Notícia
Virgolino Faneca consegue uma extraordinária entrevista a Kim Jong-un
Na gíria chama-se uma cacha jornalística. Virgolino Faneca fez uma entrevista ao intrépido líder supremo da Coreia do Norte onde este faz revelações de grande monta, por exemplo em matéria de podologia.
Rica prima, estou aqui que nem posso, tamanho é o meu contentamento. E, portanto, tenho de partilhar o meu intimorato feito contigo, na esperança de que o valorizes condignamente, pagando-me a luz e a água, que depois fazemos contas, dado que me encontro a devanear profissionalmente pelo estrangeiro. A verdade é que consegui aquilo a que na gíria mundial se chama uma cacha jornalística, uma entrevista ao intrépido líder da Coreia da Norte, Kim Jong-un de sua graça, para desgraça de alguns.
Enquanto isso, o gajo baixinho ria-se, não sei se do meu infortúnio, ou se por causa do tratamento de podologia a que estava a ser submetido. O certo é que me chamou usando o dedo anelar, o que poderia ter entendido como mais uma provocação, não se tivesse dado o caso das duas montanhas de carne me terem flanqueado o caminho até ele. Perguntou-me quem era, disse-lhe, um desafortunado jornalista português cuja sorte se transviou no rio das Pérolas, perguntei quem era ele, respondeu, sou o Kim, e eu, Kim há muitos, e ele, sou o líder supremo, e eu, ora bolas, e ele, pois, teve azar, o que posso fazer para o compensar, e eu, desbocado, que tal uma entrevista, e ele desarmante, vamos a isso.
E fomos.
Porque está em Macau?
Kim: Para resolver um problema que me atormenta há muito.
E qual é esse problema, pode revelá-lo?
K: Uma unha do pé encravada. Não viu que estava a ser tratado desta maleita por duas podologistas tailandesas?
Vi. Não há podologistas na Coreia do Norte?
K: Há, mas não tão versáteis. Estas fazem outras coisas. (riso alarve)
Tais como?
K: Olhe, jogam ao burro sentado. Tem mesmo a certeza de que é jornalista? Você não apanha uma…
O seu país tem tido acções de desafio para com os EUA. Paradas militares, discursos provocatórios e mísseis intercontinentais. Você está preparado para a guerra?
K: Claro. Tanto que estou aqui disfarçado de turista sul-coreano.
Não devia estar em Pyongyang, a liderar o país?
K: Para isso tenho lá um sósia. O país é uma pasmaceira, não tem nada para um tipo novo como eu se divertir.
Qual é a hipótese de lançar um míssil contra os Estados Unidos?
K: Isso é um segredo de Estado. Mas posso dar-lhe uma pista, dizendo que é a mesma de o Bruno de Carvalho estar calado dois dias consecutivos.
Você está bem informado sobre Portugal. Até sabe quem é o Bruno de Carvalho.
K: E já viu a pouca-vergonha da Luciana Abreu andar a namoriscar com o ex-namorado, o João Paulo Rodrigues. Isso sim são assuntos sérios. E você pergunta-me sobre mísseis!
O mundo está preocupado com a utilização que pode dar ao seu arsenal nuclear.
K: Eu também estou, mas tento não pensar nisso. Aconselho o mundo em geral a agir da mesma forma.
Como é que pode melhorar a sua relação com o presidente dos EUA, Donald Trump?
K: Se ele me convidar para ir a um dos seus casinos e arranjar duas ou três podologistas do Leste Europeu, uma geografia amorosa que conhece de ginjeira, tornamo-nos BFF num instante. Tenho a sensação de que somos almas gémeas.
Sem mais, envio-te um ósculo asiático,
Virgolino Faneca
Quem é Virgolino Faneca
Virgolino Faneca é filho de peixeiro (Faneca é alcunha e não apelido) e de uma mulher apaixonada pelos segredos da semiótica textual. Tem 48 anos e é licenciado em Filologia pela Universidade de Paris, pequena localidade no Texas, onde Wim Wenders filmou. É um "vasco pulidiano" assumido e baseia as suas análises no azedo sofisma: se é bom, não existe ou nunca deveria ter existido. Dele disse, embora sem o ler, Pacheco Pereira: "É dotado de um pensamento estruturante e uma só opinião sua vale mais do que a obra completa de Nuno Rogeiro". É presença constante nos "Prós e Contras" da RTP1. Fica na última fila para lhe ser mais fácil ir à rua fumar e meditar. Sobre o quê? Boa pergunta, a que nem o próprio sabe responder. Só sabe que os seus escritos vão mudar a política em Portugal. Provavelmente para o rés-do-chão esquerdo, onde vive a menina Clotilde, a sua grande paixão. O seu propósito é informar epistolarmente familiares, amigos, emigrantes, imigrantes, desconhecidos e extraterrestres, do que se passa em Portugal e no mundo. Coisa pouca, portanto.