Opinião
O turismo em Portugal e a iniciativa «Lisboa 2020»
Várias têm sido as iniciativas recentemente organizadas para relançar o sector do turismo em Portugal. Concretamente no âmbito do novo Quadro Comunitário de Apoio foi apresentado o Plano Estratégico Nacional para o Turismo (PENT).
Várias têm sido as iniciativas recentemente organizadas para relançar o sector do turismo em Portugal. Concretamente no âmbito do novo Quadro Comunitário de Apoio foi apresentado o Plano Estratégico Nacional para o Turismo (PENT).
Este Plano pretende criar uma «cultura nacional de turismo» e tem como base cinco eixos fundamentais: territórios, destinos e produtos; marcas e mercados; qualificação dos recursos; distribuição e comercialização; e inovação e conhecimento. A par deste Plano, o Governo anunciou que se encontra a analisar projectos de Potencial Interesse Nacional dedicados ao turismo e que está em curso a revisão da lei dos licenciamentos turísticos. E ainda em 20 de Fevereiro último decorreu em Lisboa o debate «Lisboa 2020 – que estratégia para o turismo?» organizado no âmbito da Estratégia Regional Lisboa 2020.
Ora, se de acordo com os dados do Eurostat nos últimos anos Portugal tem vindo a perder investimento, é preciso contrariar esta tendência. Assim, este conjunto de iniciativas – que visam reforçar o volume de investimento no turismo, permitindo impulsionar um sector estratégico e não deprimido da economia – revelar-se-ão, a meu ver, um excelente investimento económico a médio prazo. Aliás o sector do turismo é já um sector bastante lucrativo. Segundo o INE, em 2005 os proveitos totais no turismo atingiram os 1.582,2 milhões de euros, o que se traduziu num acréscimo homólogo de 1,4%. Só as receitas de aposento alcançaram os 1 059,9 milhões de euros.
Assim a aposta no turismo apresenta-se, inquestionavelmente, válida a diversos níveis. Não só porque permitirá voltar a incutir confiança nos investidores para que acreditem na capacidade do país e da economia mas também porque os investimentos no turismo podem revelar-se uma importante «referência» para o sector industrial e terciário, permitindo -– de forma directa ou indirecta – relançar também estes sectores.
Neste sentido, em Janeiro último, o governo – a propósito de um conjunto de novos investimentos com um valor global superior a mil milhões de euros – anunciou que o sector turístico é o mais beneficiado, com 677 milhões de euros. São vários os grandes empreendimentos contemplados, desde os hotéis e os aldeamentos da herdade do Pinheirinho, da Costa Terra, até a um empreendimento no concelho de Grândola. De realçar que só os dois primeiros investimentos representam a criação de cerca de 1800 postos de trabalho directos e, aproximadamente, 4500 postos de trabalho indirectos.
Contudo, existem no nosso país diversas vertentes do turismo por explorar. Num momento em que assistimos ao envelhecimento progressivo da população europeia, a temática do turismo sénior aumenta de pertinência. Em Portugal, país dotado de excelentes condições naturais e climáticas – não obstante o contrato de investimento assinado em Janeiro ente a Agência Portuguesa para o Investimento e a Unicer para o projecto turístico AquaNattur para o parque de Pedras Salgadas e Vidago que visa, precisamente, a requalificação das zonas termais – escasseiam locais especialmente concebidos e desenvolvidos para os mais idosos, como termas ou até mesmo parques temáticos que suscitem o interesse destes e ofereçam uma ampla variedade de serviços.
Acresce que o reforço no sector do turismo implica também planear a captação do turismo. Será necessário construir um perfil para o cliente-alvo. Se os principais mercados emissores para o turismo nacional são o Reino Unido, a Alemanha, a Espanha, os Países Baixos e a França, é preciso também saber atrair a clientela norte-americana e asiática (sobretudo japoneses) que representam um forte poder de compra. Para tanto será conveniente perceber o tipo de turismo que procuram. Muitos procurarão a vertente do turismo cultural. E este turismo está relacionado com a oferta cultural e histórica existente no país, ou seja, a maioria destes turistas dedica grande parte do seu tempo de estadia num determinado destino a visitar museus e locais de interesse histórico-cultural.
Ora – o nosso país, não obstante uma vasta herança histórica – não tem um correspondente património histórico. Em particular em Lisboa a oferta de museus é diminuta, relativamente ao que acontece em Madrid, em Paris ou em Londres onde as maiores atracções turísticas são, precisamente, os museus. Seria desejável reforçar a oferta cultural na capital portuguesa e dar projecção internacional à região de Lisboa realçando o seu potencial em matéria de património histórico e cultural. Por outro lado, o património urbano cultural é relativamente reduzido: salvo raras excepções são poucos, por exemplo, os monumentos de referência que invocam a época áurea dos Descobrimentos. A ideia de construir um parque temático dedicado aos Descobrimentos, com reconstituições históricas e/ou reproduções desta época emblemática para a nossa história, que paralelamente desenvolva actividades de animação cultural, podia ser acolhida com êxito.
Por outro lado, é preciso também não ignorar que os turistas estão hoje mais constrangidos – do que outrora – nas escolhas dos destinos. Aspectos relacionados com áleas climáticas, com o terrorismo ou com potenciais situações endémicas, fazem com que europeus e norte-americanos hesitem cada vez mais no momento de escolher um destino para férias.
É assim que, para Portugal, no início deste século XXI, o investimento no turismo representa um grande desafio. Pode mesmo representar uma oportunidade única de, tirando proveito dos recursos naturais - o clima ameno e a costa atlântica - e dos recursos humanos, relançar a economia portuguesa, permitindo assegurar elevada competitividade numa perspectiva de investimentos num ciclo longo, significando ainda uma ampla oportunidade para criação de emprego.