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FMI: Recessão no Brasil resulta de erros domésticos
Ao contrário da presidente Dilma que culpa a conjuntura externa, o FMI diz que é em casa que se encontram os principais motivos que explicam porque as perspectivas para a economia brasileira não param de decepcionar.
O contexto internacional não tem ajudado, em particular a descida do preço do petróleo e de várias outras matérias-primas exportadas pelo país. Mas se quiserem perceber porque é que o país está mergulhado numa tão profunda recessão as autoridades brasileiras devem olhar para dentro e não para fora, porque foi no plano interno que foram cometidos os principais erros.
A conclusão é do Fundo Monetário Internacional (FMI) que, no espaço de três meses, duplicou a sua previsão de recessão, projectando agora que a economia brasileira encolha 3% neste ano e volte a recuar 1% no próximo, depois de ter estagnado em 2014."Embora factores externos como a deterioração dos preços das matérias-primas expliquem alguma contracção na actividade, os principais factores de travagem são domésticos", escreve o FMI num relatório divulgado nesta quarta-feira, 7 de Outubro, que abre o foco sobre a conjuntura no continente americano.
Contrariando a versão da presidente Dilma Rousseff, segundo a qual a conjuntura internacional é a principal origem da degradação da economia brasileira, o FMI aponta o essencial da responsabilidade para quatro causas internas: políticas erradamente assentes em aumento da despesa pública para promover o crescimento; procedimentos orçamentais sob suspeita; corrupção em grande escala centrada numa das maiores empresas públicas do país, a Petrobras, com ramificações nas construtoras e nos políticos; e, por fim, o impasse político decorrente de o Congresso não estar a aprovar as medidas de austeridade, designadamente de aumento de impostos, propostas pelo governo liderado pelo Partido dos Trabalhadores (PT) e pela presidente Dilma, ambos directamente envolvidos nas investigações em curso sobre desvio de fundos da Petrobras.
"O Brasil chegou a meados de 2014 [período que antecedeu as eleições presidenciais, ocorridas em Setembro desse ano, e antes do início da queda da cotação do petróleo] com grandes desequilíbrios macroeconómicos decorrentes do diagnóstico de que a desaceleração económica observada desde 2010 era causada pela inexistência de suficiente procura", começa por referir a instituição liderada por Christine Lagarde, que saúda o governo por ter engrenado depois numa política de ajustamento orçamental para "evitar uma crise mais severa" e "conter as pressões inflacionistas".
Contudo, está agora instalada uma "grave crise política" desecandeada pela Lava Jato, investigação que envolve a Petrobras, os seus contratantes do sector privado (essencialmente construtoras) e políticos, entre os quais a própria presidente. Dilma terá beneficiado de recursos desviados ilegalmente da petrolífera para financiar as suas campanhas presidenciais e que está a ser igualmente acossada pelo Tribunal Federal de Contas devido aos buracos deixados no Orçamento de 2014.
"A interacção da crise económica e política alimentou incertezas e conduziu a confiança dos consumidores e dos empresários em mínimos históricos, o que mina ainda mais as actuais perspectivas económicas", avisa o FMI.
No espaço de um ano a inflação no país passou de 6% para 9%, o desemprego de 5% para 8%, o défice externo atingiu o recorde de 4,2% do PIB e a economia está à beira da maior recessão dos últimos 25 anos. Para repor o Brasil nos trilhos, Dilma contratou um "austeritário" para as Finanças. Mas muitas das medidas de Joaquim Levy estão congeladas num congresso paralisado pelos escândalos de corrupção. Em resultado, a Standard & Poor's retirou em Setembro o grau de investimento ao descer o "rating" do país para "lixo", como era até 2008.