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10 de Julho de 2009 às 11:39

O Papel Higiénico de Kubrick

No fim de semana passado tive um pesadelo que não me vou esquecer enquanto viver. Vejam lá, meus queridos leitores, que sonhei que Michelito Lagravere, o jovem toureiro de onze anos de idade que está no Guiness por ter morto seis touros num...

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No fim de semana passado tive um pesadelo que não me vou esquecer enquanto viver. Vejam lá, meus queridos leitores, que sonhei que Michelito Lagravere, o jovem toureiro de onze anos de idade que está no Guiness por ter morto seis touros num dia, se dirigiu à nossa Assembleia da República para tentar bater o seu record pessoal. Foi terrível, fazia lembrar o "Shining" de Kubrick, só que em vez de Jack Nicholson como herói (?) parecia assim uma coisa tipo manga japonesa. Ainda hoje me arrepio a rever mentalmente a colecção de orelhas que, no meu sonho, o Michelito exibia na escadaria de S. Bento.

Resolvi então, para mais facilmente esquecer, ir em busca de coisas extraordinárias ou, pelo menos, invulgares, para desanuviar a mente, e foi assim que dei de caras com o concurso de vestidos de noiva em papel higiénico. Palavra de honra, meus queridos leitores, que não estou a "mangar" ou a "reinar" convosco, podem confirmar na Cheap Chic Weddings.com que o que vos conto é bem verdade. Este concurso já vai na sua quinta edição anual e desta vez foi ganho - parece incrível - pela Senhora Kagawa, do Hawai: é caso para dizer que não poderia haver melhor vencedora. Para aqueles de vós que quiserem ver em pessoa a nossa rainha do papel higiénico e o seu vestido, tenham cuidado para não a confundir na vossa busca com a cidade japonesa de Kagawa, perto de Okayama e não muito longe de Hiroshima.

Pois é, meus amigos, o trabalho de Kagawa com papel higiénico é notável, não falta nada. É de se lhe tirar o chapéu, que, aliás, ela também fez e em papel higiénico, claro. Consta que a única pessoa que não ficou feliz foi o marido, que quando recebeu a conta do supermercado terá comentado: "que "porcaria" é esta?" E estes dotes da senhora são únicos na família, pois a prima de Kagawa, a Senhora Kagada, também participou no concurso mas ficou em último lugar. Aqueles de vós que forem à Internet fazer uma busca, tomem também aqui cuidado, desta feita para não darem com um conglomerado coreano-japonês, a Kagada Corporation, com sede na ilha de Kumaroto.

Mas, reflecti, porque é que alguém faria um vestido de noiva em papel higiénico? Imaginem que chovia no casamento, já pensaram no pandemónio que seria? E quanto tempo durará um vestido destes? Não muito, de certeza. Porém, senti aqui que estava a ser injusto, qualquer homem de Ciência admite que, se olhamos para os custos, também devemos ponderar os benefícios, e é verdade que se a noiva não gostar do trabalho pode sempre limpar o rabo ao vestido. Agora, o que me parece ser a principal vantagem é que este é de facto um vestido de noiva concebido para tempos de crise e 100% eculógico (neste caso não se deve dizer "verde").

E foi neste preciso momento que percebi que estamos perante um negócio com grande potencial. Pena foi o nosso Ministro ter sido demitido, senão já estou a ver daqui nascer o cluster industrial (neste caso, deveria talvez chamar-se o clister) do papel higiénico, que daria projecção internacional a várias empresas portuguesas e um empurrão forte à nossa indústria do papel. Até já imagino o nome do programa de apoio à indústria do papel higiénico: o Ólepeiper.

Porém, há que avançar depressa, antes que Hawai ou Japão se antecipem. O Estado deveria dar o exemplo, os nossos deputados à cabeça. Já imaginaram o que seria se os seus fatos fossem em papel higiénico? As discussões rasgadas que se teriam na Câmara? E os livros de ponto em papel higiénico, para os nossos deputados pudessem trocar entre si como saudação matinal "já assináste aquela "coisa"?" E as minutas das sessões impressas em papel higiénico para que nem as traças lhes peguem? Mas depois lembrei-me que, com o desenvolvimento desta nova indústria, só num sítio os deputados não encontrariam papel higiénico: nas casas de banho. Então, imaginando as consequências, resolvi ir pensar noutra coisa.


Frederico Bastião é Professor de Teoria Económica das Crises na Escola de Altos Estudos das Penhas Douradas. Quando perguntámos a Frederico o que acha da demissão do Ministro da Economia, Frederico respondeu: "Uma injustiça! Durante mais de um ano a oposição acusou o governo de arrogância e de nem um gesto fazer à oposição, e agora que um ministro faz um, é demitido!"

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