Opinião
"Stock picking": factores qualitativos
Agora que se pode esperar uma saudável acalmia nos mercados bolsistas, entrando-se em tendência lateral de consolidação (eu, pelo menos, assim desejo), vai-se abrir o tempo para pensar em modos mais finos de organizar a carteira de acções, para além dos...
(Onde se discorre, com a eloquência habitual, sobre excelente método de escolher acções - ou, pelo menos, evitar as más - para além dos habituais critérios quantitativos de Value Investing).
Agora que se pode esperar uma saudável acalmia nos mercados bolsistas, entrando-se em tendência lateral de consolidação (eu, pelo menos, assim desejo), vai-se abrir o tempo para pensar em modos mais finos de organizar a carteira de acções, para além dos típicos de "tempo de mercado em recuperação e volatilidade alta"(1) - que passam por encontrar Betas elevados, sectores cíclicos, etc, andando "rapidamente e em força", dada a extrema velocidade dos mercados actuais.
Excepto os investidores género "jogo da glória" - que, mais tarde ou mais cedo, vão ser expulsos do mercado, cumprindo a missão solidária de enriquecer os outros, - todos os outros vão regressar às boas práticas analíticas da avaliação de rácios quantitativos, os velhos PER(2), PCF, ROE, ROC,PBV, DY…
Excepto a ideia da segunda nota de rodapé, pouco referenciada, tudo o que há para dizer já foi dito e por isso não vou continuar a chatear. Vou chatear, sim, mas de outro modo, afirmando coisas óbvias mas muitas vezes pouco valorizadas, como a minha experiência com tantos investidores individuais me assegura (até me deviam chamar F. B. de Matusalém).
Agora vou entrar no domínio dos intangíveis, logo de factores não mensuráveis mas determinantes, coisas como qualidade e ramo de negócio, management, liderança, inovação…
O tema foi a "Economist" que mo sugeriu: neste "soul searching" e crucificação de vilãos na ressaca (esperemos) da Grande Crise do Crédito, indo à "banca-sombra", (muitas vezes designada redutoramente como "banca de investimento", donde partiu o quase "derretimento" do sistema financeiro), concluímos que, também aí, uns tramaram-se e outros safaram-se e vão até progredir mais, não por serem mais ou menos canalhas, mas por serem melhores ou piores. Lehman e Goldman Sachs: o abismo do resultado final emanou do abismo da qualidade das empresas, tão simples como isto(3) - diz a distinta revista.
Mas não é necessário nem intelectualmente correcto extrair arquétipos deste exemplo "freakanomics"; basta seguir o dia-a-dia ou o ano-a-ano, vendo até reforçada a ideia com o prémio Nobel da Economia deste ano, atribuído a Williamson(4).
Veja estes exemplos e transponha-os para o seu campo de análise e escolha de acções:
- Quem tivesse investido 10.000 USD na IPO da Micrsoft teria, em 1995, 3.800.00. Ideia e capacidade comercial (O Mackintosh sempre foi melhor) vieram ao de cima.
- Uma forma de recrutamento da Google consistiu em colocar grandes painéis em lugares críticos com o enunciado de um complicadíssimo problema matemático e um e-mail adress do destinatário da resposta. Conseguiu captar deste modo pessoas extremamente hábeis, e com tal espírito inquisitivo que se deram ao trabalho de responder ao anúncio, sem qualquer incentivo a não ser aquele mesmo.
- Gestores da Sonae que seguiram o seu destino fundando ou chefiando empresas mostraram, pelo êxito, a excelência da escola Belmiro.
- A Mota-Engil foi a empresa de construção civil que mais subiu no último mês , entre as 136 listadas pela Bloomberg a nível mundial (30%), coincidindo a ascensão com o dia em que a vitória eleitoral do PS se tornou aparente. As relações do patrão com o patrão-mor , em "crony capitalism" ("capitalismo de compadres"), são mais vantajosas que qualidade - interessante "factor qualitativo" em avaliação de empresas.
Desculpem, mas tenho que acabar, porque a execrável piada machista da nota de roda-pé nº 4 caiu muito mal com a minha mulher e tenho que sair de casa.
(1) VIX (indicador de volatilidade da Bolsa de Chicago), por exemplo, encontra-se de novo na zona próxima dos 20, valor de relativa estabilidade, mais ou menos próximo do tempo anterior ao Factor Lehman (aqui esteve nos 80!)."
(2) A velha receita Graham, emulada pelo inevitavelmente citado Buffett, despreza previsões de resultados e recolhe antes séries de números , passados mas reais. Simplesmente, quando tais valores não fornecem paradigma, por alteração anormal de circunstâncias, há que olhar para valores previsionais, por muito difícil que seja prever "principalmente para o futuro".
(3) Se não é de afirmar, como possivelmente o Padre Américo faria, que "não há banqueiros maus", também afasto a teoria dos intelectuais Blok, segundo a qual "são todos uns f.da.p".
Já agora: a GS é a empresa da Wall Street melhor sucedida de sempre. Ainda agora, nos resultados trimestrais, voltou a surpreender fortemente pela positiva.
(4)Quando vi a atribuição partilhada à sr.ª Ostrom, até pensei que a economia doméstica tivesse sido promovida a campo de alto interesse. Depois, fiquei sossegado porque a senhora , afinal, vem das Ciências Políticas.
Advogado, autor de " Ganhar em Bolsa" (ed. D. Quixote) e "Bolsa para Iniciados" (ed. Presença) fbmatos1943@gmail.com
Assina esta coluna semanalmente à sexta-feira
Agora que se pode esperar uma saudável acalmia nos mercados bolsistas, entrando-se em tendência lateral de consolidação (eu, pelo menos, assim desejo), vai-se abrir o tempo para pensar em modos mais finos de organizar a carteira de acções, para além dos típicos de "tempo de mercado em recuperação e volatilidade alta"(1) - que passam por encontrar Betas elevados, sectores cíclicos, etc, andando "rapidamente e em força", dada a extrema velocidade dos mercados actuais.
Excepto a ideia da segunda nota de rodapé, pouco referenciada, tudo o que há para dizer já foi dito e por isso não vou continuar a chatear. Vou chatear, sim, mas de outro modo, afirmando coisas óbvias mas muitas vezes pouco valorizadas, como a minha experiência com tantos investidores individuais me assegura (até me deviam chamar F. B. de Matusalém).
Agora vou entrar no domínio dos intangíveis, logo de factores não mensuráveis mas determinantes, coisas como qualidade e ramo de negócio, management, liderança, inovação…
O tema foi a "Economist" que mo sugeriu: neste "soul searching" e crucificação de vilãos na ressaca (esperemos) da Grande Crise do Crédito, indo à "banca-sombra", (muitas vezes designada redutoramente como "banca de investimento", donde partiu o quase "derretimento" do sistema financeiro), concluímos que, também aí, uns tramaram-se e outros safaram-se e vão até progredir mais, não por serem mais ou menos canalhas, mas por serem melhores ou piores. Lehman e Goldman Sachs: o abismo do resultado final emanou do abismo da qualidade das empresas, tão simples como isto(3) - diz a distinta revista.
Mas não é necessário nem intelectualmente correcto extrair arquétipos deste exemplo "freakanomics"; basta seguir o dia-a-dia ou o ano-a-ano, vendo até reforçada a ideia com o prémio Nobel da Economia deste ano, atribuído a Williamson(4).
Veja estes exemplos e transponha-os para o seu campo de análise e escolha de acções:
- Quem tivesse investido 10.000 USD na IPO da Micrsoft teria, em 1995, 3.800.00. Ideia e capacidade comercial (O Mackintosh sempre foi melhor) vieram ao de cima.
- Uma forma de recrutamento da Google consistiu em colocar grandes painéis em lugares críticos com o enunciado de um complicadíssimo problema matemático e um e-mail adress do destinatário da resposta. Conseguiu captar deste modo pessoas extremamente hábeis, e com tal espírito inquisitivo que se deram ao trabalho de responder ao anúncio, sem qualquer incentivo a não ser aquele mesmo.
- Gestores da Sonae que seguiram o seu destino fundando ou chefiando empresas mostraram, pelo êxito, a excelência da escola Belmiro.
- A Mota-Engil foi a empresa de construção civil que mais subiu no último mês , entre as 136 listadas pela Bloomberg a nível mundial (30%), coincidindo a ascensão com o dia em que a vitória eleitoral do PS se tornou aparente. As relações do patrão com o patrão-mor , em "crony capitalism" ("capitalismo de compadres"), são mais vantajosas que qualidade - interessante "factor qualitativo" em avaliação de empresas.
Desculpem, mas tenho que acabar, porque a execrável piada machista da nota de roda-pé nº 4 caiu muito mal com a minha mulher e tenho que sair de casa.
(1) VIX (indicador de volatilidade da Bolsa de Chicago), por exemplo, encontra-se de novo na zona próxima dos 20, valor de relativa estabilidade, mais ou menos próximo do tempo anterior ao Factor Lehman (aqui esteve nos 80!)."
(2) A velha receita Graham, emulada pelo inevitavelmente citado Buffett, despreza previsões de resultados e recolhe antes séries de números , passados mas reais. Simplesmente, quando tais valores não fornecem paradigma, por alteração anormal de circunstâncias, há que olhar para valores previsionais, por muito difícil que seja prever "principalmente para o futuro".
(3) Se não é de afirmar, como possivelmente o Padre Américo faria, que "não há banqueiros maus", também afasto a teoria dos intelectuais Blok, segundo a qual "são todos uns f.da.p".
Já agora: a GS é a empresa da Wall Street melhor sucedida de sempre. Ainda agora, nos resultados trimestrais, voltou a surpreender fortemente pela positiva.
(4)Quando vi a atribuição partilhada à sr.ª Ostrom, até pensei que a economia doméstica tivesse sido promovida a campo de alto interesse. Depois, fiquei sossegado porque a senhora , afinal, vem das Ciências Políticas.
Advogado, autor de " Ganhar em Bolsa" (ed. D. Quixote) e "Bolsa para Iniciados" (ed. Presença) fbmatos1943@gmail.com
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