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15 de Maio de 2006 às 13:59

Horizontes a 2007

O comissário europeu para os assuntos económicos, Joaquín Almunia, realçou que existem - e não obstante uma invejável situação - nebulosas na economia espanhola.

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Em 8 de Maio último a Comissão Europeia (CE) apresentou as suas Previsões Económicas da Primavera, uma avaliação periódica sobre o estado da economia na União Europeia (UE).

Globalmente, e para o conjunto da UE, a CE sustenta a previsão de um crescimento de 2,3% para 2006, ou seja um crescimento mais forte do que o previsto inicialmente para este ano e superior ao crescimento em 2005 (de 1,6%). Mesmo considerando a eventual subida do preço do petróleo, a CE reavalia positivamente as estimativas de crescimento para a Zona Euro e para a UE em 2006 e 2007, nomeadamente graças à «recuperação alemã».

Para Portugal, a CE anunciou – revendo em alta – uma estimativa de crescimento económico em 2006 de 0,9%. Anunciou ainda a previsão de que o desemprego continue a aumentar, sendo expectável que o ano de 2006 termine com uma taxa de desemprego de 8,1%, taxa esta que poderá elevar-se, em 2007, para os 8,3%. Realçando que a política seguida pelo Governo até à data é «correcta e responsável», advertiu para o facto de esta exigir medidas suplementares para controlar as contas públicas e o défice.

Curiosamente a CE convida também, entre outros, a Espanha – e na véspera do Deutsche Bank divulgar um estudo onde realça o facto de o nível de vida espanhol poder alcançar o alemão em 2008 – a rever alguns aspectos da sua economia. O comissário europeu para os assuntos económicos, Joaquín Almunia, realçou que existem – e não obstante uma invejável situação – nebulosas na economia espanhola. Almunia explicou que a análise da CE sobre a economia espanhola dos últimos meses – para a qual estima um crescimento de 3,1% em 2006 (em vez dos 3,2% prognosticados em Novembro) – se justifica por dois aspectos principais. Por um lado, pela consideração de dados «muito positivos» relativos ao investimento, ao emprego e à situação das contas públicas. Mas, por outro lado, explica que existem alguns constrangimentos à evolução económica como «a perda de competitividade, a inflação mais alta, a baixa produtividade e o aumento do défice externo», realçando em particular os problemas que afectam o mercado imobiliário em Espanha. Ora, para a CE estes constrangimentos – mesmo que em 2006 e em 2007 a economia espanhola prossiga o seu crescimento acima da média da Zona Euro e o ritmo de criação de emprego se mantenha – dificultam o crescimento e podem vir a prejudicá-lo.

No exercício da sua função política e executiva a CE formula algumas «advertências» aos dois Estados ibéricos – perscrutadas pelos investidores internacionais – e apela à necessidade de serem revistas algumas medidas com repercussão na evolução económica.

Cingindo-nos aqui ao caso português, importará sublinhar que, estando há pouco mais de um ano à frente da política do país, o actual executivo tem agido no sentido de incentivar o investimento (nacional e estrangeiro) e de estabelecer um clima de confiança junto dos agentes económicos (veja-se o recente caso da Eurozinc). Mediante um considerável dinamismo, tem procurado relançar a economia nacional e promover reformas estruturais que, globalmente, podem incentivar o crescimento.

Contudo, o certo é que, também a nível internacional, a conjuntura não tem sido propícia à atracção de investimento. A incerteza na evolução da economia mundial, devido sobretudo à ameaça de aumento do preço do petróleo e à acérrima concorrência dos mercados dos «países emergentes», tem feito retrair o investimento estrangeiro em países mais desenvolvidos. É, no entanto, preciso salientar que – e não obstante eventuais contrariedades – será conveniente que se prossiga o caminho de promoção ao investimento e de reforço da confiança aos investidores. Esta é a melhor resposta à globalização e a única forma de relançar a economia. E, sabendo-se que o investimento se torna mais atractivo na presença de uma série de factores, importará realçar no estrangeiro os factores favorecedores da imagem de Portugal enquanto destino de investimento. A imagem de um país espelha o conjunto das relações jurídicas, económicas, sociais e políticas de um tempo e de um povo, pelo que é crucial dignificar a imagem de Portugal enquanto destino de atracção de investimento.

A finalizar, uma breve nota sobre a evolução da taxa de desemprego em Portugal. Se a CE admite que, em 2006, a taxa de desemprego suba aos 8,1% e, em 2007, possa vir atingir os 8,3%, isso não surpreende. De 2002 a 2005, a taxa de desemprego subiu na ordem dos 0,8% por ano. Desde que tomou posse o Governo tem procurado criar emprego através da atracção de investimento. Mas estes esforços em Economia não têm, como é compreensível, efeitos instantâneos. Acresce que, na actual conjuntura, o aumento do desemprego nos países ocidentais se deve, em muito, à recomposição da economia mundial, em particular aos movimentos de deslocalizações empresariais (a que, infelizmente, Portugal não se subtrai), o que também tem prejudicado a manutenção do nível de emprego.

É assim que o ano de 2007 se pressente especialmente exigente para Portugal a dois níveis. A nível nacional, pois a tarefa de resolver os «problemas pendentes» promete continuar árdua, mas também a nível europeu, uma vez que lhe caberá assumir a Presidência da UE no segundo semestre do ano. E certamente que, nessa altura, ainda serão também muitos os «problemas» europeus «pendentes».

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