O Banco de Inglaterra (BoE) alertou esta quarta-feira para os "riscos associados à fragmentação do comércio global de bens e dos mercados financeiros se terem intensificado" e poderem "minar a estabilidade financeira" no Reino Unido.

As tarifas anunciadas pelos Estados Unidos em 02 de abril, contra as quais alguns governos retaliaram, "contribuíram para aumentar os riscos para o crescimento global" e "a incerteza sobre a inflação global", adverte o BoE num relatório publicado em plena guerra comercial.

Na ata da reunião trimestral do Comité de Política Financeira (FPC) do BoE, realizada em 04 e 08 de abril, o BoE manifestou igualmente preocupação com os ataques informáticos e a pressão sobre a dívida.

O BCE salienta que as fortes oscilações nos mercados financeiros, nomeadamente a queda dos ativos dos EUA, incluindo o dólar, representam riscos adicionais, em especial "para as empresas que contraem empréstimos" nessa moeda ou que dependem dos mercados financeiros.

Como "o Reino Unido é uma economia aberta com um grande setor financeiro", é particularmente afetado, salienta.

"As tensões geopolíticas acrescidas também aumentaram o risco de ciberataques, que podem coincidir com ou amplificar outros fatores de 'stress'", acrescenta o BoE.

Embora não mencione especificamente os grupos de 'hackers' ligados à Coreia do Norte, a sua atividade intensificou-se, culminando este ano no roubo histórico do equivalente a 1.500 milhões de dólares (1.370 milhões de euros) em criptomoedas da plataforma Bybit.

Os recentes desenvolvimentos "são suscetíveis de intensificar a pressão sobre a dívida soberana a nível mundial, uma vez que são podem pesar sobre o crescimento e aumentar as taxas de juro reais devido ao aumento da incerteza da política monetária".

As taxas de rendibilidade das obrigações do Tesouro britânico a 30 anos atingiram hoje o nível mais elevado desde julho de 1998.

Na última reunião, em março, o Banco de Inglaterra manteve a taxa diretora em 4,5%, centrando a sua ação na inflação, apesar da estagnação do crescimento do Reino Unido, ao mesmo tempo que chamava a atenção para as incertezas comerciais prevalecentes.

No relatório de hoje, a autoridade monetária salientou, no entanto, que o setor bancário britânico continua "em posição de apoiar as famílias e as empresas, mesmo que as condições económicas e financeiras se deteriorem substancialmente".

No final de março, o BoE lançou também o seu "teste de resistência" para 2025, um teste à resistência das instituições bancárias a hipotéticos choques importantes. Os resultados serão conhecidos no final do ano.