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20 de Novembro de 2007 às 13:59

Diz-me com quem andas...

Como todos os personagens excessivos, Hugo Chávez não deixa ninguém indiferente. O mundo divide-se num “Prós e Contras” à escala global. Mas as críticas são alimento para a retórica populista do mais carismático Presidente da República da Venezuela das úl

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Apesar dos atropelos à democracia e das alterações constitucionais que tem promovido, é preciso reconhecer que Hugo Chávez não é exactamente um ditador. Chegou ao poder por via eleitoral – embora depois de uma tentiva de golpe de Estado fracassada, alguns anos antes – e, desde então, tem sido sucessivamente reeleito e conseguido fazer aprovar por referendo alterações constitucionais que se traduzem no reforço dos seus poderes presidenciais. A última vai a votos no próximo dia 2 de Dezembro.

Mas se formalmente Chávez respeita a democracia, na prática não é bem assim, com um apertado controle sobre os meios de comunicação social, que pode chegar ao encerramento, como foi o caso da Rádio Caracas TV, uma das principais vozes críticas do regime, ou pela colocação de gente de sua confiança, familiares incluídos, em postos-chave do regime. Para não falar de um programa de nacionalizações, ao arrepio das grandes tendências actuais.

Chávez é uma das mais recentes emanações do princípio de tirar aos ricos para dar aos pobres, que medra numa América Latina castigada por um “cocktail” explosivo de políticas ortodoxas e políticos corruptos. Parafraseando livremente Olof Palme sobre o Portugal pós-revolucionário de 1975, não percebeu que o desafio não é acabar com os ricos mas antes acabar com os pobres. Com o recurso aos lucros do petróleo, o Governo venezuelano tem contribuído para a redução da pobreza. Mas embora a economia registe taxas de crescimento “chinesas”, é duvidoso que esteja a gerar a riqueza que estaria ao seu alcance com outras políticas. E é curioso observar como dois presidentes eleitos pela esquerda, Chávez e Lula no Brasil, estão a seguir caminhos tão divergentes.

Diz-me com quem andas dir-te-ei quem és. É esse o dilema de José Sócrates neste súbito enleio com Hugo Chávez. Portugal pode capitalizar com o mau momento que atravessam as relações hispano-venezuelanas. Que estão a atingir o ponto de congelação na sequência das peripécias protocolores entre Chávez e o monarca espanhol, mas que já vinham a deteriorar-se desde há muito tempo, precisamente devido ao beliscar dos interesses das empresas espanholas. Pode capitalizar mas a que preço, é o problema desta espécie de “Realpolitik” fora de prazo.

Ter boas relações com o poder de Caracas pode ser de importância primordial para a Galp, que se prepara para fechar hoje um acordo que poderá minimizar as suas dificuldades de abastecimento de gás natural no futuro próximo. Além de manter a expectativa de entrar na exploração e produção de petróleo na Venezuela, garantindo aí um terço das suas necessidades de abastecimento.

Percebe-se o interesse estratégico em diversificar as fontes de abastecimento de petróleo e sobretudo de gás natural, onde a empresa assume as dificuldades de encontrar no mercado matéria-prima disponível para crescer de acordo com o seu plano de negócios. A Galp está a seguir uma laboriosa estratégia que lhe permite reduzir a exposição ao risco, com as parcerias em Angola, no Brasil e, a prazo, na Rússia. E, neste aspecto, a estratégia de diversificação da Galp coincide com o interesse do país.

O problema é até onde é que está o Governo português disposto a ir em nome de um bom negócio para a Galp e da diversificação das fontes de energia do país.

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