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O fim do neoliberalismo e o afundamento do centro-esquerda

Todos os dias somos convidados pela imprensa europeia (a imprensa norte-americana tem uma linha editorial bem diferente) a pensar que o capitalismo neoliberal chegou ao fim. Pouco dizem sobre o novo sistema económico que...

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Todos os dias somos convidados pela imprensa europeia (a imprensa norte-americana tem uma linha editorial bem diferente) a pensar que o capitalismo neoliberal chegou ao fim. Pouco dizem sobre o novo sistema económico que supostamente está a nascer, mas a morte do neoliberalismo não parece oferecer dúvidas à grande maioria dos intelectuais europeus. Ao mesmo tempo, um comentário aqui, uma notícia acolá vai dando conta da derrota profunda para que se prepara a esquerda europeia em Junho, com o consequente reforço da maioria de direita no Parlamento Europeu, e a mais que provável repetição de Durão Barroso como presidente da Comissão, supostamente o símbolo do neoliberalismo europeu. Algo parece falhar na realidade. O modelo neoliberal afunda-se definitivamente, mas a direita ganha, e o símbolo institucional do neoliberalismo parece reforçado.

Se o modelo neoliberal chegou ao fim veremos a seu tempo. Estou em crer que não, mas por agora fiquemos na especulação. Mais cedo vamos com certeza confirmar as previsões eleitorais. Tudo indica que o centro-esquerda vai sofrer derrotas muito pesadas nas maiores economias da Europa, nomeadamente na Alemanha, em França, em Itália, no Reino Unido, em Espanha, na Áustria, e mesmo na Polónia. Veremos se em Portugal os ventos são diferentes!

No auge da maior crise do neoliberalismo e quando a intelectualidade europeia fala dos novos amanhãs que cantam, o centro esquerda parece navegar à vista. A derrota eleitoral que se antecipa é tanto mais profunda quando os resultados de 2004 foram já então uma derrota inesperada (que a esquerda bem pensante desculpabilizou na altura com o alargamento do centro-direita à direita extrema da Europa de Leste). Mais grave, a provável derrota atinge tanto o socialismo da terceira via inglês, italiano ou alemão como o socialismo da esquerda plural francês ou espanhol. Ninguém parece ser poupado no vendaval que se aproxima.

O aparente paradoxo da crise neoliberal e da crise eleitoral do centro-esquerda não encontra resposta fácil no crescimento significativo da esquerda à esquerda do socialismo. Evidentemente que isso é um facto que só alguns teimam em querer fingir que não existe. Pouco importa se é um voto ideológico ou um voto de protesto pela excessiva proximidade entre as elites do centro-esquerda das últimas décadas e os interesses do capitalismo selvagem. Ao contrário do que se vê escrito de vez em quando, nem sequer é um fenómeno exclusivamente português, resultante da coragem do governo em enfrentar os interesses instalados. O crescimento eleitoral da esquerda à esquerda do socialismo está para ficar, e vai sem dúvida ter um papel influente no sistema político europeu dos próximos anos.

Mas as sondagens antecipam também um crescimento eleitoral da direita. Veremos a seu tempo se isso se confirma. Haverá com certeza explicações particulares a cada Estado-membro. Mas a tendência geral parece-me confirmar que, no fundo, a direita europeia foi rápida em abandonar o neoliberalismo do qual nunca foi grande apoiante (mesmo no Reino Unido a senhora Thatcher e as suas políticas nunca foram amadas pelos velhos clãs do Partido Conservador), e voltar às suas origens "gaullistas" do grande Estado corporativo, conservador e intervencionista na economia, ou da economia social de mercado alemã de Adenauer.

O eleitorado moderado e centrista europeu parece mais atraído pelo regresso da velha direita europeia do que pelos zigue-zagues do socialismo. A matriz "gaullista" francesa ou da economia social de mercado alemã, que muitos pensavam enterrada pelo neoliberalismo anglo-saxónico, ressuscita e parece encontrar o momento certo para ganhar eleições. Aqui sim, a excepção parece ser a direita portuguesa que não levanta cabeça.

As eleições de Junho em leitura nacional podem ou não confirmar o fim do velho rotativismo entre PS e PSD e a consolidação de um sistema multipolar de partidos. Tudo indica que o sistema partidário português está em transformação, com a confirmação do PS como partido do centro com vocação maioritária (se tem ou não tem maioria parlamentar veremos em Outubro), e dois pólos minoritários, um à direita (PSD e CDS) e outro à esquerda (PCP e BE).

Professor da University of Illinois College of Law
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