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Banqueiros em Sintra puxam pelo optimismo
A falta de investimento é passageira e a automatização e ganhos de produtividade geram desigualdade, mas não reduzem o número total de empregos disponíveis. Estas são conclusões do primeiro dia de debates em Sintra que ficou marcada por uma tom optimista quanto ao futura da economia europeia.
O baixo investimento na Europa é um problema passageiro e os ganhos de produtividade, nomeadamente resultantes da automatização, colocam importantes desafios, mas não implicaram até agora uma redução do número total de empregos disponíveis nas economias avançadas. Por outras palavras, o investimento, por enquanto deprimido, vai recuperar, e os robôs não deverão acabar com o trabalho na Europa – ainda que exijam cada vez mais qualificações e exacerbem os desafios colocados pela polarização do mercado de trabalho em desfavor dos menos qualificados.
Estas foram conclusões dos artigos e debates do primeiro dia do 4. Fórum do BCE em Sintra, que este ano explora o crescimento e o investimento nas economias avançadas, e que está a ser marcado por um tom de optimismo cauteloso quanto ao futuro económico europeu.
Mario Draghi, o presidente do banco central, abriu os trabalhos defendendo que recuperação da economia e dos preços está a ser lenta, mas é cada vez mais abrangente; e salientando que há um novo apoio político às reformas e à coesão europeia, que será fundamental para relançar a economia e o investimento na região. O BCE está por isso confiante na retoma e nas suas políticas, disse Draghi, ao mesmo tempo que garantiu que será "persistente" nos apoios que dá, e "cuidadoso" a retirar os estímulos à medida que a recuperação dos preços em direcção a meta de 2% se afirmar.
As garantias não evitaram uma valorização do euro contra o dólar para um máximo de nove meses, com muitos investidores a lerem na intervenção que a retirada de estímulos e subida de juros na Europa pode estar para mais cedo do que tarde. "Simplesmente o facto de que o BCE está a considerar as suas hipóteses é um sinal", disse por exemplo à Reuters Sireen Harajli, estratego de mercado cambial da Mizuho, em Nova Iorque. As bolsas caíram.
Enquanto os mercados reagiam à mensagem de Draghi, no retiro de Sintra o presidente do banco central não precisou de esperar mais de duas horas para também ele ouvir uma mensagem positiva, que de resto confirma parte da sua avaliação inicial. O autor foi Thomas Philippon, professor na Universidade de Nova Iorque, que num artigo produzido para a conferência conclui que o baixo investimento na região é um problema cíclico. Ou seja, quando as tensões financeiras sobre a banca e os soberanos aliviarem, os juros baixarem e a procura interna recuperar, o investimento seguir-se-á. É uma questão de tempo.
Nessa dimensão, a Europa está melhor que os EUA, defendeu Philippon, que classificou a falta de investimento do lado de lá do Atlântico como um "problema estrutural". "Nos EUA, o investimento está deprimido porque as indústrias se tornaram mais concentradas e faltam pressões competitivas para investir", lê-se no seu artigo assinado também por Robin Dottling e German Gutierrez, que criticam a fraca política de concorrência nos EUA, por oposição ao que se passa na Europa. A mensagem que terá agradado aos responsáveis da Comissão Europeia na plateia, entre os quais se destacava Marco Buti, o influente director-geral dos Assuntos Económicos e Financeiros da Comissão.
Optimismo também nos robôs
Antes de Philippon, David Autor, professor no MIT e especialista em mercado de trabalho, analisou outros dos grandes receios que pende sobre as economias avançadas: a possibilidade de a automatização acelerada reduzir os empregos disponíveis. Também aqui a conclusão foi animadora, pelo menos à primeira vista.
O trabalho desenvolvido com Anna Salomons estuda quase quatro décadas das economias avançadas e conclui que os ganhos de produtividade e automatização destroem efectivamente empregos nos sectores onde as alterações ocorrem, mas geram efeitos positivos para o resto da economia, que acaba por criar mais empregos do que os destruídos sectorialmente – isto é verdade especialmente para ganhos de produtividade em sectores como a educação ou a saúde.
A conclusão deixa no entanto os políticos um problema difícil para resolver: há perdedores num processo que tende a fazer aumentar a polarização do mercado de trabalho e a desigualdade de rendimentos a favor dos mais qualificados. Ou, nas palavras dos autores: "o principal desafio colocado até agora por estes avanços não é uma redução da oferta agregada de postos de trabalho mas, antes, uma distribuição de emprego enviesada – e de salários – a favor dos trabalhadores mais qualificados", lê-se no artigo.