Opinião
Super Bock, Castello
Na publicidade sazonal do Verão, volta a destacar-se o humor da publicidade exterior da Super Bock em torno de jogos de palavras e imagens com o nome da marca, as garrafas e copos de cerveja: os anúncios com o reflexo da garrafa nuns óculos Ray Ban, com o
Na publicidade sazonal do Verão, volta a destacar-se o humor da publicidade exterior da Super Bock em torno de jogos de palavras e imagens com o nome da marca, as garrafas e copos de cerveja: os anúncios com o reflexo da garrafa nuns óculos Ray Ban, com o rótulo transformado em bikini ou com o pé do cálice transformado em "fino dental" mantêm o nível dos anos anteriores anúncios de humor fresco sem chegar a ser rebuscado.
A Super BockGreen, depois de um filme bastante tolo baseado na sede que leva as pessoas a ficarem com a língua presa no gargalo de tanto procurarem chupar a última gota, apresenta agora um outro anúncio, inspirado directamente no filme sul-africano "Os Deuses Devem Estar Loucos" (1980).
A garrafa de Coca-Cola "enviada pelos deuses" aos buchímanes do deserto de Calahari é aqui substituída por uma garrafa de Super Bock Green. Mas, em vez de a tentarem devolver aos deuses, como no filme original, no anúncio os buchímanes pedem mais e recebem do céu um camião gigante com a cerveja. Da inicial recusa da Coca-Cola passamos para o vício com outro produto da "civilização".
Quanto às campanhas da Super Bock sem álcool com Bruno Nogueira e em outdoors estão a milhas da graça dos outros que refiro - o humor de Nogueira está gasto, gira em torno dele mesmo e ele mesmo não chega para ter graça; e os anúncios da publicidade exterior parecem incompletos e apressados, acusando a incapacidade do slogan "perfeito, perfeito era..." a que já me referi num artigo anterior.
A Água Castello segue o caminho exactamente inverso da Super Bock sem álcool: enquanto esta tira o álcool a uma bebida que nasceu com ele, a Água Castello, que nasceu e se apresenta sem ele, simula que fica bem quando alcoolizada. Os anúncios de imagem fixa e em movimento não são nisso claros como... água, mas induzem essa ideia com elegância formal e eficácia comunicativa. O slogan diz: "Não é água. É Castello".
Esta "declaração de princípios" parece ao primeiro contacto assemelhar a água da marca a tantas outras bebidas que ultimamente chegaram ao mercado "demarcando-se" do "conceito" água: as águas vitaminadas, de sabores, os chás, as tisanas, etc. Isoladamente, o slogan aponta para isso, sugerindo que, com o adicionado carbono, a água vale por si. Mas não é disso que se trata.
Esta água apresenta-se numa campanha esteticamente valiosa que sugere o seu consumo misturada com substâncias que alteram o estado normal do consumidor, neste caso bebidas alcoólicas. Os anúncios lembram a arte psicadélica, surgida nos anos "60 com a generalização do consumo de drogas e outros excitantes psicadélicos, de que servem aqui de exemplo a capa do LP "Revolver", dos Beatles, ou um desenho que sugere a incerteza do olhar.
Os reclames recorrem à alteração da normalidade visual quando vista através de um copo com Castello: as linhas rectas tornam-se curvas e as curvas alteram o seu percurso.
Apesar da transparência das imagens sugerir que "É (apenas) Castello", o observador soma qualquer coisa à agua em consequência do efeito visual: whisky, vodka, o que for. Este efeito é ainda mais evidente no anúncio de televisão, com umas bolas pretas em fundo branco aumentando e diminuindo por trás e em volta da garrafa, sugerindo visões de discoteca. Os reclames conseguem atingir o seu objectivo subliminar através de um processo simples e interessante do ponto de vista estético.