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29 de Dezembro de 2006 às 13:59

Fechar a torneira

O alargamento foi o bode expiatório no "não" francês no referendo ao Tratado Constitucional, em Maio de 2005. Descontentes com o Governo e com o estado da economia, os franceses viram na globalização e no alargamento, que responsabilizam pela fuga dos pos

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Aprovado em 2002 e concretizado em 2004, o quinto alargamento representou uma oportunidade extraordinária para a pacificação do continente europeu. Uma oportunidade em termos políticos mas também para a economia, com a entrada de 100 milhões de novos consumidores. E a verdade é que, apesar dos os receios de amplos sectores da opinião pública, a economia europeia recuperou depois da entrada dos novos membros. Para o que contribuiu também a ampliação do mercado e os níveis elevados de crescimento registados nos novos aderentes, alguns, como a Estónia e a Letónia, com taxas de crescimento "asiáticas".

No primeiro dia de 2007 conclui-se o quinto alargamento, com a Roménia e a Bulgária, que estarão sujeitos a uma adesão particularmente vigiada. A entrada dos dois países, dos mais pobres da Europa, é apontada como exemplo da forma precipitada como foi conduzido este mega-alargamento. Que pode ter sido mal preparado e com dimensão inédita, mas o que faltou foi, sobretudo, capacidade de liderança. Liderança capaz de envolver os cidadãos num projecto de alargamento da casa europeia, onde a consolidação da democracia e a estabilização do continente foram factores determinantes.

Depois da Roménia e da Bulgária, a União Europeia diz que novas entradas só a conta-gotas e que a prioridade é resolver o imbróglio da Constituição. É esse o mandato que se propõe a presidência alemã. Angela Merkel quer deixar para José Sócrates, que lhe sucede em Julho, um calendário que permita a ratificação de um novo tratado, reduzido e melhorado, até às eleições europeias de 2009.

O objectivo é ambicioso até porque, pelo caminho, vão ocorrer mudanças de cadeiras em alguns dos principais protagonistas europeus. E se no Reino Unido a troca de Tony Blair por Gordon Brown pode, no que aos temas europeus diz respeito, ter efeito negligenciável, ainda ninguém é capaz de avaliar se será Sarkozy ou Ségolène Royale a suceder a Jacques Chirac, se algum dos dois se revelará mais euro-entusiasta que o seu antecessor e em condições de prescindir da repetição do referendo para garantir o sucesso no "timing" definido.

Os líderes europeus já deram a entender aos outros candidatos no "pipeline", que não haverá novas adesões enquanto os problemas institucionais não estiverem resolvidos. A simplificação das regras de funcionamento, para acomodar 27 membros numa estrutura que foi pensada para 15, é indispensável antes de aceitar aumentar a família.

Embora o travão ao alargamento seja essencialmente um argumento para consumo interno. Mas se acalma as opiniões públicas europeias, tem efeito inverso nas dos países candidatos, com destaque para a Turquia. Por muitas razões que os turcos tenham dado para motivar a suspensão parcial das negociações de adesão, decretada em Dezembro, a verdade é que os líderes europeus não se entendem sobre o que fazer com a Turquia e com isso podem afastar de vez a possibilidade de trazer para o clube um grande país muçulmano. E essa não é uma boa notícia. Nem mesmo para os franceses, ao contrário do que eles possam pensar.

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