Opinião
O Partido de Mankiw
Tem sido muito referido ultimamente que o presidente Obama é canhoto, o que tem constituído mais um argumento contra aqueles que ainda hoje se recusam a acreditar que isto de ser canhoto não é sinal de menor desenvolvimento intelectual.
Tem sido muito referido ultimamente que o presidente Obama é canhoto, o que tem constituído mais um argumento contra aqueles que ainda hoje se recusam a acreditar que isto de ser canhoto não é sinal de menor desenvolvimento intelectual.
Se recuarmos uns bons anos, ser canhoto era uma desgraça. O meu primo Armando, que era canhoto, teve que aprender a escrever com a mão direita senão nunca teria passado da primeira classe, pois os professores não o deixavam escrever com a mão esquerda, e só conseguiu arranjar emprego a vender lotaria porque, como ele dizia, é um negócio de canhotos. Pois é, meus queridos amigos, um tipo até podia morrer, pois era proibido de comer com a mão esquerda. Daí que a Direita tenha sido sempre historicamente vista como a classe dos abastados e a Esquerda como a dos necessitados e raquíticos. Em Inglaterra ser canhoto é sinónimo de pobre, pois os ricos estão bem (right) na vida, enquanto que aos pobres se associa "nothing left", que inclui em si a ideia de esquerda; em Itália também esta discriminação é particularmente evidente, pois ser esquerdino ainda hoje é ser sinistro; em França o termo "gauche" é coloquialmente associado a alguém que é desajeitado; no nosso país esquerdo é sinónimo de agoirento! E como se não bastasse, nem sequer falta quem aqui queira ver um sinal Divino, sustentado em caso como o dos caracóis, que normalmente têm na sua carapaça a espiral orientada para a direita e apenas muito raramente encontramos os que a têm para a esquerda.
De nada serviu no passado invocar a condição de esquerdino de grandes estadistas ou pensadores para ultrapassar este preconceito. Se não há a certeza sobre se eram ou não canhotos Ramsés II, Joana d'Arc, Leonardo da Vinci, Napoleão, Maurice Ravel ou Larry Fine (um dos Três Estarolas, que hoje em dia hesito entre classificar nos pensadores ou nos políticos), é seguro que Alexandre o Grande, Júlio César, Carlos Magno, H. G. Wells, Henry Ford, Paul McCartney e Roberto de Niro constituem casos provados. E também é verdade que a comunidade científica internacional tem provado em numerosos trabalhos de investigação que a condição de ser de esquerda em nada evidencia um atraso intelectual. Gregory Mankiw fala-nos de um estudo recente que mostra, entre os homens com formação superior, salários para os canhotos superiores entre 13 e 21% aos dos destros; já pensei em treinar-me a escrever com a outra mão, é um esforço remunerador. Porém, os destros de serviço só são minimamente convencidos quando se dizem banalidades como, por exemplo, que entre os últimos sete presidentes americanos há cinco esquerdinos: Gerald Ford, Ronald Reagan, George Bush, Bill Clinton e Barak Obama (saliente-se que o George Bush aqui mencionado é o pai, que se fosse o filho já ninguém se deixaria convencer). Em se tratando de esquerdinos, o argumento científico não pega, mas já a observação avulsa serve se altamente patrocinada. É pena, mas não há nada a fazer - ainda se diz esta gente inteligente.
Como seria de esperar, esta fractura social passou também para a política, onde tudo é - como seria igualmente de esperar - mais confuso. Karl Marx, um homem de Esquerda, escreveu o "das Kapital" com a mão direita. Na China, a pátria de Mao, não há canhotos - supostamente estarão todos em Taiwan, um país declaradamente capitalista, ou de Direita. Mais do que em qualquer outro lado, a Política é por excelência o terreno de confronto entre Esquerda e Direita, e a história política recente é sobretudo o relato da longa sucessão destes conflitos e o consequente eternizar dos problemas económicos e sociais, que ficam para trás.
Uma nova e refrescante abordagem foi recentemente proposta pelo meu colega Elesk Slichen, da Universidade de "Estoucalmu", proposta no seu paper "Being on the Left is Right, But It Is Not Right Being Left". Sustenta Slichen que devemos esquecer a dicotomia clássica Esquerda/Direita e aplicar aos problemas de hoje o que descobrimos sobre esquerdinos e destros, uma nova visão sobre o conteúdo e contexto de "direita" e "esquerda". Sendo os esquerdinos em ternos médios uma elite (entre 7 e 10% da população) e mais inteligentes, e estando a economia internacional a enfrentar uma crise sem paralelo, Slichen recomenda que se constitua em cada país um partido de canhotos, e de a eles se entregar a governação. A resolução dos problemas de Portugal passaria, assim, por se encontrar um canhoto que nos salve - que para nos salvar está provado não há destros que prestem - e pô-lo à frente dos destinos da Nação. Em todo lado menos na Madeira, onde o nosso Alberto se apressaria a fazer uma lei a proibir os canhotos. E ainda reivindicaria uma compensação pela queda potencial dos ordenados.
Frederico Bastião é Professor de Teoria Económica das Crises na Escola de Altos Estudos das Penhas Douradas. Quando perguntámos a Frederico se é canhoto, Frederico respondeu: "Sou ambidestro, faço tudo com as minhas duas mãos direitas."
Se recuarmos uns bons anos, ser canhoto era uma desgraça. O meu primo Armando, que era canhoto, teve que aprender a escrever com a mão direita senão nunca teria passado da primeira classe, pois os professores não o deixavam escrever com a mão esquerda, e só conseguiu arranjar emprego a vender lotaria porque, como ele dizia, é um negócio de canhotos. Pois é, meus queridos amigos, um tipo até podia morrer, pois era proibido de comer com a mão esquerda. Daí que a Direita tenha sido sempre historicamente vista como a classe dos abastados e a Esquerda como a dos necessitados e raquíticos. Em Inglaterra ser canhoto é sinónimo de pobre, pois os ricos estão bem (right) na vida, enquanto que aos pobres se associa "nothing left", que inclui em si a ideia de esquerda; em Itália também esta discriminação é particularmente evidente, pois ser esquerdino ainda hoje é ser sinistro; em França o termo "gauche" é coloquialmente associado a alguém que é desajeitado; no nosso país esquerdo é sinónimo de agoirento! E como se não bastasse, nem sequer falta quem aqui queira ver um sinal Divino, sustentado em caso como o dos caracóis, que normalmente têm na sua carapaça a espiral orientada para a direita e apenas muito raramente encontramos os que a têm para a esquerda.
Como seria de esperar, esta fractura social passou também para a política, onde tudo é - como seria igualmente de esperar - mais confuso. Karl Marx, um homem de Esquerda, escreveu o "das Kapital" com a mão direita. Na China, a pátria de Mao, não há canhotos - supostamente estarão todos em Taiwan, um país declaradamente capitalista, ou de Direita. Mais do que em qualquer outro lado, a Política é por excelência o terreno de confronto entre Esquerda e Direita, e a história política recente é sobretudo o relato da longa sucessão destes conflitos e o consequente eternizar dos problemas económicos e sociais, que ficam para trás.
Uma nova e refrescante abordagem foi recentemente proposta pelo meu colega Elesk Slichen, da Universidade de "Estoucalmu", proposta no seu paper "Being on the Left is Right, But It Is Not Right Being Left". Sustenta Slichen que devemos esquecer a dicotomia clássica Esquerda/Direita e aplicar aos problemas de hoje o que descobrimos sobre esquerdinos e destros, uma nova visão sobre o conteúdo e contexto de "direita" e "esquerda". Sendo os esquerdinos em ternos médios uma elite (entre 7 e 10% da população) e mais inteligentes, e estando a economia internacional a enfrentar uma crise sem paralelo, Slichen recomenda que se constitua em cada país um partido de canhotos, e de a eles se entregar a governação. A resolução dos problemas de Portugal passaria, assim, por se encontrar um canhoto que nos salve - que para nos salvar está provado não há destros que prestem - e pô-lo à frente dos destinos da Nação. Em todo lado menos na Madeira, onde o nosso Alberto se apressaria a fazer uma lei a proibir os canhotos. E ainda reivindicaria uma compensação pela queda potencial dos ordenados.
Frederico Bastião é Professor de Teoria Económica das Crises na Escola de Altos Estudos das Penhas Douradas. Quando perguntámos a Frederico se é canhoto, Frederico respondeu: "Sou ambidestro, faço tudo com as minhas duas mãos direitas."
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