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20 de Novembro de 2013 às 13:38

Os quatro "C" da inovação

A inovação é agora amplamente reconhecida por ser um pré-requisito para um crescimento económico sustentável. Se as mudanças são profundamente disruptivas, ou simplesmente proporcionam melhorias nos produtos, serviços ou modelos de negócios, os resultados impulsionam uma produtividade de longo curso da economia.

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E a inovação é necessária não apenas nas economias desenvolvidas, mas também nos mercados emergentes, que cada vez beneficiam menos por simplesmente imitar as melhores práticas das economias avançadas. Mas, ainda que todos os países precisem de inovar, as abordagens experimentadas e testadas não funcionam em todos os mercados.

 

Clayton Christensen, da Harvard Business School, identificou três formas gerais de inovação que tornam as empresas – e, em última análise, as economias – mais fortes. As empresas podem fazer alterações aos produtos actuais e, assim, tornar-se mais competitivas num segmento de mercado; podem introduzir produtos, como o emblemático Walkman da Sony ou o iPhone da Apple, que criam novos segmentos de mercado; ou podem desenvolver um produto – como a electricidade, o automóvel, ou um motor de busca da Internet – que represente um avanço tão radical que torna quase obsoleto todo um sector ou o modo de fazer negócios.    

 

O desafio para os governos é encontrar formas de encorajar as empresas ou os particulares a comprometerem-se com mais inovação para impulsionar o crescimento económico. Muita da pesquisa nesta área, influenciada pelo trabalho em Harvard de Michael Porter, tem sido dominada pelos “estudos de cluster”, que tipicamente se focam em melhorar a produtividade em economias emergentes e em regiões dentro das economias avançadas. Como resultado, nas últimas duas décadas, a atenção dos responsáveis políticos passou de tentar compreender os chamados “tigres” da Ásia para recriar os clusters bem sucedidos de Silicon Valley, da Route 128 de Boston, de Hsinchu Park em Taiwan, de Daedeok Science Town na Coreia do Sul e de Silicon Wadi em Israel.

 

Estes clusters, contudo, têm frequentemente atributos que não podem ser replicados facilmente em qualquer lado. As conquistas de Silicon Valley são, sem dúvida, função de um legado cultural único, mais do que de políticas do governo (embora o governo tenha indirectamente apoiado algumas das suas startups melhor sucedidas). Da mesma forma, a intervenção estratégica inicial do governo – incluindo planeamento, subsídios e propriedade pública – que tem apoiado modelos de crescimento baseados na inovação em Israel, Coreia do Sul e Taiwan simplesmente não está disponível em muitos países.

 

Felizmente, há uma terceira abordagem, evidente em numerosos sucessos de inovação na Europa, Ásia, Médio Oriente e em outros locais onde não há o apoio do Estado nem uma cultura de negócio particularmente criativa. Considere, por exemplo, a empresa de telecomunicações na Internet, o Skype, criada na Estónia; o jogo “Angry Birds” da Rovio, feito na Finlândia; o sistema de navegação GPS TomTom, desenvolvido na Holanda; o Navigon, outro sistema de navegação, e o SoundCloud, serviço de download de música, ambos feitos na Alemanha; o Maktoob, fornecedor árabe de serviços na Internet, e o Rubicon, uma empresa em expansão de animação educacional, ambas estabelecidas na Jordânia; e a Infosus e a Wipro, duas das muitas empresas tecnológicas bem-sucedidas na Índia.

 

Ao estudar estes e outros casos, a Iniciativa Inovação e Política da INSEAD identificou quatro factores – os quatro “C” – que apoiam a inovação tecnológica e o empreendedorismo: custo, conveniência, carácter e destruição criativa. O sucesso reside na capacidade das empresas de combinarem estes factores ou num único país ou em vários mercados.

 

Por exemplo, Niklas Zennström e Janus Friis deixaram a Suécia e Dinamarca, respectivamente, para se desenvolverem numa Estónia económica e rica em talentos criarem o Skype. Assim, o pensamento criativo-destrutivo dos dois escandinavos foi combinado com o ambiente “low-cost” e amigável para as empresas da Estónia.

 

Os fundadores suecos da SoundCloud, Alexander Ljung e Eric Wahlforss, decidiram que estavam em melhor situação na relativamente barata Berlim, no coração do mundo musical alternativo da Europa. Da mesma forma, Samih Toukan e Hussam Khoury, que criaram a Maktoob (agora detida pela Yahoo), foram capazes de combinar a vantagem comparativa do talento criativo e os custos baixos da Jordânia com a qualidade e conveniência da infra-estrutura e redes de negócio do Dubai.

 

Por vezes, os benefícios irresistíveis de um ou mais factores são decisivos. O carácter da infra-estrutura, a força de trabalho e as redes internas da Finlândia impuseram-se os receios dos fundadores finlandeses da Rovio sobre os elevados custos do seu país e os inconvenientes da localização, pelo que decidiram desenvolver o seu novo negócio em casa.

 

Mas, cada vez mais, as startups inovadoras que operam num mundo móvel e globalizado vão encontrar o que pode contornar as restrições da localização ao transferir alguns ou todos ou parte dos seus activos ou operações para outro local. O desafio para os governos é melhorar esses factores móveis de inovação – custo, carácter e conveniência – de modo a atrair, conservar e encorajar o capital de livre fluxo e os cidadãos mais criativos.

 

Sami Mahroum é director académico de Inovação e Política na INSEAD.

 

Copyright: Project Syndicate, 2013.
www.project-syndicate.org

Tradução de Raquel Godinho

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