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Opinião
18 de Julho de 2008 às 14:00

O Estrado da Nação de Churchill

Assisti, como seguramente muitos portugueses, a uma parte do debate sobre o Estado da Nação. Digo a uma parte, porque, seguramente, como também muitos portugueses, às tantas fartei-me. Desliguei a televisão e li um pouco sobre o estado do País. E tirei as minhas próprias conclusões.

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O que me assusta verdadeiramente, meus queridos leitores, é que o País está doente, e é uma doença prolongada que não está em fase terminal, nem o País, nem a doença. É uma doença que rói a economia nacional, assim como o caruncho rói o Pinho. Arrasta-se há alguns anos e vai por aí ficar mais uns.

Ainda por cima, os portugueses estão a ficar sem energia, porque o petróleo é mais caro, e sem energia não trabalham – vão de férias para o Algarve e outros sítios, como o Brasil ou Punta Cana. Lá se vai o crescimento do produto, que se arrasta penosamente, ano após ano. Não somos a lanterna vermelha da Europa porque já nem temos como pagar a electricidade para ter a lanterna acesa. E aqueles que pensam, designadamente no Governo, que 2008 vai ser melhor porque é um ano bissexto e há mais um dia para trabalhar, desiludam-se porque vai é haver mais um dia de férias.

Outra doença que temos é a das revisões. Volta que não volta, lá vem mais uma revisão da previsão do crescimento do produto, sempre para baixo. Já é mais fácil prever a revisão do que o próprio crescimento. Ainda vamos acabar conhecidos como o País anão ou o País "Ah!, não!". Eu, de cada vez que ouço o Governador do Banco de Portugal, fico sem vontade de comer. Nos últimos dois anos perdi quase dez quilos e agora ando com uma daquelas etiquetas que dizem "Quer emagrecer? Pergunte-me como". Até já tremo de medo antes de o começar a ouvir falar, pois só de ele se chegar ao microfone é mais meio ponto de crescimento que se vai. É verdade que não devemos matar o mensageiro, mas confesso que alivia muito e sempre seria melhor que matar a economia.

Quem devia ser morto eram os consumidores, mas o último tipo que o disse era Secretário de Estado e deve ter levado uma tal rabecada do nosso engenheiro que nunca mais disse nada, até parece que o homem ficou mudo nesse dia. Pois é, a grande doença que nós temos no País é a "consumofobia". É só pintar as montras com a palavra saldos e as coisas voam das lojas. É só dizer que a gasolina vai aumentar e ela desaparece das bombas de abastecimento. É só dizer que o euro vai subir e as agências de viagem ganham vida nova com uma enchente. Não consumimos que nem uns leões porque nem os leões consomem tanto. É de tal maneira que todos os anos o País se endivida para com o estrangeiro mais oito a dez por cento do produto. Para com as famílias portuguesas, Churchill poderia perfeitamente usar a expressão que cunhou no final da Batalha de Inglaterra: nunca tantos ficaram a dever tanto a tão poucos (na verdade, a uma dúzia de bancos).

Como vamos então ultrapassar este estado de coisas, do País e da alma dos Portugueses? Isto não vai lá com impostos sobre petrolíferas, ainda por cima neutros (Secretário de Estado dixit), sem efeitos líquidos e, muito menos, sólidos; nem a pagar uma parte dos passes sociais das crianças das famílias numerosas que estão na escola (as crianças, não as famílias), pois é preciso que as crianças estejam na escola e que a família seja numerosa, o que reduz o universo; nem tão pouco com deduções ao IRS para apoio à educação, cujo valor (das deduções, não da educação) é inferior, por dia e por português, ao açúcar de um café.

Temos que criar em Portugal as bases para um novo ciclo de crescimento, forte e sustentado. E temos que elevar a moral dos portugueses. É preciso, então, como novo desígnio nacional, construir uma base elevada, que é como quem diz, um estrado. Para Portugal. A bem da nação.

Frederico Bastião é Professor de Teoria Económica das Crises na Escola de Altos Estudos das Penhas Douradas. Quando lhe perguntámos como vai o País, Frederico respondeu: "Como disse um dia o ministro do oásis, vai bem, muito obrigado."

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