Notícia
Nem entre alunos portugueses Draghi se livra da oposição alemã
O presidente do Banco Central Europeu (BCE) respondeu às dúvidas de jovens portugueses e europeus, defendendo a manutenção dos juros em mínimos e a necessidade de os bancos se prepararem melhor para choques.
Se há grupo que se pode queixar dos efeitos da crise da Zona Euro são os jovens de países do Sul da Europa, como Portugal. Desemprego muito elevado, precariedade e salário baixos fazem parte do cocktail de dificuldades dos últimos anos. Mas ontem, perante um dos mais altos responsáveis europeus a quem podiam manifestar as suas preocupações, umas das perguntas mais provocadoras veio… da Alemanha.
Antes de arrancar o Fórum do BCE, em Sintra, o banco central organizou no ISEG o seu primeiro "Youth Dialogue" para responder a perguntas de estudantes de economia portugueses e a outras dúvidas de jovens europeus, colocadas através das redes sociais. A ideia era abrir a porta ao debate de temas densos de política económica que enchem os telejornais, as conversas ao jantar e até entre amigos. Bom, talvez não entre amigos. "Espero que tenham melhores coisas para falar com os vossos amigos", atirou Mario Draghi.
Em geral, o banqueiro não teve especial dificuldade em responder. Como tem sido habitual para o presidente do BCE, o maior desafio veio da Alemanha. "Sr. Draghi, não percebe que as suas políticas de taxa de juro tornam impossível para os Millennials acumularem riqueza?", perguntou o utilizador alemão do Twitter, identificado como MG.
Antes de arrancar o Fórum do BCE, em Sintra, o banco central organizou no ISEG o seu primeiro "Youth Dialogue" para responder a perguntas de estudantes de economia portugueses e a outras dúvidas de jovens europeus, colocadas através das redes sociais. A ideia era abrir a porta ao debate de temas densos de política económica que enchem os telejornais, as conversas ao jantar e até entre amigos. Bom, talvez não entre amigos. "Espero que tenham melhores coisas para falar com os vossos amigos", atirou Mario Draghi.
Se aumentarmos as taxas na altura errada, provocaremos uma recessão que será má para todos, credores e devedores. Mário Draghi, Presidente do BCE
Milllennials, ou Geração Y, designa normalmente quem nasceu entre o início dos 80 e final dos 90. A pergunta pretende notar que, com juros tão baixos – há mais de um ano em 0% –, é difícil rentabilizar poupanças. Draghi pareceu acusar o toque e a resposta chegou com algum nível de acidez: quem não se deverá estar a queixar são "os millennials que encontraram trabalho por causa da nossa política monetária", afirmou. O banqueiro admitiu que quem já tenha poupado ou quem tenha pais que o fizeram no passado pode não estar beneficiar tanto hoje, mas que uma nova recessão deve ser evitada a todo o custo. "A poupança vem do crescimento e sem crescimento não há poupança", lembrou.
"[Actualmente] a taxa de juro tem de ser baixa para o crescimento avançar. Se aumentarmos as taxas na altura errada, provocaremos uma recessão que será má para todos, credores e devedores."
Entre os jornalistas de economia que cobriam a conferência brincava-se que a pergunta tinha sido enviada por Jens Weidmann disfarçado. O presidente do Bundesbank, banco central alemão, tem sido um dos principais opositores à política expansionista do BCE e à utilização de instrumentos de política monetária não convencionais, como compra de dívida. Na prática, Draghi tem funcionado como um contrapeso à influência alemã no âmbito orçamental.
O tema vai ao coração de uma das principais dificuldades de política monetária numa união económica como o euro e que foi expressa na última pergunta do dia: como é que o BCE gere o facto de diferentes países avançarem a diferentes velocidades? Draghi disse que os países não têm de andar ao mesmo ritmo, até porque "isso seria aborrecido".
Porém, as diferenças não devem ser demasiado pronunciadas. "Os países devem ir a velocidades que não criem grandes desequilíbrios", afirmou, pedindo maior alinhamento, por exemplo, nas reformas estruturais. "A isso se chama convergência."
O presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, disse segunda-feira, no ISEG, que as taxas de juro têm de permanecer baixas para que o crescimento económico recupere, acrescentando que o retorno das poupanças será visto no “tempo devido”.
Regras da UE funcionam? "É cedo para dizer"
Se há altura em que os portugueses têm ouvido falar do BCE é quando é necessário injectar dinheiro público em bancos que passam por dificuldades. Como se pode garantir que não será necessário voltar a usar desta forma o dinheiro dos contribuintes? Draghi apontou para as novas regras de resoluções bancárias na Europa, que tornaram os resgates aos bancos mais exigentes, procurando que "a utilização do dinheiro dos contribuintes seja minimizada" e que "a actividade dos bancos seja preservada." Contudo, o próprio Draghi se questiona: foi essa directiva bem-sucedida? "É demasiado cedo para dizer." O que ficou claro com as dificuldades do sistema financeiro europeu é que "os bancos têm de colocar de lado mais recursos que possam absorver perdas em caso de crise".
Estas afirmações são feitas dias depois ter sido anunciada a liquidação de dois bancos italianos (Veneto Banca e Banco Popolare di Vicenza), com o BCE a considerar que eram ambos inviáveis, o que levou a injecção de dinheiro público (17 mil milhões de euros), sem que haja perdas para os credores.
Desigualdade prejudica estabilidade financeira
Outra das perguntas lançadas a Draghi pedia-lhe que explicasse se háuma relação entre desigualdade e estabilidade financeira. O banqueiro reconheceu que, embora "a globalização e os avanços tecnológicos tenham produzido muita riqueza", também criaram "muitos perdedores". Pessoas que não partilham dos benefícios criados por esses movimentos, que não conseguem comprar casa ou carro. "Isso também tem impacto na estabilidade financeira."
O que pode o BCE fazer para ajudar a corrigir isso? Draghi argumenta que a sua principal arma é garantir a estabilidade dos preços. Atingir o objectivo de inflação do banco (próximo, mas abaixo de 2%) ajudará aos esforços de maior equidade, uma vez que uma inflação muito baixa, como aquela que temos actualmente, beneficia mais os credores. Além disso, nota Draghi, "a maior fonte de desigualdade é o desemprego", pelo que uma política monetária mais expansionista, que estimule a actividade económica, poderá, também por essa via, atenuar as desigualdades.
Antes de começar a responder às perguntas dos alunos ou de fazer qualquer comentário, o presidente do BCE mencionou o incêndio de Pedrógão Grande e pediu alguns segundos de silêncio em homenagem às 64 vítimas mortais.
"[Actualmente] a taxa de juro tem de ser baixa para o crescimento avançar. Se aumentarmos as taxas na altura errada, provocaremos uma recessão que será má para todos, credores e devedores."
Entre os jornalistas de economia que cobriam a conferência brincava-se que a pergunta tinha sido enviada por Jens Weidmann disfarçado. O presidente do Bundesbank, banco central alemão, tem sido um dos principais opositores à política expansionista do BCE e à utilização de instrumentos de política monetária não convencionais, como compra de dívida. Na prática, Draghi tem funcionado como um contrapeso à influência alemã no âmbito orçamental.
Os países devem ir a velocidades que não criem grandes desequilíbrios. A isso se chama convergência. Mário Draghi, Presidente do BCE
O tema vai ao coração de uma das principais dificuldades de política monetária numa união económica como o euro e que foi expressa na última pergunta do dia: como é que o BCE gere o facto de diferentes países avançarem a diferentes velocidades? Draghi disse que os países não têm de andar ao mesmo ritmo, até porque "isso seria aborrecido".
Porém, as diferenças não devem ser demasiado pronunciadas. "Os países devem ir a velocidades que não criem grandes desequilíbrios", afirmou, pedindo maior alinhamento, por exemplo, nas reformas estruturais. "A isso se chama convergência."
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Regras da UE funcionam? "É cedo para dizer"
Se há altura em que os portugueses têm ouvido falar do BCE é quando é necessário injectar dinheiro público em bancos que passam por dificuldades. Como se pode garantir que não será necessário voltar a usar desta forma o dinheiro dos contribuintes? Draghi apontou para as novas regras de resoluções bancárias na Europa, que tornaram os resgates aos bancos mais exigentes, procurando que "a utilização do dinheiro dos contribuintes seja minimizada" e que "a actividade dos bancos seja preservada." Contudo, o próprio Draghi se questiona: foi essa directiva bem-sucedida? "É demasiado cedo para dizer." O que ficou claro com as dificuldades do sistema financeiro europeu é que "os bancos têm de colocar de lado mais recursos que possam absorver perdas em caso de crise".
[Regras de resolução bancária foram bem-sucedidas?] É demasiado cedo para dizer. Mário Draghi, Presidente do BCE
Estas afirmações são feitas dias depois ter sido anunciada a liquidação de dois bancos italianos (Veneto Banca e Banco Popolare di Vicenza), com o BCE a considerar que eram ambos inviáveis, o que levou a injecção de dinheiro público (17 mil milhões de euros), sem que haja perdas para os credores.
Desigualdade prejudica estabilidade financeira
Outra das perguntas lançadas a Draghi pedia-lhe que explicasse se háuma relação entre desigualdade e estabilidade financeira. O banqueiro reconheceu que, embora "a globalização e os avanços tecnológicos tenham produzido muita riqueza", também criaram "muitos perdedores". Pessoas que não partilham dos benefícios criados por esses movimentos, que não conseguem comprar casa ou carro. "Isso também tem impacto na estabilidade financeira."
O que pode o BCE fazer para ajudar a corrigir isso? Draghi argumenta que a sua principal arma é garantir a estabilidade dos preços. Atingir o objectivo de inflação do banco (próximo, mas abaixo de 2%) ajudará aos esforços de maior equidade, uma vez que uma inflação muito baixa, como aquela que temos actualmente, beneficia mais os credores. Além disso, nota Draghi, "a maior fonte de desigualdade é o desemprego", pelo que uma política monetária mais expansionista, que estimule a actividade económica, poderá, também por essa via, atenuar as desigualdades.
Antes de começar a responder às perguntas dos alunos ou de fazer qualquer comentário, o presidente do BCE mencionou o incêndio de Pedrógão Grande e pediu alguns segundos de silêncio em homenagem às 64 vítimas mortais.