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«Danos colaterais»

Que se motivem as cimeiras do G-8 para o combate à instabilidade política e às milionárias receitas da indústria do armamento que diariamente, discreta ou indirectamente chacinam milhares de vidas.

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A guerra, actividade milenar, arte dos eleitos e recurso dos eleitores, tem moldado progressivamente a geografia física  e humana do planeta, contribuindo decisivamente para que dos direitos internacionais, quase sempre sinónimos das vontades do mais forte, resultem crescentes assimetrias globalmente localizadas.

Desde o Congresso de Viena que as relações internacionais e as mais sagazes estratégias dos diplomatas, apregoam que os conflitos regionais de dimensão internacional na vertente armada, estão em crescente desuso.

No entanto, ainda que acreditando no desempenho entusiástico dos governos e das organizações para a paz na proporcional diminuição dos conflitos entre os  Estados, certo é que o número de vítimas tende cada vez mais a aumentar.

Desde a denominada Segunda Grande Guerra Mundial, na prática uma guerra fundamentalmente europeia, que se assiste a um crescente número de vítimas civis, ultrapassando em muito o número das baixas militares.

O conceito de guerra total, tão bem protagonizado na década de quarenta pelos aviões do III Reich, despoletou a semente do caos, da desordem, da matança indiscriminada e hoje as estatísticas permitem-nos saber que normalmente por cada soldado, morrem nove civis. De facto, são dados impressionantes!

A guerra, tantas vezes apelidada de mal benéfico, pelo progresso tecnológico que promove, não está a desaparecer, está objectivamente cada vez mais perigosa, mas?para as populações civis, não só porque espalha a morte e o terror, mas também porque se mistura com o terrorismo e a vingança tantas vezes aleatória.

A alta tecnologia está no contínuo aperfeiçoamento da indústria do armamento, sempre lucrativa e de preços arbitrários, alheada aliás de qualquer recessão económica.

Nos tempos que correm, contingentes militares inimigos podem ser detectados em tempo real. As tácticas militares estão cada vez mais automatizadas; aviões sem pilotos; mísseis teleguiados; munições de alta precisão e autómatos blindados, fazem do campo de batalha um laboratório louco e fatal, a que só ciber-soldados, equipados «à robocop» e dopados contra o medo e o stress conseguem aguentar. Resultado?! As populações civis registam as principais baixas.

Nos dias de hoje, existem cada vez mais profilaxias de paz e de mediação causas internacionais mas também as populações, no passado, temiam o drama dos conflitos armados mas sabiam que tinham razoáveis hipóteses de saírem ilesas, caso não fossem mobilizadas.

Vivemos num mundo estranho, também as estatísticas dos fóruns internacionais, os emblemáticos concertos de música pop e rock revelam que no planeta ainda se morre mais de fome do que em consequência da guerra, no entanto, impõem-se uma interrogação: quando num campo de refugiados, num qualquer Ruanda deste mundo, milhares morrem de cólera, será que morreram de doença crónica, ou será que foram vítimas da guerra?

Ou, se quisermos, noutro registo: na Bósnia, durante a chamada limpeza étnica, as largas centenas de mulheres que foram violadas e mortas, foram alvo de crimes de delito comum ou verdadeiras vítimas da guerra?

E em todos os «Iraques» deste mundo?

Clamar pelo fim da fome no mundo é bonito mas simultaneamente estéril. Que se motivem as cimeiras do G-8 para o combate à instabilidade política e às milionárias receitas da indústria do armamento que diariamente, discreta ou indirectamente chacinam milhares de vidas

Diz o povo que em tempo de guerra não se limpam armas, mas também diz que para grandes males grandes remédios e, a ser assim, o cidadão comum sabe que em tempo de guerra pelos vistos é mais seguro ser militar do que um pacato chefe de família...

Agora que passaram dez anos sobre os horrendos acontecimentos de Srebrenica mais do que nunca devem ser preservadas as imagens do passado para que no futuro não voltem a acontecer sob nenhum pretexto.

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