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A Crise da direita

A direita portuguesa chegou ao poder em dois momentos cruciais da economia e da sociedade portuguesa, na Primavera de 2002 e no Verão de 2011. Em ambos os casos enfrentou uma grave situação, primeiro de grave estagnação económica, e depois de colapso financeiro.

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São a herança de políticas de endividamento e financiamento de lóbis instalados preconizadas pelo PS ao longo de quinze anos em nome de um Estado social (que fundamentalmente corporativizou e paralisou a economia portuguesa), sem reformas estruturais e com crédito barato. A conjuntura internacional em 2011 finalmente colocou a nu os erros acumulados pelo PS que ainda hoje evidentemente não assume (ocultando-se nas tais políticas de crescimento e emprego que não existem como mostra a realidade dos últimos treze anos e, mais recentemente, o desastre da gestão Hollande em França).

A direita portuguesa duas vezes falhou completamente a reforma do Estado. Isso foi claro com a fuga de Durão Barroso em 2004, o breve episódio do Governo Santana e a derrota nas eleições de Abril de 2005. O anúncio do ministro das Finanças na semana passada de pedir mais tempo à troika e aderir ao discurso político do PS confirma a completa derrota do actual Governo que evidentemente já vinha a sentir-se à muito tempo.

Seria bom que a direita quer política, quer intelectual por uma vez fizesse um esforço de perceber a sua incapacidade de executar o seu modelo político. Não vale a pena culpar os outros, os jornalistas, os comunistas, os sindicatos, os lóbis, o Tribunal Constitucional, etc. Parece-me que qualquer reflexão ponderada sobre o fracasso da direita deve começar com dois pontos importantes, o programa político e a liderança na sua execução.

Primeiro, ao contrário do que diz a vulgata dos comentadores habituais, não há qualquer programa de reformas consistentes, nem qualquer visão ideológica neoliberal consistente. Os três governos da direita (Durão, Santana e Passos) andaram sempre ao sabor de vacuidades, respondendo às pressões do momento, sem um programa estruturante, totalmente dependentes do ministro das Finanças (o que é absolutamente ilógico quando este não tem nenhuma visão política, mas apenas responde a necessidades técnicas como ficou patente na semana passada) e sem objectivos consistentes nas diferentes áreas do Estado.

Segundo, a direita tem um grave problema de liderança política que terá de resolver se quer realmente ter uma terceira oportunidade para não falhar. Um Governo de direita que defende a meritocracia individual e a concorrência saudável como forma de organizar a sociedade não pode em nenhum momento tolerar ministros Relvas. E não pode alimentar a confusão entre negócios públicos e negócios privados que são hoje a espinha dorsal do Estado português construído pelo PS. A gestão política dos vários Governos da direita é um verdadeiro manual de tudo o que não se deve fazer. Assim não surpreende o desastre que tem sido.

Professor de Direito da University of Illinois

nuno.garoupa@gmail.com

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