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O melhor choque

Alguns dos melhores professores vinham de qualquer parte da Grécia Antiga para trabalhar em Atenas. No século XV, a Espanha contratava Colombo e muitos outros italianos para comandar os seus navios. Mais tarde, na Revolução Industrial, a França e a Aleman

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A verdade é que, com a globalização dos nossos tempos, o capital ganhou como nunca a capacidade de se movimentar para qualquer parte do planeta. Mas a mão-de-obra não. Enfrenta hoje obstáculos de natureza social e política, como não acontecia no passado.

Desde 1993, com a liberalização plena do movimento de capitais, uma empresa portuguesa não precisa de autorização do Governo para investir no exterior. Se pretender dar emprego, aqui, a um cidadão estrangeiro, os burocratas entram em acção.

A nossa política de imigração tem a característica absurda da maioria dos países desenvolvidos: quanto maior é a qualificação do imigrante, maiores os obstáculos à sua entrada.

Mas levámos mais longe esta disposição. As fronteiras abriram-se naturalmente a cientistas do Leste. Vieram os engenheiros que precisamos e as médicas que não temos. Uns para a construção. Outras para cuidar dos nossos filhos. Ou seja, para carregar tijolos e mudar fraldas.

Mas o desleixo e a suposta protecção aos empregos locais formaram o caldo de cultura para que ninguém olhasse para o problema com vontade de o resolver.

Só que, nos últimos anos, também neste domínio, o mundo tem mudado. John Salt, um professor da Universidade de Londres especialista em mobilidade de trabalhadores qualificados, sublinha que a «exportação de cérebros» está a crescer a ritmos nunca vistos.

O senhor Salt reconhece que, da parte dos trabalhadores, esse fenómeno tende a acentuar-se com a maior facilidade de viajar e de comunicar. Mas a questão essencial é que as autoridades nacionais estão, elas próprias, a promover a caça dos melhores talentos.

Há anos e anos que a economia mais dinâmica da Europa, a Irlanda, faz o recrutamento para os melhores empregos, incluindo administração pública, nas páginas da The Economist e dos maiores jornais de economia internacionais.

Singapura tem, há quase uma década, um sistema de incentivos fiscais para ajudar as suas empresas a recrutar engenheiros, técnicos de informática e outros profissionais com «skills».

E até a Alemanha socialista do senhor Schröder aprovou, ainda no primeiro mandato do SPD, alterações à lei da imigração para permitir que as empresas germânicas importassem até 20 mil informáticos da Índia.

Obviamente que esta «coragem» política foi feita muito a partir da pressão das empresas. Em Portugal, além de umas queixas em seminários à porta fechada, a verdade é que gestores e empresários não têm feito muito por mudar a situação.

Na entrevista que hoje nos concede, o surpreendente pivot do Plano Tecnológico de Sócrates, toma a iniciativa. Um verdadeiro choque cultural. De aplaudir. De incentivar.

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