políticas orçamentais, macro-prudenciais, regulatórios e de supervisão podem ajudar a mitigar os efeitos adversos da política monetária estrangeira na estabilidade financeira doméstica", defendeu, recuando a 2013, quando o anúncio da Fed de que planeava começar a subir juros gerou ondas de choque muito diferentes em várias economias emergentes.