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Reinventar a Matrix

A 13 de Julho de 1985, simultaneamente em Londres e Filadélfia, Bob Geldolf, na companhia de uma impressionante e mediática tribuna de artistas, deu início ao maior espectáculo musical da época, o Live Aid...

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A 13 de Julho de 1985, simultaneamente em Londres e Filadélfia, Bob Geldolf, na companhia de uma impressionante e mediática tribuna de artistas, deu início ao maior espectáculo musical da época, o Live Aid, concerto que pretendeu centrar na agenda política internacional e na consciência da opinião pública mundial, preocupação maior, perante um dos principais flagelos do mundo, a fome, em particular no continente africano, tão escandalosas eram as assimetrias sociais contrastadas com os países desenvolvidos.

‘Feed the world’ foi o lema, a fraternidade e a solidariedade o denominador comum, imperativos  tão afastados dos corredores do poder.

Recentemente, quase vinte anos volvidos, a mais emblemática canção «Do They Know It’s Christmas?» voltou aos top’s internacionais, com acordes musicais de cara lavada por um Bob Geldof de rosto enrugado, acompanhado pelos mais mediáticos intérpretes musicais da altura e da actualidade, alguns dos quais, com fortunas pessoais maiores que os PIB’s de alguns países africanos...

A reedição à escala mundial do concerto pretendeu alcançar uma dupla finalidade: celebrar as duas décadas passadas sobre o primeiro trabalho e, continuar a promover, com os mais firmes propósitos humanitários, a sensibilização dos governos, das organizações humanitárias e das não governamentais, bem como dos interesses privados em geral.

Mas afinal, além da melodia, o que é que pode ser celebrado? Quais os avanços verificados na duas últimas décadas que nos permitam encarar os próximos anos com alguma confiança? Um único, mas mortífero dado estatístico põe a descoberto a situação: em cada ano morrem mais de quarenta milhões de pessoas de fome (sem contabilizar a mortalidade decorrente das doenças derivadas) e mais de metade são crianças, o que corresponde ao extermínio anual do quadruplo da população portuguesa e permite continuar a afirmar de forma tenebrosa que a fome mata mais do que a guerra!

Vivemos numa espécie de embuste social, com dupla realidade, escamoteamos problemas nucleares e cada vez mais nos deixamos inebriar pelo verdadeiro mito em que se transformou o maior ícone da modernização, a Sociedade da Informação que teima em não se transformar na «Sociedade da Alimentação» para um assustador número de habitantes do planeta.

Inequivocamente, aplaudimos a Estratégia de Lisboa e todos os enfoques que possam transformar a Europa num dos mais competitivos mercados mundiais, principalmente, a nível da Informação e do Conhecimento e continuamos a aplaudir também todas as intenções políticas extra-europeias a esse respeito porém, é incoerente fechar os olhos a realidades cruas e violentas e muitas vezes recusamos ler ou ouvir que há países em que a esperança de vida ao nascer está reduzida em cerca de 25 anos ou que há continentes onde o analfabetismo ultrapassa os 50% da população!

Schumpeter já dizia que o século XXI teria condições de vida caóticas, Ricardo Petrella vem dar-lhe razão quando afirma que milhares de pessoas morrem por dia por falta de água potável.

Sabemos também, que só no velho continente, existem seis milhões de desempregados de longa duração...

Constatamos afinal que o mágico advento da Globalização, não trouxe melhor condição de vida, nem sequer um mundo mais equilibrado, bem pelo contrário: a SIDA, por exemplo é bem reveladora da catástrofe de proporções incalculáveis que faz desmoronar várias regiões no mundo.

Todos os anos esforços internacionais promovem reuniões à escala do planeta, no entanto, essas jornadas de sensibilização limitam-se em muitas situações, a editar um conjunto de documentos, em forma de actas e discursos, que teimosamente se recusa a prática.

Convém compreender as estatísticas mas não chega, até porque falar de pobreza não avalia a verdadeira dimensão dos pobres, falar de desemprego não resolve os problemas dos desempregados.

Não podemos esquecer que somos tão fortes quanto os elementos mais fracos da sociedade a que pertencemos, por isso, é obrigatório nivelar por cima, de outra maneira, Schumpeter e Petrella terão mais razão do que nunca.

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