Opinião
O regresso do crescimento japonês
Há uma semana a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) apresentou as suas perspectivas económicas da Primavera.
O relatório realça um aspecto transversal ao crescimento económico mundial: a sua maior fragilidade e incerteza. O aumento acentuado dos desequilíbrios comerciais – considerando o excedente alemão, japonês e chinês – e a evolução do preço do petróleo e do preço do imobiliário são factores que contribuem para esta fragilidade.
Não obstante, existem sinais positivos de retoma na zona euro e nalguns países asiáticos. Por exemplo, na zona euro a OCDE estima um crescimento para a França e para a Alemanha, respectivamente, na ordem dos 2,1% e de 1,8%.
Mas um outro aspecto interessante deste relatório respeita à análise relativa ao crescimento do Japão.
Para este país a OCDE antevê a «continuação de um crescimento robusto» em 2007, apoiado no crescimento da produção, numa forte procura interna e numa consequente diminuição do desemprego. Além disso, esta organização estima que o PIB japonês progrida para 2,8% em 2006, a taxa de desemprego (actualmente nos 4,1%) baixe e a inflação atinja 1% (em vez dos actuais 0,5%). O certo é que, nos seus mais recentes relatórios, a OCDE tem vindo a realçar notórios progressos na economia japonesa. E para certos analistas trata-se do regresso do gigante asiático ao primeiro plano da economia mundial.
Há, no entanto, incertezas – para além das relacionadas com a evolução do preço do petróleo e com uma possível subida do dólar e das taxas de juro – que podem vir a ameaçar as previsões de crescimento sustentado para o Japão. Desde logo, a OCDE considera que urge corrigir o desequilíbrio comercial japonês. Depois é também preciso evitar o regresso à deflação. A OCDE exortou o Banco do Japão a seguir uma política de taxa de juro zero até que a inflação seja suficientemente alta para evitar o risco de deflação e aconselhou o governo nipónico a implementar reformas legais eficazes para assegurar uma forte concorrência e melhorar o sistema nacional de inovação.
Mas a verdade é que, no âmbito do seu relançamento económico, o Japão conta ainda com outros problemas.
Um deles é o da concorrência internacional, em particular, do exponencial crescimento chinês. A China é não só um reconhecido gigante da produção mundial, como também um gigante de atracção do investimento estrangeiro. Contudo, curiosamente ou não, a China é o principal parceiro comercial do Japão. Os industriais japoneses não se contentam em exportar para a China e, sendo líderes na produção automóvel, em 2005 investiram também fortemente naquele país.
Um outro conjunto de problemas que afecta o Japão respeita à necessidade de realização de reformas internas. A OCDE elogiou a recente reforma do sistema bancário, mas um verdadeiro problema estruturante é o da Segurança Social. Por exemplo, nesta sociedade envelhecida existem cerca de onze milhões de pessoas desfavorecidas que, com um historial de contribuições muito baixo, correm o risco de se tornarem idosos pobres.
De facto e se a generalidade das empresas goza de boa saúde financeira graças às exportações para a China e os EUA, o certo é que, ao fim de doze anos de crise económica, o país vive uma situação social dual, com um aumento do trabalho precário e das situações de pobreza, em particular dos trabalhadores menos qualificados. Na última década o emprego precarizou-se acentuadamente. Além do mais, muito do emprego industrial deslocalizou-se e o sector dos serviços é agora o grande empregador. Os jovens, sobretudo com qualificações mais baixas, celebram contratos de trabalhos de trabalho de duração determinada (a termo, temporário) e/ou a tempo parcial, na maioria pouco remunerados.
No entanto, um dado curioso parece poder inverter esta situação. Não obstante os sinais de boa saúde da economia japonesa o Banco do Japão anunciou recentemente que a confiança dos empresários industriais (medida pelo índice Tankan) diminuiu ligeiramente no primeiro trimestre de 2006, devido a uma «penúria crescente de mão-de-obra». Ou seja, os empresários nipónicos estão preocupados com a falta de mão-de-obra e os custos crescentes da contratação. E, ainda que a taxa de desemprego tenha descido em Fevereiro último e tenha atingido os 4,1% (a melhor dos últimos 7 anos), a atenção recai agora sobre o mercado de trabalho. A realidade é que as empresas japonesas estão actualmente tentadas a aumentar os salários na esperança de atrair o recrutamento que lhe faz falta.
Assim é possível que – neste movimento de crescimento – haja uma pressão para o aumento dos salários, acelerando a inflação no Japão. Cenário que – a confirmar-se - além de representar uma boa notícia para os nipónicos, significará um notável regresso deste gigante asiático ao primeiro plano da competitividade económica mundial.