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Banqueiros em Sintra puxam pelo optimismo

A falta de investimento é passageira e a automatização e ganhos de produtividade geram desigualdade, mas não reduzem o número total de empregos disponíveis. Estas são conclusões do primeiro dia de debates em Sintra que ficou marcada por uma tom optimista quanto ao futura da economia europeia.

Bruno Simão
27 de Junho de 2017 às 22:00
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O baixo investimento na Europa é um problema passageiro e os ganhos de produtividade, nomeadamente resultantes da automatização, colocam importantes desafios, mas não implicaram até agora uma redução do número total de empregos disponíveis nas economias avançadas. Por outras palavras, o investimento, por enquanto deprimido, vai recuperar, e os robôs não deverão acabar com o trabalho na Europa – ainda que exijam cada vez mais qualificações e exacerbem os desafios colocados pela polarização do mercado de trabalho em desfavor dos menos qualificados.

Estas foram conclusões dos artigos e debates do primeiro dia do 4. Fórum do BCE em Sintra, que este ano explora o crescimento e o investimento nas economias avançadas, e que está a ser marcado por um tom de optimismo cauteloso quanto ao futuro económico europeu.

Mario Draghi, o presidente do banco central, abriu os trabalhos defendendo que recuperação da economia e dos preços está a ser lenta, mas é cada vez mais abrangente; e salientando que há um novo apoio político às reformas e à coesão europeia, que será fundamental para relançar a economia e o investimento na região. O BCE está por isso confiante na retoma e nas suas políticas, disse Draghi, ao mesmo tempo que garantiu que será "persistente" nos apoios que dá, e "cuidadoso" a retirar os estímulos à medida que a recuperação dos preços em direcção a meta de 2% se afirmar.

As garantias não evitaram uma valorização do euro contra o dólar para um máximo de nove meses, com muitos investidores a lerem na intervenção que a retirada de estímulos e subida de juros na Europa pode estar para mais cedo do que tarde. "Simplesmente o facto de que o BCE está a considerar as suas hipóteses é um sinal", disse por exemplo à Reuters Sireen Harajli, estratego de mercado cambial da Mizuho, em Nova Iorque. As bolsas caíram.

"O principal desafio [colocado pela robotização] não é uma redução dos emprego, mas antes uma distribuição de emprego enviesada – e de salarios – a favor dos mais qualificados." David autor, Professor no MIT

Enquanto os mercados reagiam à mensagem de Draghi, no retiro de Sintra o presidente do banco central não precisou de esperar mais de duas horas para também ele ouvir uma mensagem positiva, que de resto confirma parte da sua avaliação inicial. O autor foi Thomas Philippon, professor na Universidade de Nova Iorque, que num artigo produzido para a conferência conclui que o baixo investimento na região é um problema cíclico. Ou seja, quando as tensões financeiras sobre a banca e os soberanos aliviarem, os juros baixarem e a procura interna recuperar, o investimento seguir-se-á. É uma questão de tempo. 

Nessa dimensão, a Europa está melhor que os EUA, defendeu Philippon, que classificou a falta de investimento do lado de lá do Atlântico como um "problema estrutural". "Nos EUA, o investimento está deprimido porque as indústrias se tornaram mais concentradas e faltam pressões competitivas para investir", lê-se no seu artigo assinado também por Robin Dottling e German Gutierrez, que criticam a fraca política de concorrência nos EUA, por oposição ao que se passa na Europa. A mensagem que terá agradado aos responsáveis da Comissão Europeia na plateia, entre os quais se destacava Marco Buti, o influente director-geral dos Assuntos Económicos e Financeiros da Comissão.

Optimismo também nos robôs

Antes de Philippon, David Autor, professor no MIT e especialista em mercado de trabalho, analisou outros dos grandes receios que pende sobre as economias avançadas: a possibilidade de a automatização acelerada reduzir os empregos disponíveis. Também aqui a conclusão foi animadora, pelo menos à primeira vista.

O trabalho desenvolvido com Anna Salomons estuda quase quatro décadas das economias avançadas e  conclui que os ganhos de produtividade e automatização destroem efectivamente empregos nos sectores onde as alterações ocorrem, mas geram efeitos positivos para o resto da economia, que acaba por criar mais empregos do que os destruídos sectorialmente – isto é verdade especialmente para ganhos de produtividade em sectores como a educação ou a saúde.

A conclusão deixa no entanto os políticos um problema difícil para resolver: há perdedores num processo que tende a fazer aumentar a polarização do mercado de trabalho e a desigualdade de rendimentos a favor dos mais qualificados. Ou, nas palavras dos autores: "o principal desafio colocado até agora por estes avanços não é uma redução da oferta agregada de postos de trabalho mas, antes, uma distribuição de emprego enviesada – e de salários – a favor dos trabalhadores mais qualificados", lê-se no artigo. 

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