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31 de Julho de 2009 às 11:38

O candidato Pugsley

Meus queridos leitores, a polícia judiciária de Braga conseguiu finalmente deitar mão a um desgraçado de um foragido que há 16 anos andava escondido em cavernas. É caso para dizer que o indivíduo em causa teve azar. Isto até parece a história do senhor...

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Meus queridos leitores, a polícia judiciária de Braga conseguiu finalmente deitar mão a um desgraçado de um foragido que há 16 anos andava escondido em cavernas. É caso para dizer que o indivíduo em causa teve azar. Isto até parece a história do senhor James Pugsley, que em 1887 foi finalmente condenado, depois de conseguir escapar à punição durante mais de 11 anos. O senhor Pugsley, agricultor de Battle Creek, cedo desenvolveu o gosto em aproveitar-se dos seus concidadãos com necessidades monetárias, a quem emprestava dinheiro contra propriedades e outros activos como garantia. A sua ganância levou-o a falsificar documentos para poder apoderar-se dos terrenos do senhor Amasa Clark, mas acabou por ser descoberto, junto com os seus cúmplices. Só que o senhor Pugsley conseguiu arrastar o processo nos tribunais durante 11 anos até ser finalmente condenado, no que o "New York Times" de 11 de Junho de 1887 considerava "um estranho julgamento", com o subtítulo "how a forger got a postponement from time to time and at last was convicted." Claro que os tipos do "New York Times" estavam longe de imaginar a Justiça portuguesa dos nossos dias, pois a única novidade que há no caso Pugsley em relação à nossa Justiça de hoje é ele ter acabado preso.

Pois é, meus queridos leitores, voltando ao homem de Braga, o coitado foi mais que infeliz, pois escondeu-se em plena crise, na recessão que tivemos em 1993, e quando põe a cabeça de fora e é engavetado outra vez estamos em plena crise de 2009. O pobre andou a perder os bons anos do meio. Já viram, foi o crescimento económico e o bodo aos pobres daquela segunda metade dos anos 90, foi a fuga do Dr. Barroso para Bruxelas e foi o Dr. Lopes como primeiro-ministro, o que o homem perdeu! E logo agora, quando toda a gente pensaria que agora, sim, é que é a altura de um homem se meter na toca, é que este desgraçado vem à tona. Com que ideia vai ele ficar do País? Quando lhe falarem de Portugal ter levado entretanto com dois procedimentos por défice excessivo, o homem nem vai acreditar. E quando lhe disserem que o José Manuel é presidente da Comissão Europeia, vai rebolar-se a rir a pensar que estamos a falar da Maria Rueff. Vejam lá que consta que quando foi capturado terá perguntado se "o Cavaco ainda é primeiro-ministro" e se "Portugal verifica os critérios de Maastricht". Quando os tipos dos impostos souberem que ele já foi encontrado, quero ver o festival que vai ser - é 16 (dezasseis…) anos de declarações de IRS, de IVA e sabe-se lá que outros, com coimas, contra-ordenações e multas à mistura. Só acho é que não vale a pena ameaçá-lo com nada. O que é que vai a Direcção-Geral dos Impostos penhorar-lhe? Dois metros cúbicos de rocha? Um ramo de pinheiro bravo? E de que vale ameaçar mandar para a cadeia um tipo que está há 16 anos em cavernas? Até lhe vão parecer umas férias no Ritz, com cama, comida e roupa lavada.

Claro que será um mistério insondável para o comum dos mortais descortinar por que é que um tipo que não mete o nariz de fora durante 16 anos de repente sai cá para a luz do dia. Sei do meu primo Anastácio, que se mexe bem nestes meios, que tudo se terá devido a um convite para integrar as listas do Bloco de Esquerda, que aparentemente ainda não teria conseguido preencher a quota para os foragidos e marginais e quis antecipar-se ao PS, não fossem estes ter a mesma ideia. Consta também que o PSD, para evitar "mais uma manobra eleitoralista daqueles gajos" (sic, tvi, rtp, zon, etc.), vai pedir ao Presidente da República que indulte o homem. Eu, por mim, não gostava de estar na pele do nosso Presidente. É que, por um lado, se ele acede, o coitado do foragido nem para candidato eleitoral serve e acabará a engrossar as listas do desemprego. Mas se ele não acede, o problema pode ser ainda mais grave. É que um tipo que consegue fugir da polícia durante 16 anos com certeza tem ligações suficientes para ser, no mínimo, presidente de uma Junta de Freguesia, o que seria mais um enxovalho à democracia portuguesa. E mais, não faltaria quem dissesse que ele só era um condenado por já o ter sido antes mesmo de ser eleito.



Frederico Bastião é Professor de Teoria Económica das Crises na Escola de Altos Estudos das Penhas Douradas. Quando perguntámos a Frederico se conseguia passar 16 anos escondido numa caverna, Frederico respondeu: "Deixem-me ver o resultado das eleições legislativas e já respondo."

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