Os serviços públicos a todos devem preocupar até porque funcionam com o dinheiro dos contribuintes e atribuem-nos, no mínimo, uma espécie de estatuto patronal, responsabilizando-nos moralmente pela gestão da coisa pública.

À imagem e semelhança do sector privado, a Função Pública deve aplicar e cumprir o sacrossanto princípio da auto-suficiência, da alta produtividade e da racionalização de meios humanos e materiais tanto mais que, nesta época com tantos modelos de gestão do conhecimento, da elevação ao expoente máximo do capital humano como a quinta-essência do processo produtivo, existem certamente medidas de maior eficácia do que a complexa mas redutora visão da «simples» criação de novos institutos ou mesmo ministérios. Porém, agora que vamos assistir a uma reorganização dos serviços que não será feita hermeticamente sob eles próprios, para resolver questões dos funcionários e, só depois, dos cidadãos, sabemos que as dificuldades respiratórias da administração pública, vão aumentar com o fim anunciado de algumas benesses, nomeadamente a nível das sensíveis e intocáveis revisões do actual sistema de carreiras e remunerações, das alterações da idade da reforma ou ainda do início dos descontos para outra entidade que não a ADSE, por via dum manifesto aumento da desmotivação dos filhos da máquina pública.

E como se fossem necessárias provas de revolta e de descontentamento, elas são-nos dadas pelas entrevistas feitas a funcionários públicos que nos deixam boquiabertos quando afirmam que quando entraram as regras eram diferentes e agora não se deviam poder mudar a meio do jogo... perante isto concluímos que poucos são os funcionários públicos que respiram sozinhos, os outros estão literalmente ligados à Máquina... e, para o bem e para o mal, ou como dizem os cépticos, para o mal e para o mal, a verdade é que estamos todos ligados!

O Estado tem uma relação de desgaste com os contribuintes pois na balança dos prémios e das penalizações, os primeiros parecem ir só para os funcionários públicos a quem o Estado protege, garantindo emprego para a vida toda. Os contribuintes zelosos e cumpridores, mas que não servem o Estado directamente, sentem-se descompensados, pois até mesmo quando compram um bilhete da lotaria sabem que a possibilidade de serem premiados é igual à dos outros jogadores, o que não acontece neste relacionamento provocador de desigualdades. A Administração Pública é um Adamastor que quer que lhe demonstremos sinais de amizade, mas que não retribui.

O próprio exercício da cidadania plena em simultâneo com as nossas obrigações como profissionais e pais é impossível, na medida da justaposição dos horários das repartições públicas com os horários de trabalho ou seja, é obrigatório que cada um voluntariamente diminua os índices de produtividade, faltando ao emprego, para resolver  assuntos relativos ao Estado que, não só não premeia, como não vai ao encontro do cidadão, é este que tem que ir ao seu encontro, com manifesto prejuízo para todos. Certo é que a possibilidade de entrar em contacto virtual com o Estado é cada vez maior, por via da utilização da Internet, e impera a necessidade de aumentar a dinamização de «front-offices» e de «virtual-offices», evitando o tentacular e pesado «back-office» estatal...

A aproximação do Estado ao cidadão tem sido um passo que pouco significa ainda para a maioria dos portugueses, pois não importa os passos que damos e sim o caminho que percorremos, se não vejamos: em Portugal existem 10 Lojas do Cidadão e mais de 50 PAC (Postos de Atendimento ao Cidadão), mas mais de 4250 freguesias. Note-se que o horário das Lojas do Cidadão é das 8.30 às 19.30 bem como aos sábados de manhã, embora com horários diferenciados, mas até na página da Internet, os horários têm uma ressalva: Por favor, tenha em atenção que devido à afluência de público, alguns postos de atendimento podem encerrar a distribuição de senhas mais cedo. Obrigado pela sua compreensão.