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Draghi em diálogo com alunos do ISEG com baixos salários no centro das preocupações

O presidente do BCE dará uma aula esta tarde no ISEG.

Reuters
26 de Junho de 2017 às 13:49
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Rita Rodrigues e João Franco esperam encontrar um emprego quando finalizarem a licenciatura numa das melhores universidades portuguesas, mas estão menos confiantes quanto ao salário que vão receber.

 

"Não tenho expectativas muito elevadas", disse Rita Rodrigues, que está no último ano da licenciatura em Economia no Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG). "Não vou ganhar muito bem no meu primeiro emprego, refere João Franco, que está a tirar o curso de gestão, acrescentando que os estudantes têm de "lutar pelas oportunidades".

 

Os dois jovens de 21 anos podem considerar-se sortudos por estarem perto de entrar agora no mercado de trabalho, pois um forte programa de estímulos do Banco Central Europeu reduziu o desemprego e impulsionou a economia. Se os dois jovens quiserem saber quanto tempo vai durar a actual política monetária, têm hoje a sua hipótese – o presidente do BCE, Mario Draghi, vai visitar a universidade portuguesa esta segunda-feira, antes de participar no Fórum do BCE, que decorre todos os anos em Sintra.

 

O evento será uma oportunidade para evidenciar os problemas que a economia da Zona Euro ainda enfrenta, apesar dos quatro anos de expansão económica. A taxa de desemprego em Portugal está acima dos 9% e chega quase aos 19% entre os jovens. O que está a penalizar o crescimento dos salários e a arrastar a inflação. E neste aspecto os países do sul da Europa, como Portugal e Itália, estão bem pior do que os vizinhos no Norte.

 

Esta situação pode ser suficiente para reforçar a visão de Draghi de que é ainda cedo para os responsáveis do BCE começarem a pensar em retirar o programa de compra de activos de 2,3 biliões de euros, que está previsto permanecer no terreno pelo menos até ao final deste ano.

 

Draghi já lamentou que o actual ritmo de crescimento económico seja insuficiente para criar empregos de elevada qualidade. "O BCE sozinho não consegue resolver o problema do elevado desemprego jovem, que é actualmente um dos temas mais relevantes", diz Holger Sandte, analista-chefe para a Europa do Nordea Markets, em Copenhaga. "O que podem fazer passa por assegurar que as suas políticas mantêm a economia a recuperar e esperar que os políticos as utilizem para criar oportunidades para os jovens.

 

Depois do diálogo com os jovens (inicia-se às 16:00 no ISEG e o BCE vai transmitir aqui em directo), Draghi fará uma curta viagem até ao hotel da Penha Longa, em Sintra, para o Fórum do BCE, onde o antigo presidente da Reserva Federal, Ben Bernanke, vai discursar no jantar inaugural.

 

O responsável máximo do BCE fará um discurso na terça-feira, antes de arrancarem uma série de painéis onde os membros do Conselho Executivo vão analisar o investimento e crescimento. O evento terminará na quarta-feira, com uma discussão entre Draghi, Mark Carney (Governador do Banco de Inglaterra), Haruhiko Kuroda (Governador do Banco do Japão) e Stephen Poloz (Governador do Banco do Canadá).

Dados económicos publicados esta segunda-feira mostram que a confiança dos empresários alemães atingiu um máximo histórico em Junho e aguarda-se que os indicadores que vão ser anunciados esta semana confirmem que as coisas estão a correr bem no dado que mais relevância tem para o BCE: a inflação segue sustentada e estável abaixo dos 2%.

 

Portugal é um bom exemplo. O banco central nacional, na semana passada, elevou as suas perspectivas de crescimento devido ao investimento e exportações mais fortes. O desemprego desceu abaixo dos 10% face ao máximo de 17,5% fixado no início de 2013. A taxa para a população com idade entre 15 e 24 anos está nos 24%, contra um máximo superior a 40%.

 

Contudo, num sinal do quão longe a recuperação tem de ir para eliminar a capacidade não utilizada, provavelmente só em 2019 o PIB de Portugal atingirá o nível que registava antes da crise financeira.

 

Na Zona Euro como um todo, o BCE enfrenta um dilema similar. Num estudo que publicou em Maio, o BCE concluiu que o nível real do desemprego (pessoas que querem trabalhar mais horas mas não conseguem) pode estar perto dos 15%. Os salários estão a crescer apenas 1,5% ao ano e as projecções do BCE apontam para um crescimento médio dos preços de apenas 1,6% em 2019.


Crescimento abaixo do potencial

"É óbvio que o mundo está a mudar, mas o factor de primeira-ordem para a inflação baixa está no crescimento lento da economia", refere Marco Valli, economista do UniCredit em Milão. "Com o crescimento a recuperar e até a surpreender pela positiva, o "output gap" (crescimento abaixo do potencial) deverá começar a diminuir e eventualmente deverá levar a alguma pressão sobre os preços".

 

Na reunião de 8 de Junho, o Conselho do BCE nem sequer discutiu como e quando vai reduzir o programa de compra de activos, que está actualmente em 60 mil milhões de euros por mês. Na conferência de imprensa da reunião, Draghi pediu paciência. De acordo com fontes conhecedoras do assunto contactadas pela Bloomberg, o Conselho não vê necessidade de tomar uma decisão até Setembro. O que aumenta os riscos de um aumento da volatilidade, à medida que se aproxima o mês de Dezembro sem ser conhecida uma decisão sobre o programa de estímulos do BCE.  

"O que está a acontecer no mercado de trabalho é o grande puzzle, mas também é um fenómeno global", afirmou Karsten Junius, economista-chefe do Bank J. Safra Sarasin, em Zurique. "A questão está em saber se fará sentido comprar todas as obrigações soberanas", acrescentou.

 

Os estudantes do ISEG devem estar atentos a esta questão. Que está já a ocupar o tempo de um dos seus alunos – o vice-presidente do BCE, Vítor Constâncio, terminou a licenciatura no ISEG em 1965 e foi professor assistente até 1973.

 

Mas também devem ter outros assuntos em mente. Enquanto Rita Rodrigues está a pensar assistir à aula de Draghi, João Franco vai passar ao lado, para se focar no seu próximo desafio. "Estamos em exames. Estamos stressados com os exames", afirmou.

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