Opinião
Tendência
"Tendência" é uma palavra mágica, acreditem. Não esteticamente, com aquele perfume diáfano que se entranha na poesia ou torna escorreita a prosa, mas pela profundeza conceptual e pela magnitude das suas consequências para os investidores.
"A teoria dos ciclos…é falsa e reaccionária."
Enciclopédia Soviética
"Tendência" é uma palavra mágica, acreditem. Não esteticamente, com aquele perfume diáfano que se entranha na poesia ou torna escorreita a prosa, mas pela profundeza conceptual e pela magnitude das suas consequências para os investidores.
No jogo dos mercados, dir-se-á que a melhor das tendências a seguir é a que o próprio consegue desencadear, segundo o princípio "a melhor maneira de prever o futuro é inventá-lo" (1). Coco Chanel, nos anos 20, ditou a tendência do preto para vestir as mulheres (2) e a sua casa de moda nunca deixou de ser seguida, chegando a ser a mais lucrativa de sempre, 50 anos mais tarde. E quando Chester Carlson inventou a xerocópia, sabia, dizia-o ele, que "tinha um tigre preso pela cauda". Criou o mercado e ficou infectamente rico.
Embora seja "muito difícil prever, principalmente para o futuro", há outra maneira de antecipar a tendência (e até existem esotéricas empresas de consultadoria que a isso se dedicam, segundo parece com grande pompa e desapontadores resultados (3)). É o caminho de Gilbert Trigano e do seu Clube Mediterranée nos anos 50, detectando os sinais que vão desencadear os eventos, a pré-tendência por assim dizer. Ele viu a ascensão da abastança das classes médias, o gosto pela imitação dos ricos ociosos, a libertação do trabalho e o culto do lazer, bem como a proliferação dos transportes, e previu a tendência para o turismo de massas travestido de luxo. Trigano ficou como Cresus, e até foi condecorado, o que não tem qualquer espécie de interesse.
E para nós, que não somos nem Trigano, Chanel ou Carlson, mas que ambicionamos (e conseguimos) fazer com os nossos cabedais o que Deus disse aos Homens sobre crescer e multiplicar? Para nós, no jogo dos mercados financeiros, basta seguir a tendência, pois a evidência empírica demonstra exuberantemente, até de forma incontestável, que há duradoiros ciclos de subida ("Bull") e de descida ("Bear"). Não adivinhamos a tendência nem a criamos, mas entramos nela quando os sinais são de que ela rompeu e só saímos quando ela manifestamente quebrou, mas não antes. Se as acções estão demasiado caras ou baratas ninguém sabe (no sentido do que podem subir ou descer), a não ser o próprio mercado, e o mercado tem sempre razão, mesmo quando não tem. Por isso é que Greenspan, então o grande guru, se pudesse jogar em acções, não ganharia nem metade de um seguidor de tendências, no grande "Bull Market" dos anos 90. Ele que, em 1996, preveniu o público contra a "exuberância irracional" reinante (e tratava-se de um eufemismo, porque a verdade é que andava tudo alucinado, principalmente depois da dita frase, durante quase quatro anos) .
Então a grande estratégia para ganhar - principalmente na perspectiva do pequeno investidor, que tem por si, neste jogo assimétrico do investimento, a grande vantagem da agilidade, podendo construir ou desfazer uma carteira quase instantaneamente, nos momentos críticos - é a do velho aforismo com mais de 100 anos, "Cut the losses, let the profits run". (4)
Quem assim fez no ultimo decénio, por exemplo, escapou ao presente descalabro de 2008/9, algures nos finais de 2007, preservando as mais-valias acumuladas no "Bull Market" 2003-2007. E se conseguiu acompanhar a queda em "Bear Market", com "short selling", então ganhou com a tendência, tanto na subida como na descida.
"The trend is your friend", ok?
(1) Sou um adepto fervoroso de ditos e aforismos, pela laracha e/ou pela possível prova empírica que contêm. Adiante há mais.
(2) O "chador" muçulmano não passa de um preocupante desvio ideológico.
(3) Uma das mais desastradas que conheço foi produzida nos anos 60 por um muito badalado "guru" da época, Herman Kahn, e essa era que para o ano 2000, a potência económica dominante seria…a França.
(4) Isto como estratégia geral de "timing the market", que não exclui, antes coabita, com a oportunística de "ir aos saldos", em épocas de excessiva depressão ou de momentânea perda de um "papel" promissor"; e a cautelar de diminuir a exposição, nas euforias.
Advogado, autor de "Ganhar em Bolsa" (ed. D. Quixote) e "Bolsa para Iniciados" (ed. Presença) fbmatos1943@gmail.com
Assina esta coluna semanalmente à sexta-feira
Enciclopédia Soviética
"Tendência" é uma palavra mágica, acreditem. Não esteticamente, com aquele perfume diáfano que se entranha na poesia ou torna escorreita a prosa, mas pela profundeza conceptual e pela magnitude das suas consequências para os investidores.
Embora seja "muito difícil prever, principalmente para o futuro", há outra maneira de antecipar a tendência (e até existem esotéricas empresas de consultadoria que a isso se dedicam, segundo parece com grande pompa e desapontadores resultados (3)). É o caminho de Gilbert Trigano e do seu Clube Mediterranée nos anos 50, detectando os sinais que vão desencadear os eventos, a pré-tendência por assim dizer. Ele viu a ascensão da abastança das classes médias, o gosto pela imitação dos ricos ociosos, a libertação do trabalho e o culto do lazer, bem como a proliferação dos transportes, e previu a tendência para o turismo de massas travestido de luxo. Trigano ficou como Cresus, e até foi condecorado, o que não tem qualquer espécie de interesse.
E para nós, que não somos nem Trigano, Chanel ou Carlson, mas que ambicionamos (e conseguimos) fazer com os nossos cabedais o que Deus disse aos Homens sobre crescer e multiplicar? Para nós, no jogo dos mercados financeiros, basta seguir a tendência, pois a evidência empírica demonstra exuberantemente, até de forma incontestável, que há duradoiros ciclos de subida ("Bull") e de descida ("Bear"). Não adivinhamos a tendência nem a criamos, mas entramos nela quando os sinais são de que ela rompeu e só saímos quando ela manifestamente quebrou, mas não antes. Se as acções estão demasiado caras ou baratas ninguém sabe (no sentido do que podem subir ou descer), a não ser o próprio mercado, e o mercado tem sempre razão, mesmo quando não tem. Por isso é que Greenspan, então o grande guru, se pudesse jogar em acções, não ganharia nem metade de um seguidor de tendências, no grande "Bull Market" dos anos 90. Ele que, em 1996, preveniu o público contra a "exuberância irracional" reinante (e tratava-se de um eufemismo, porque a verdade é que andava tudo alucinado, principalmente depois da dita frase, durante quase quatro anos) .
Então a grande estratégia para ganhar - principalmente na perspectiva do pequeno investidor, que tem por si, neste jogo assimétrico do investimento, a grande vantagem da agilidade, podendo construir ou desfazer uma carteira quase instantaneamente, nos momentos críticos - é a do velho aforismo com mais de 100 anos, "Cut the losses, let the profits run". (4)
Quem assim fez no ultimo decénio, por exemplo, escapou ao presente descalabro de 2008/9, algures nos finais de 2007, preservando as mais-valias acumuladas no "Bull Market" 2003-2007. E se conseguiu acompanhar a queda em "Bear Market", com "short selling", então ganhou com a tendência, tanto na subida como na descida.
"The trend is your friend", ok?
(1) Sou um adepto fervoroso de ditos e aforismos, pela laracha e/ou pela possível prova empírica que contêm. Adiante há mais.
(2) O "chador" muçulmano não passa de um preocupante desvio ideológico.
(3) Uma das mais desastradas que conheço foi produzida nos anos 60 por um muito badalado "guru" da época, Herman Kahn, e essa era que para o ano 2000, a potência económica dominante seria…a França.
(4) Isto como estratégia geral de "timing the market", que não exclui, antes coabita, com a oportunística de "ir aos saldos", em épocas de excessiva depressão ou de momentânea perda de um "papel" promissor"; e a cautelar de diminuir a exposição, nas euforias.
Advogado, autor de "Ganhar em Bolsa" (ed. D. Quixote) e "Bolsa para Iniciados" (ed. Presença) fbmatos1943@gmail.com
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