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22 de Abril de 2014 às 18:09

O futuro feminino da Coreia do Sul

Ao longo dos últimos cinquenta anos, a Coreia do Sul tem assistido a um progresso económico considerável, com o rendimento per capita a aumentar de apenas 80 dólares, em 1960, para mais de 22 mil dólares, no ano passado.

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Mas o seu potencial para crescer de forma sustentada está condicionado à queda iminente da sua população em idade de trabalho - deverá cair em 25% até 2050 - e à concorrência crescente da China e de outras economias emergentes. Para melhorar as suas perspectivas, a Coreia do Sul deve pôr em prática uma reforma e uma reestruturação económica, com ênfase na maximização dos recursos humanos – em especial no que diz respeito às mulheres.

 

O sucesso da Coreia do Sul nas últimas cinco décadas deve-se, em larga medida, ao rápido crescimento da sua força de trabalho com habilitações. De 1960 a 2010, a proporção de adultos com o ensino secundário aumentou de 20% para uns impressionantes 87%. Ao aumentar a produtividade, multiplicar os retornos sobre o investimento, e facilitar a adaptação à tecnologia e à inovação, a abundância de trabalhadores com habilitações da Coreia do Sul tem servido como base para sua estratégia de desenvolvimento orientada para a exportação.

 

No entanto, as mulheres continuam subutilizadas. Na verdade, qualquer estratégia de crescimento da Coreia do Sul deve criar mais e melhores oportunidades económicas para as mulheres, em parte através da criação de ambientes de trabalho mais complacentes e um sistema de educação mais diversificado e flexível.

 

Deve reconhecer-se que a Coreia do Sul tem construído uma sociedade relativamente igualitária em relação ao género. A diferença de sexos no número de matrículas no ensino secundário e superior é muito pequena; e o acesso das mulheres a posições de topo em direito, medicina e administração pública tem aumentado consideravelmente nos últimos anos. O país elegeu a sua primeira presidente do sexo feminino, Park Geun-hye, em 2012.

 

Mas a diferença de géneros continua a ser significativa em termos de retorno sobre o capital humano. De acordo com dados da OCDE, apenas 55% das mulheres sul-coreanos com idades entre 15 e 64 anos fazem parte da força laboral, em comparação com uma média de 65% nas economias avançadas. Já a taxa de participação da força de trabalho masculina da Coreia do Sul ronda os 77% - próxima da média da OCDE de 79%.

 

As mulheres que concluíram o ensino secundário ou superior têm mais possibilidades de entrar e permanecer no mercado de trabalho do que as mulheres com menos habilitações. A taxa de participação no mercado de trabalho para as mulheres com ensino pós-secundário é de 64%, muito superior à taxa de 35% para aquelas que têm apenas uma educação de ensino médio ou primário.

 

Contudo, mesmo para as trabalhadoras mais habilitadas e capazes da Coreia do Sul, criar os filhos é um grande obstáculo na carreira. Na verdade, as mulheres sul-coreanas têm uma participação no mercado de trabalho força semelhante à taxa média da OCDE antes de atingirem os 30 anos. O problema é que a taxa cai drasticamente de 71% para 57% entre as mulheres com mais de 30 anos, já que os ambientes de trabalho inflexíveis e a falta de cuidados infantis a preços acessíveis minam a sua capacidade de continuar a investir nas suas carreiras.

 

A boa notícia é que o governo do Park está a trabalhar para mudar isso. Na verdade, o seu plano trianual de inovação económica, anunciado em Fevereiro, tem como objetivo aumentar a taxa de emprego das mulheres para 62% até 2017, através da criação de instalações de cuidados infantis com de qualidade e com preços acessíveis e do alargamento da licença de maternidade paga, entre outras medidas.

 

Mas já não é tão evidente a forma como o governo vai criar novos postos de trabalho para as mulheres. Poderia, por exemplo, dividir os trabalhos em tempo integral em várias posições a tempo parcial, e oferecer incentivos aos trabalhadores para reduzirem as horas de trabalho. Mas, dado que a força de trabalho da Coreia do Sul já inclui uma percentagem substancial de trabalhadores não-regulares, aumentar o emprego temporário poderia não contribuir para o crescimento económico.

 

Uma estratégia melhor implicaria a criação de empregos de elevada qualidade nas indústrias modernas de serviços. Tal como está, o sector dos serviços representa mais de 70% do emprego na Coreia do Sul, enquanto o crescimento da sua produtividade continua muito menor ao do sector industrial. Trabalham demasiadas pessoas nos serviços tradicionais e de baixa produtividade, como o comércio grossista, o retalho e restaurantes, deixando os serviços modernos de alta produtividade, como comunicações, saúde e intermediação financeira, subdesenvolvidos.

 

Também é importante reduzir a desadequação entre as habilitações das mulheres e as suas carreiras. O sistema actual tende a reforçar os papéis de género, incentivando os jovens a seguir caminhos guiados pelos padrões culturais, em vez de nutrir os seus interesses e potencial individuais.

 

Por exemplo, as estudantes universitários do sexo feminino são muito mais propensos a estudar humanidades do que cursos como ciência, tecnologia, engenharia e matemática - principais motores de ganhos de produtividade, inovação e crescimento económico. As escolas primárias e secundárias poderiam ajudar a promover interesses mais diversos entre as estudantes do sexo feminino e dar às jovens talentosos as ferramentas de que precisam para contribuir para sectores-chave da economia.

 

É claro que o potencial das mulheres com habilitações para impulsionar o crescimento económico sustentado não se limita à Coreia do Sul. O primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, também identificou o aumento da participação da força de trabalho feminina como crucial para os esforços de reanimar a economia do seu país, há muito adormecida.

 

Na Coreia do Sul, Japão e noutros países, desenvolver e maximizar o potencial das mulheres exigirá uma educação abrangente e reformas no mercado de trabalho, bem como mudanças estruturais, especialmente no sector dos serviços. A questão é se os líderes políticos estão prontos para complementar os discursos eloquentes com uma acção decisiva.

 

Lee Jong-Wha, professor de Economia e director do Instituto Asiático de Investigação da Universidade da Coreia, foi consultor para os assuntos económicos internacionais do ex-presidente Lee Myung-bak, da Coreia do Sul.

 

Direitos de Autor: Project Syndicate, 2014.

www.project-syndicate.org

Tradução: Rita Faria

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