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17 de Novembro de 2013 às 18:42

A busca por valor da China

No final de Setembro, uma nova zona de comércio livre foi lançada em Xangai, com o objectivo de ser um marco para o começo de uma nova era, não apenas de abertura ao investimento, comércio e finanças, mas também de um aprofundamento da integração da China na cadeia de valor mundial. A zona promete ser o pontapé inicial numa ronda de reformas de liberalização e ajudar a economia chinesa a adaptar-se às últimas exigências da globalização.

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Durante a próxima década, a competição mundial vai ser definida como a competição pela cadeia de valor mundial. À medida que os Estados Unidos e outros países desenvolvidos procuram a “re-industrialização” e a vantagem comparativa da China – os baixos salários – vai diminuído, Pequim tem de restabelecer a sua competitividade colocando-se no topo da cadeia de valor mundial, o que implica promover o comércio e melhorar a sua infra-estrutura industrial.

 

E isto exige, em primeiro lugar e mais importante, que a China construa uma cadeia de valor nacional e promova o seu sector manufactureiro, que actualmente depende excessivamente da pesquisa e desenvolvimento externo, importações de matérias-primas e peças semiacabadas e da procura externa. A cadeia de valor destes sectores, ao nível doméstico, é lamentavelmente fraca.

 

A zona de comércio livre de Xangai promete facilitar o progresso nestas três áreas cruciais. Em primeiro, deverá melhorar a taxa de localização do sector de peças e componentes através da aceleração da transmissão das matérias-primas, intermediando entradas e integrando a produção voltada para as exportações com as indústrias domésticas.

 

Em segundo lugar, e de acordo com 12º plano quinquenal chinês, a zona de comércio livre tem por objectivo ampliar a cadeia de valor industrial e melhorar os conteúdos de valor acrescentado. Promovendo a coordenação dos investimentos domésticos e externos em termos do sector manufactureiro e reforçando a classificação do sector e a sua capacidade de avaliação. Ao mesmo tempo, deve preservar o nível das condições de concorrência, proibindo explicitamente uma alteração das regras, limitando o estabelecimento de barreiras de entrada e de saída em várias indústrias e usando impostos, fundos e autenticação das marcas para cultivar a competitividade.

 

Em terceiro lugar, a zona de comércio livre deve encorajar as empresas multinacionais a expandir as suas operações chinesas além das fábricas. A China deve ser também o local do design, da distribuição e da divisão de serviços. Isto optimizará a relação entre as empresas-mãe e as subsidiárias e encorajará a mudança do modelo de simples produtores do passado para um modelo caracterizado pela integração de serviços e de operações mundiais.

 

Durante a última década, as multinacionais demonstraram de forma crescente o seu interesse em estabelecer sedes, regionais e mundiais, e centros de pesquisa e desenvolvimento em Xangai. Em Setembro de 2012, Xangai era a sede regional de 393 multinacionais.

 

Por isso, a China tem uma oportunidade rara de expandir o seu potencial de crescimento através da estimulação da procura interna. A melhoria gradual da sua força de trabalho, em termos de habilitações e de produtividade, em conjunto com a sua relativamente forte capacidade de absorver investimento externo de elevado valor, vai conduzir ao desenvolvimento económico. E à alteração do foco das multinacionais, dos mercados Ocidentais para região da Ásia-Pacífico, vai transformar a cadeia mundial de valor.

 

À medida que a zona de comércio livre de Xangai se transforma num centro financeiro mundial, vai ter também de determinar como é que vai atrair factores de produção de alto nível. Para este fim, a somar aos impostos, financiamento e políticas que facilitem o comércio, Xangai deverá estabelecer mecanismos de promoção do comércio nos maiores mercados mundiais de exportações, para que as empresas possam construir redes internacionais de plataformas de serviços comerciais e zonas de cooperação comercial com o estrangeiro.

 

A futura competitividade da China depende também da sua integração na nova onda mundial e regional de regimes regulatórios. Embora estejam a decorrer várias negociações comerciais e de investimento – incluindo o Acordo sobre o Comércio de Serviços (TISA), a Parceria Transatlântica (TPP) e a Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento (TTIP) – as políticas chinesas continuam amplamente definidas pela estrutura tradicional da Organização Mundial do Comércio (OMC).

 

Mas os acordos que estão a ser negociados poderão oferecer muito mais espaço de manobra do que o regime mais restritivo da OMC. Por exemplo, as negociações da TISA nas áreas das finanças, acções e serviços jurídicos resultaram na ausência de restrições à propriedade estrangeira ou no âmbito de um negócio. Mas a adesão da China às regras da OMC sobre investimento externo impediu-a de participar nas negociações da TISA e, em última análise, travou as suas ambições comerciais e de investimento (as políticas internacionais são responsáveis pela exclusão da China das negociações da TPP e TTIP).

 

Contra este enquadramento, a zona de comércio livre de Xangai demonstra a prontidão da China em participar de forma activa nas negociações mundiais do comércio livre, com o objectivo de promover uma estratégia compreensiva de comércio livre, salvaguardando assim os interesses mundiais da China. O papel de Xangai no comércio, financiamento, investimento e embarque – em conjunto com um sector dos serviços cada vez mais aberto, melhorias no ambiente regulatório e o foco na inovação institucional – vai eventualmente conduzir a uma reforma do mercado interno e levar a uma integração da China em novos acordos comerciais.

 

O objectivo final da zona de comércio livre de Xangai é ajudar a China a explorar na totalidade a procura potencial do seu mercado interno. O “dividendo” inicial da globalização chinesa, adquirido através de baixos custos de produção, está a diminuir rapidamente e uma nova era – caracterizada pela resiliência substancial do mercado interno em absorver os factores externos de produção de alto-nível, tais como a tecnologia e o capital humano – está apenas a começar.

 

A tarefa dos líderes chineses é expandir as políticas que têm como objectivo impulsionar a procura interna, enquanto trabalham para melhorar as capacidades de base da economia e melhorar a sua capacidade relativa de absorção de elevado valor-acrescentado e investimento externo de alta tecnologia. Avançar com uma estratégia de desenvolvimento baseada na inovação e promovendo o surgimento de mais indústrias, melhoraria a qualidade e o nível de apoio externo e de cooperação.

 

Com o rápido crescimento nos mercados locais, a China pode tornar-se numa das principais fontes de procura mundial, num centro de factores de produção de alto nível e um centro estratégico, com a zona de comércio livre de Xangai no centro. Nesta posição, a China teria finalmente a cadeia de valor doméstica que precisa para sustentar a competitividade e o rápido crescimento económico. 

 

Zhang Monan é membro do Centro de Informação da China, membro da Fundação Chinesa de Estudos Internacionais e investigador da Plataforma de Pesquisa Macroeconómica da China.

 

Copyright: Project Syndicate, 2013.
www.project-syndicate.org

Tradução de Ana Laranjeiro

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