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Moral da estória

Em época de crise como a que atravessamos, verifica-se falta de emprego, mas não de trabalho: a construção civil, por exemplo, continua a vingar e trabalhadores precisam-se.

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Parece não existirem dúvidas quanto às vantagens do respeito pela disciplina resultante da norma jurídica orientada por critérios claros, por todos compreendidos, demonstrando que a autoridade é algo de salutar e fundamental para viver em sociedade, que não pode ser confundida com o estéril autoritarismo de pendor arrogante, imposto a todo o transe, sem conseguir sequer obter na maior parte das vezes os resultados desejados.

A título de exemplo, mencionam-se as novas regras do código de estrada, o combate à fraude e à evasão fiscal ou ainda a alteração dos regimes de baixas fraudulentas para demonstrar que, por decreto, também se alcançam resultados mais encorajantes e moralizadores apesar da já velha e habitual permissividade no generalizado incumprimento de quase tudo. É bom perceber que fazer o papel do bom aluno vale a pena e nem sempre nos relega para um estatuto de menoridade face aos «chicos espertos».

É certo que as alterações de comportamentos de gerações não se modificam de um dia para o outro e os resultados, ainda que mais lentos do que o desejado, lá vão acontecendo de forma silenciosa.

O governo, as autarquias locais e os responsáveis dos organismos privados devem conjugar esforços para o reforço da coesão social, aptos a fazerem compreender a todos que as «tolerâncias zero» deste mundo não são mais que o cumprimento das leis instituídas e atitudes fraudulentas e criminosas não compensam.

Torna-se fundamental prevenir o mal, afinal o único conceito universal e verdadeiramente global, e essa prevenção deve impor-se de duas formas: práticas dissuasoras e propedêuticas apoiados em boas campanhas de «marketing» social, mas também através da certeira penalização dos que prevaricam, que não podem ficar impunes e, para cúmulo, tantas vezes galardoados pelas luzes das notícias de uma comunicação social de estranhas actuações e protagonistas que geram efeitos nefastos através da reacção em cadeia do fenómeno de imitação.

A liberdade é um dos maiores adventos da Democracia mas os excessos, aqueles que se confundem com a libertinagem são preocupantes e não podem fazer escola no nosso quotidiano.

Mesmo nas gerações mais novas onde parece residir grande parte da conflitualidade social mas que ainda assim nunca poderá ser rotulada como «geração rasca», bem pelo contrário, não pode confundir-se irreverência com anarquia.

Mas a questão nada tem a ver com problemas da adolescência, antes com questões sociais profundas e, aparentemente, distantes. Muitos confundem Emprego e Trabalho, porém, são coisas distintas e as diferenças não devem ser só encaradas da perspectiva negativa: emprego pressupõe segurança social com tudo o que isto quer dizer na leitura literal das palavras. Trabalho, nem sempre... Em época de crise como a que atravessamos, verifica-se falta de emprego, mas não de trabalho: a construção civil, por exemplo, continua a vingar e trabalhadores precisam-se, contudo, é nos emigrantes que se consubstancia a maior faixa destes trabalhadores que, quantas vezes, nunca foram empregados, embora trabalhem para além do horário normal, com poucas ou nenhumas garantias que no final do mês recebam o que lhes é devido, muito menos com número na Segurança Social. São estes os primeiros a sofrer na pele o efeito da crise e os filhos de emigrantes, as segundas e terceiras gerações que, para os mais distraídos, já estão inseridos na sociedade, são os mais desintegrados, quer por verem os pais com trabalhos precários e mal pagos, quer por não os conseguirem arranjar para si e nada mais é preciso para fazer gerar a revolta. Revolta de morar onde ninguém quer, em guetos onde só eles entram e de se sentirem mirados com desconfiança onde quer que vão. O que sobra? Quem é tratado de forma marginal, torna-se marginal e recorre a fontes de rendimentos marginais, actuando marginalmente em tráficos dos mais variados, onde o risco é elevado mas parece compensar para atingir uma condição de vida que nunca tiveram. Não há barreiras, nem obstáculos e se necessário mata-se e morre-se. É um risco, como qualquer outro.

Num país de acolhimento fantástico como Portugal tem sido, o medo instala-se e a xenofobia enraíza-se e cresce.

De outra forma atitudes como a do «arrastão» em Carcavelos ou no areal da Quarteira poderão tornar-se realidades que invariavelmente acontecerão mas nunca se saberá onde e quando.

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