Opinião
Manter o motor do crescimento das economias emergentes
As economias emergentes, que há alguns anos se destacavam pela sua resiliência num contexto de crise nas restantes economias, estão a perder ritmo. O que aconteceu ao seu motor de crescimento?
As economias emergentes mundiais parecem estar a perder o seu dinamismo. Os países que há alguns anos eram saudados pela sua resiliência perante os problemas da economia mundial estão agora a enfrentar incontáveis desafios, reflectidos no crescimento significativamente mais lento do PIB. Está o motor do crescimento das economias emergentes a quebrar?
De 2000 a 2007, o crescimento anual nas economias emergentes e em desenvolvimento atingiu os 6,5% em média. Mais impressionante, de 2008 a 2010, quando as economias avançadas estavam em recessão ou lutavam contra uma recuperação frágil, estes países conseguiram manter um crescimento de 5,5%. De facto, no final deste período, o crescimento médio permaneceu nuns muito saudáveis 7,5%.
Mas, então, o crescimento começou a abrandar, com a taxa anual a descer para 4% em 2015. Mesmo a China, a maior e mais dinâmica economia emergente, registou a menor taxa de crescimento de 1990 (6,9%) no ano passado e prevê-se que o abrandamento acelere este ano. Muitos agora argumentam que as economias emergentes estão a caminhar para um "novo normal" de um crescimento mais lento e que os seus dias como motor chave da economia mundial estão contados.
Apesar dos seus desafios actuais, seria prematuro anular as economias emergentes. Para começar, mesmo se as taxas de crescimento destes países não regressarem aos níveis pré-crise, a sua contribuição para a economia mundial deverá continuar a ser substancial, dado que a sua percentagem no PIB mundial em termos da paridade do poder de compra tem aumentado significativamente, de 43% em 2000 para 58% em 2015.
Mas as economias emergentes têm muito mais a oferecer. Com as políticas certas, podem tocar num potencial de crescimento ainda não explorado e continuar o seu progresso em direcção à convergência com os níveis de rendimento das economias avançadas. A chave para determinar o que estas políticas devem ser é entender porque é que o crescimento abrandou em primeiro lugar.
Primeiro, as economias emergentes foram afectadas por desafios externos, incluindo o enfraquecimento do comércio mundial, os baixos preços das matérias-primas e o aperto das condições financeiras. O comércio mundial abrandou consideravelmente ao longo dos últimos quatro anos; na primeira metade de 2015, contraiu pela primeira vez desde 2009. Os preços do petróleo e dos metais desceram mais de 50% desde os máximos de 2011.
Além disso, a reversão da política monetária da Reserva Federal dos Estados Unidos, que incluiu uma subida há muito atrasada da taxa de juro, combinada com as políticas de juros negativos do Banco do Japão e do Banco Central Europeu, tem causado flutuações nos mercados financeiros e deixou as economias emergentes vulneráveis às fugas de capital. Estes factores externos podem ser cíclicos, mas continuam a ser vistos como sujeitos a desaparecer em breve.
O recente abrandamento das economias emergentes é também o resultado de factores estruturais. Quando as histórias de crescimento das economias emergentes começaram, o diferencial entre o seu rendimento per capita actual e o potencial de longo prazo permitiu a rápida acumulação de capital e fortes ganhos de produtividade baseados na tecnologia.
Mas depois de anos de investimento de larga escala - que, na China em particular, levou a excesso de capacidade e a uma alocação errada de recursos - a acumulação de capital moderou. Enquanto isso, com os países a aproximarem-se da fronteira tecnológica, a imitação e a adaptação devem dar lugar à inovação genuína – não é fácil quando faltam as capacidades de inovação. Então, o que podem fazer as economias emergentes para melhorar as suas perspectivas? Embora a combinação de políticas em particular varie consoante a economia, algumas prioridades são claras.
Por um lado, os países devem reforçar a sua resiliência contra choques externos adversos, incluindo através de esforços para reforçar os seus próprios sistemas financeiros. Para reduzir a sua vulnerabilidade aos fluxos de capital voláteis, devem promover a flexibilidade da taxa de câmbio, garantir as reservas internacionais adequadas e adoptar controlos de capital desenhados cuidadosamente.
As economias emergentes que dependem excessivamente das exportações precisam de reequilibrar as suas fontes de crescimento em direcção à procura interna. O investimento em infra-estruturas públicas, um clima de investimento melhorado e redes de segurança social todos podem ajudar a impulsionar um maior investimento do sector privado e o consumo das famílias.
Também deve ser dada maior prioridade às políticas estruturais do lado da oferta com vista ao crescimento da produtividade. Em primeiro lugar, para reforçar o capital humano, as economias emergentes devem complementar o seu progresso na realização educacional com esforços para melhorar a qualidade das escolas, especialmente nos níveis secundários e terciários. Quando necessário, os sistemas de educação devem ser reformados para satisfazer a procura de uma indústria em mudança e dos requisitos de capacidades.
Em segundo lugar, os apertos estruturais devem ser respondidos urgentemente, através da simplificação da regulação, bem como das reformas para promover a concorrência nos mercados de produtos e para aumentar a flexibilidade e a eficiência dos mercados laborais, finanças e propriedades. As economias emergentes devem reduzir as barreiras à entrada no mercado, sustentar as operações de negócios e aumentar o acesso às finanças. Os obstáculos ao comércio e ao investimento directo estrangeiro devem ser removidos também.
Por último, as economias emergentes devem trabalhar para fortalecer as suas instituições. Tal como está, a corrupção - facilitada pelos complexos e penosos ambientes regulatórios, regimes fiscais ineficientes e sistemas judiciais fracos incapazes de proteger os investidores e os direitos de propriedade - é generalizada em muitas economias emergentes, dificultando o crescimento sustentado. Melhorar a governação e impulsionar o Estado de direito são essenciais para suportar a produtividade e o crescimento de longo prazo do PIB.
O motor de crescimento das economias emergentes não gripou; simplesmente precisa de ser reparado. Com as políticas adequadas e reformas estruturais, as economias emergentes podem recapturar o seu dinamismo e mover-se para um caminho de crescimento ainda mais forte - levando toda a economia global com elas.
Lee Jong-Wha é professor de Economia e director do Instituto Asiático de Pesquisa da Universidade da Coreia. O seu mais recente livro, em co-autoria com Robert J. Barro, da Universidade de Harvard, é Education Matters: Global Gains from the 19th to the 21st Century.
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Tradução: Raquel Godinho