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28 de Agosto de 2007 às 13:14

Banca: a discreta concentração

Enquanto o Banco Comercial Português, o maior banco privado português, enfrenta uma inesperada situação de impasse - que pode, na sequência da suspensão atípica da última assembleia geral, motivada por um fundamento de carácter técnico, ser hoje superado

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Enquanto o Banco Comercial Português, o maior banco privado português, enfrenta uma inesperada situação de impasse - que pode, na sequência da suspensão atípica da última assembleia geral, motivada por um fundamento de carácter técnico, ser hoje superado - na Europa o tema "banca" tem vindo a assumir, nos últimos meses, especial protagonismo mediático.

Trata-se de um sector extremamente competitivo e rentável, onde não há tempo a perder, e no qual cada instituição redefine em permanência as suas tácticas e estratégias.

Por exemplo, em Espanha, o Banco Bilbao Vizcaya Argentaria (BBVA) e o Banco Santander Central Hispano continuam a sua fase excepcional de afirmação internacional.

Em Julho último o BBVA divulgou os seus resultados em alta relativos ao primeiro semestre e, revelando um resultado semestral líquido que traduz uma progressão de 20%, aproveitou para anunciar a implementação de um plano estratégico que lhe permitirá captar mais 8 milhões de clientes até 2010.

Por seu turno, e também no mês passado, o Santander mostrou que, no primeiro semestre do ano, os seus resultados aumentaram cerca de 39% em todas as áreas do grupo.

Apostando em dois grandes mercados geográficos - a Europa, donde procedem cerca de 70% dos lucros, e a América Latina - o Santander mostra-se preparado para "comprar" e, afastado dos seus planos sobre o norte-americano Sovereign, aposta agora na aquisição do principal banco holandês: o ABN Amro.

E é justamente este novo período de aquisições e fusões bancárias que - muito embora ignorado pela generalidade dos cidadãos - tem atraído a atenção dos mercados financeiros em todo o mundo.

Depois de a Comissão Europeia ter autorizado, sem condições, a Oferta Pública de Aquisição (OPA) lançada pelo Barclays sobre o banco holandês ABN Amro no valor de 65 mil milhões de euros, considerando que a operação não afecta a concorrência no espaço económico europeu, o banco inglês enfrenta a oferta rival do consórcio liderado pelo escocês Royal Bank of Scotland e formado pelo espanhol Santander e pelo belga-holandês Fortis, no montante de 71,1 mil milhões de euros.

Mas a disputa pelo ABN Amro - que, recorde-se, é accionista do Banco Comercial Português - é de tal forma titânica que, no decurso desta OPA, diversos outros acontecimentos têm merecido notícia.

Confrontado com a oferta de um poderoso consórcio, o Barclays admitiu já um apoio que tem gerado alguma controvérsia: o do China Development Bank e do fundo Temasek Holdings de Singapura, ambas entidades estatais.

É sabido que - situação sem precedentes - nos países asiáticos em desenvolvimento os fluxos de capitais têm aumentado de forma exponencial. Por exemplo, o último relatório semestral do Banco Asiático de Desenvolvimento, apresentado no final de Julho, constata que os fluxos de capital não cessam de aumentar na Ásia, provocando efeitos consideráveis na economia e colocando à disposição do sistema financeiro uma enorme liquidez.

Veja-se, por exemplo, o caso da China onde o acentuado crescimento económico tem vindo a beneficiar todos os sectores da economia, em particular o sector financeiro.

De facto, a China vive hoje um período específico e o ritmo de crescimento a que tem progredido - que se estima possa atingir 15% do PIB mundial em 2020 - tem permitido às instituições financeiras deste país acumular uma enorme liquidez monetária. Acresce que há ainda um importante desequilíbrio que perturba o desenvolvimento chinês: o excedente comercial.

Ainda este mês foi noticiado que, após um novo recorde de Junho, o comércio externo da China registou em Julho um aumento de excedente superior a 66%.

E se, no plano interno, a prioridade imediata parece agora conduzida para o favorecimento de um "desenvolvimento harmonioso", no plano externo parece dirigida a uma política de "emergência tranquila", orientada quer para a compra de energia e de matérias-primas no estrangeiro (nomeadamente em África e na América Latina), quer para a dinamização de investimentos, designadamente a aquisição de empresas em mercados mais desenvolvidos (Rebelo, G., "O século asiático: os casos da China e da Índia", Cadernos de Economia nº 78, 2007).

Ora a grande novidade desta OPA ao ABN Amro é a de que o Barclays - o terceiro banco britânico - anunciou em Julho último que conta com o apoio destes parceiros financeiros asiáticos.

E a entrada nesta operação destas grandes instituições asiáticas mesmo que não assegure a vitória do Barclays na luta pelo ABN Amro - uma vez que a oferta lançada oficialmente a 20 Julho pelo consórcio liderado pelo Royal Bank of Scotland é, ao momento em que escrevo estas linhas, ainda superior à do Barclays - permitirá certamente elevar o montante de oferta, adensando o suspense relativo ao desfecho desta OPA até Outubro próximo.

Em particular a ideia destas duas entidades intervirem nesta OPA sobre o ABN Amro e, posteriormente, adquirirem acções do Barclays se a transacção com o banco holandês for bem sucedida tem suscitado algumas considerações.

De facto, se assim for, o China Development Bank será o principal accionista do Barclays com 8% e o Temasek terá 3,5%. Por outro lado, e a concretizar-se esta fusão dos bancos holandês e britânico, poderá vir a criar-se o segundo maior banco europeu e o quinto a nível mundial, com cerca de 220.000 trabalhadores, 47 milhões de clientes e mais de 8.200 balcões.

Trata-se de um vasto movimento de concentração da banca de retalho europeia - ao contrário da banca de investimento cuja actividade parece permanecer mais nacional - que, beneficiando da existência da moeda única e de uma convergência de normas em matéria de produtos financeiros na União Europeia, permite às instituições bancárias essa concentração, alcançando economias de escala significativas.

Será precisamente para responder ao ambiente extremamente competitivo e tendencialmente voltado para a concentração em que vive o sector que urge que o maior banco privado português recupere a sua performance e ultrapasse o nefasto impasse em que vive, com a gestão e os accionistas divididos.

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