Notícia
Draghi lança debate em Sintra sobre crescer no pós-crise
Numa altura em que já se afinam argumentos sobre a melhores estratégias para os bancos centrais reverterem os estímulos anti-crise, o 4.º Fórum do BCE reúne em Sintra banqueiros centrais e economistas para debater o investimento, inovação e crescimento.
Está a chegar o momento de deixar de pensar na crise, e de preparar o regresso à normalidade. Nas economias avançadas acredita-se que o pior já passou: o crescimento está a voltar lentamente, o emprego também, enquanto a inflação recupera, aos poucos, para o objectivo de 2% aceite pela maioria dos bancos centrais. Os bancos centrais estão, por isso, a reposicionar-se: a Reserva Federal subiu juros no final de 2016 e em 2017, o Banco de Inglaterra sinaliza que o poderá fazer este ano, e provavelmente já o teria feito não fosse o Brexit, enquanto o BCE se prepara para esclarecer a sua estratégia de normalização da política monetária depois do Verão. Entre as economias avançadas apenas o Japão, ainda a lutar com inflação próxima de zero, prevê manter o seu programa de compra de activos a todo gás.
Todos sabem que há ainda muitos problemas herdados da crise para resolver, com destaque para o elevado endividamento e desemprego e bancos ainda frágeis e, em alguns países, cheios de malparado, mas há no ar um sentimento positivo: a crise estará para trás. No entanto, se assim é, porque são tão contidos os suspiros de alívio?
A resposta encontra-se numa dúvida que pende sobre a economias avançadas: e se, daqui para a frente, devido à crise, à falta de investimento e ao desemprego, mas também por causa do envelhecimento, da pouca tracção da inovação a criar riqueza, do aumento da desigualdade e outras transformações geradas pelos avanços tecnológicos, o crescimento da produtividade e das economias for demasiado baixo para satisfazer as aspirações dos cidadãos?
Este é um risco real: as taxas médias de crescimento das economias avançadas nas últimas décadas têm vindo a cair, e o mesmo se passa com o aumento da produtividade, em particular neste século, coincidindo com a explosão da nova economia digital.
É neste contexto que o BCE reúne durante três dias alguns dos principais banqueiros centrais do mundo, vários dos economistas que têm estudado o tema, e representantes das principais instituições internacionais. A sessão começa segunda à noite, com a intervenção de Ben Bernanke, o ex-presidente da Fed, com um discurso intitulado "Quando o crescimento não é suficiente". Os trabalhos seguem terça-feira, com a apresentação de artigos e debate sobre "inovação, investimento e produtividade" e os seus impactos no crescimento e no desemprego, e na quarta-feira, último dia, os participantes debatem os ciclos económicos e a importância da política macroeconómica. Como já é habitual, os trabalhos terminam com um painel de debate de banqueiros centrais: Mark Carney (Inglaterra), Mario Draghi (BCE), Haruhiko Kuroda (Japão) e Stephen Poloz (Canadá) serão moderados por Karnit Flug, a governadora do Banco de Israel.
Banqueiros e economistas procuram caminho para o crescimento
A quarta edição do Fórum do BCE sobre banca central conta com alguns dos principais banqueiros centrais das economias avançadas e vários dos economistas que mais têm contribuído para a investigação sobre investimento, inovação e crescimento. A quarta edição do Fórum do BCE sobre banca central conta com alguns dos principais banqueiros centrais das economias avançadas e vários dos economistas que mais têm contribuído para a investigação sobre investimento, inovação e crescimento.
Ex-presidente da Fed
Liderou a Reserva Federal americana entre 2006 e 2014, tendo sucedido a Alan Greenspan, tendo por isso estado no centro do furacão financeiro e económico dos últimos anos. Entre as suas áreas de investigação está a economia financeira internacional, sendo reconhecido como um dos especialistas na Grande Depressão do século XX, o que moldou a forma como conduziu o combate à grande recessão do início do século XXI.Hoje trabalha no think tank Brookings.
Mark Carney
Governador, Banco de Inglaterra
O canadiano de 52 anos é Governador do Banco de Inglaterra desde 2013, vindo do Banco de Canadá, que comandou desde 2008. Antes trabalhou no Ministério das Finanças e no Goldman Sachs. Entre os seus desafios está a normalização da política monetária (taxa de juro de 0,25% e um balanço com 435 mil milhões de libras em dívida pública e 10 mil milhões em dívida privada) num contexto de Brexit. A inflação em Junho foi de 2,9%.
Haruhiko Kuroda
Governador, Banco do Japão
Kuroda foi nomeado por Shinzo Abe em 2013 para implementar o braço monetário da sua política expansionista conhecida como "Abenomics". Está a comprar cerca de 445 mil milhões de euros de activos por mês, tendo aumento o balanço do banco para mais de 4 biliões de euros, em linha com o BCE e diz que vai continuar. Por enquanto os resultados são mistos: a economia cresce, mas pouco, e a inflação em Abril foi de 0,4%.
Governadora, Banco de Israel
Flug, de 62 anos, substitui Stanley Fischer (actual número 2 da Reserva Federal) em 2013, e é a primeira mulher a liderar o banco central israelita. O banco central mantém a taxa de juro central próxima de zero (0,1% desde o início de 2015), e garante que assim continuará até que a taxa de inflação recupere de forma sustentada para o intervalo de 1% e 3%. A inflação em Abril ficou-se pelos em 0,7%, uma recuperação face aos valores negativos registados em 2015 e 2016.
Philippe Aghion
Professor, "Collège de France" e "LSE"
Especialista em economia do crescimento, destaca-se por, juntamente com Peter Howitt, ter desenvolvido modelização económica para a destruição criativa de Schumpeter. O seu trabalho explora como novas tecnologias substituem as antigas e qual o papel das políticas públicas nos processos de crescimento. É um dos economistas que inspira o programa económico de Emmanuel Macron em França e um apoiante do novo presidente francês.
Robert Hall
Professor, "Stanford University"
Um estudioso da economia americana, Robert Hall é professor na Universidade de Standford e preside ao Comité de Datação de Ciclos Económicos do NBER, o organismo que estabelece as datas de início e o fim das recessões nos EUA. Apresenta-se como um "economista aplicado com interesses sobre emprego, tecnologia, concorrência e a política económica". Na conferência apresentará um artigo sobre as razões do baixo crescimento nas economias avançadas.
David Autor
Professor, "Massachusetts Institute of Technology"
É um dos economistas do trabalho mais conhecidos no meio académico internacional. O seu trabalho explora as consequências no mercado de trabalho das mudanças tecnológicas e da globalização, nomeadamente no emprego e na desigualdade, mas também na estrutural social e no desenvolvimento intectual dos jovens. Um dos seus últimos trabalhos estuda o efeito de "empresas-estrela" que conquistam grandes quotas de mercado.
Agnès Bénassy-Quéré
Professora, "Université Paris 1 Panthéon-Sorbonne"
É uma das economistas que mais se destaca no debate europeu sobre política macroeconómica e as falhas e reformas da Zona Euro. Agnés Bénassy-Quéré é especialista em economia monetária e financeira internacional, preside ao Conselho Francês de Análise Económica – que presta aconselhamento ao Presidente francês – e faz parte da Comissão Económica Nacional, um organismo de aconselhamento do ministério das Finanças francês.