Opinião
A meia vitória
Ao longo dos anos, a Administração Pública portuguesa tem sido vítima do meio sucesso. Primeiro viveu a esperança da liberdade, mas depressa se viu refém dos partidos. Com isso, o país tornou-se demasiado tolerante com a apropriação do Estado pelos govern
Depois iludiu-se com a possibilidade de conciliar aumentos de salários e de efectivos com ganhos de produtividade nulos. Com isso, alimentou-se um défice brutal nas contas públicas e degradou-se a qualidade dos serviços prestados às pessoas e empresas.
Agora andam os Governos a anunciar reformas atrás de reformas e garantem coisas, dos direitos adquiridos ao não despedimento, que ao mesmo tempo inviabilizam totalmente as reformas.
O Estado é ineficiente. Mas o sector privado, com a sua mediocridade, ainda é responsável pelas resistências da sociedade portuguesa à privatização.
Sócrates dobrou a resistência de várias corporações protegidas pelos "regimes especiais". Fez convergir, numa longuíssima transição de dez anos, a idade de reforma dos funcionários públicos ao regime geral. Mas fez!
Também definiu um método para a redução drástica das estruturas da Administração. E criou os meios de mobilidade para lhe dar suporte e consequência. Ainda juntou um Simplex para eliminar papelada e milhares de actos administrativos.
Tendo criado tudo isto e depois de ter feito e refeito centenas de projectos e diplomas, pergunta-se ao Governo pela reforma do Estado e ele não a encontra.
O primeiro-ministro parece conformado com tudo o que fez. Os ministros ignoram que o essencial está por fazer. E o secretário de Estado da Administração Pública começou a patinar.
A meia vitória é perigosa. Cria a sensação de "mal menor". Alimenta a complacência. Aumenta a resistência às mudanças.
Winston Churchill dizia que a diferença entre o capitalismo e o socialismo é que naquele os resultados são melhores que as intenções.
Acontece o contrário na nossa Administração Pública. A meia vitória de Sócrates adquire contornos de uma derrota completa.