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Inquérito: Independência dos bancos centrais sob ameaça, dizem académicos

A primeira intervenção no 3º Fórum do BCE revelou que a maioria dos académicos considera que a independência dos bancos centrais está em risco, o que contrasta marcadamente com a perspectiva dos banqueiros centrais.

BCE
27 de Junho de 2016 às 21:51
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Para quase metade dos académicos especializados em política monetária (48%) os bancos centrais perderam independência face ao poder executivo durante a crise dos últimos anos. Quase outra metade, 47%, entende que a independência não foi afectada, e só 5% considera que os bancos centrais até aumentaram a sua independência nos últimos anos. 

 

Este é um dos principais resultados de um novo inquérito a banqueiros centrais e académicos, cujos resultados foram revelados na abertura do 3º Fórum do BCE, por Alan Blinder, um dos autores do trabalho que ainda não foi publicado.

 

As respostas dos académicos contrastam marcadamente com a percepção revelada pelos banqueiros centrais inquiridos, entre os quais quase 80% respondeu que a sua independência não foi afectada. As diferenças entre os dois campos não se ficaram por aqui: enquanto para 84% dos académicos a independência dos bancos centrais está mesmo ameaçada, entre os banqueiros 61% não identifica qualquer ameaça.

 

"Esta divergência de perspectivas é surpreendente e muito interessante", afirmou Blinder perante uma plateia que contava com muitos dos inquiridos, acrescentando um desejo: "esperemos que os banqueiros tenham razão". A independência dos bancos centrais face aos governos - a definir taxas de juro ou outras medidas de política monetária como a compra de dívida pública dos últimos anos - é uma das características fundamentais da condução da política económica nas economias avançadas.

 

Alan Blinder é professor na universidade de Princeton, e um dos mais conhecidos economistas no mundo na área da banca central, onde também já trabalhou: entre 1994 e 1996 foi vice-presidente da Reserva Federal norte-americana. Antes disso fez parte da equipa de aconselhamento económico de Bill Clinton, entre 1993 e 1994.

 

Aos 70 anos continua a fazer parte do pequeno circuito de peritos ouvidos pelos banqueiros centrais, um lugar que ocupa há décadas. Em 2005 anos marcou por exemplo presença em Jackson Hole, nos EUA, no encontro anual de banqueiros centrais promovido pela Reserva Federal – e no qual o Fórum do BCE se inspira – para fazer o balanço da era de 18 anos de Alan Greenspan que se retiraria de cena meses depois.

 

O trabalho, que co-assinou com Ricardo Reis, o economista português que também dá aulas em Princeton, procurou lições das quase duas décadas do mais carismático banqueiro central da história, e concluía que Greenspan "pode legitimamente reclamar o título do maior banqueiro central de sempre". Um balanço que mereceu apoio generalizado na altura, mas que hoje em dia poderia ser mais polémico, considerando o colapso financeiro que chegou em 2007 provocado, em parte, pelas baixas taxas de juro e pela desregulação financeira promovida pelo ex-banqueiro central na primeira década do século XXI.    

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