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17 de Setembro de 2007 às 14:59

O sucessor de Blair

Desde que tomou posse - em Maio último - que o Presidente francês Nicolas Sarkozy tem ganho, sobretudo a nível internacional, um manifesto e crescente protagonismo político.

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Desde que tomou posse - em Maio último - que o Presidente francês Nicolas Sarkozy tem ganho, sobretudo a nível internacional, um manifesto e crescente protagonismo político.

Extremamente dinâmico e hábil, Sarkozy - líder de uma direita liberal - tem vindo a imprimir, pelo menos no plano do discurso, um inequívoco cunho de mudança no âmbito da condução da política interna e externa francesa.

Acresce que as suas qualidades de liderança a nível europeu (e mesmo internacional) têm sido evidentes, sendo já considerado, enquanto líder político, o sucessor natural de Tony Blair.

É que, procurando a convergência daqueles que acreditam ser possível modificar certos status quo, Sarkozy parece querer também liderar uma "inquieta sociedade europeia", não se poupando a arrojadas e surpreendentes tomadas de posição.

E se, no âmbito internacional, Sarkozy não tem deixado de assumir relevante protagonismo - nomeadamente tendo proposto recentemente um alargamento do denominado grupo dos "G8" (EUA, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália, Canadá e Rússia) às potências emergentes (China, Índia, Brasil, México e África do Sul), ou seja, para um "G13" -, no plano político europeu tem sido um incansável "distribuidor de jogo".

Adepto assumido de uma maior cooperação transatlântica - e deveras notório junto da população norte-americana, em particular pela exposição que lhe é conferida pelos media -, Sarkozy tem feito saber, em diversas ocasiões, que a "Europa é a sua prioridade absoluta".

Em Setembro de 2006, e afirmando ser a "única forma de salvar a Europa política", Sarkozy - ao momento ministro do Interior - propugnava a ratificação de um "Tratado Simplificado" que permitisse dotar a União Europeia (UE) de um conjunto de "regras de funcionamento eficazes". Paralelamente, e sugerindo um prévio debate entre os Estados-membros, Sarkozy indicava um ambicioso cronograma de acção capaz de assegurar a entrada em vigor do Tratado antes das eleições europeias de 2009. E a verdade é que o Conselho Europeu de 22 e 23 de Junho últimos pode ter sido o primeiro passo para alcançar esses objectivos.

Outro assunto que recentemente tem mobilizado o Presidente francês é o da reforma da Política Agrícola Comum (PAC). Ainda este mês, Sarkozy defendeu a edificação de uma nova PAC que permita aumentar a produção, garantindo, simultaneamente, independência e segurança alimentar. E nessa ocasião argumentou: primeiro, que a PAC, tal como funciona hoje, não responde aos desafios que virão depois de 2013 (recorde-se que a França é a principal potência agrícola europeia); segundo, que a PAC deve assentar no princípio indiscutível da preferência comunitária; e, por fim, não tencionando "abandonar os agricultores franceses", que existem milhões de hectares em França em pousio que precisam voltar a ser cultivados. Assim, Sarkozy prepara a revisão da PAC para 2008, altura em que a França assumirá a presidência rotativa da UE no segundo semestre.

Mas a questão suscitada por Sarkozy que mais tem mobilizado a atenção de franceses e dos europeus parece ser, sem dúvida, a da controvérsia em torno do Banco Central Europeu (BCE).

Desalentados com o rumo das políticas económicas e sociais no conjunto dos países europeus - nomeadamente com o fraco crescimento económico e com a débil criação de emprego - os europeus deparam-se agora com o aumento das taxas de juro impostas pelo BCE e, ainda, com a valorização recorde do euro (que, entretanto, no passado dia 13 deste mês atingiu os 1,3927 dólares). Preocupados com estes acontecimentos, famílias e consumidores, mas sobretudo investidores e empresários, voltam-se agora para as propostas de Sarkozy.

Defendendo que a zona euro tem uma identidade política, além de monetária, o Presidente francês não tem hesitado confrontar o BCE com um debate sobre o futuro do euro. Recorde-se que o tema do "euro forte penalizador das exportações" e as "críticas à política monetária do BCE" foram dois assuntos presentes na campanha eleitoral de Sarkozy, que este tem mantido na sua agenda. E, aquando da sua presença em Agosto último na Universidade de Verão do Medef, questionado sobre a "independência do BCE e a utilidade do euro", Sarkozy - realçando que a política monetária tem repercussões na vida das pessoas, no crescimento, no emprego -, reafirmou a ideia de que não aceita que um tema tão importante para a economia europeia não possa ser objecto de mudança, enfatizando ainda que, porque é independente, o BCE deve aceitar o debate.

Mas Sarkozy vai mais longe e, no âmbito de um reforço do poder do Eurogroup, propõe a criação de um modelo de "governo económico da Europa", particularmente da zona euro, que procure uma maior convergência das politicas económicas e um diálogo com o BCE, a fim de dotar a zona euro de uma estratégia monetária.

Resta referir que se amanhã Ben Bernanke, o presidente da Reserva Federal Americana (Fed), anunciar a esperada diminuição das taxas de juro nos EUA, a valorização do euro poderá prosseguir, pesando sobre o crescimento da Zona Euro e, concomitantemente, mantendo dinâmica a agenda de Sarkozy.

 

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