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14 de Março de 2008 às 13:59

Hara_Kiri

De tão interessado com as primárias americanas, que, inevitavelmente, pelo despique e jogo político, estão a despertar inusitada emoção por todo o mundo, incluindo aqui na Rua do Molhe, tenho-me quase esquecido que, em mais ou menos um ano, vamos a voto

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Ora eu  faço parte daquele apetecido grupo – isto segundo os sociólogos - chamado “eleitorado flutuante” que, apesar do nome, nada tem a ver com a física dos fluidos, e denuncia antes a falta de sentido de pertença, apanágio  dos autênticos cidadão vertebrados , dos amanhã que cantam, do  caminho da verdade ou das vítimas da fome , os quais  já têm o boletim de voto preparado com quatro anos de antecedência.

Para meu próprio espanto, eu já “deitei” na CDU (autárquicas, claro), PSD, PS e CDS, desde que comecei a votar em 1975.

Confesso que às vezes tolho-me com pensamentos penitenciais por ainda não ter brindado o Bloco com o meu voto, por ter a inquietante percepção  que esta posição discriminatória pode ser constitucionalmente censurável. Mas apesar de Louçã possuir uma empatia única, misto de missionário cambojano e entertainer, eu confesso que preferia os tempos em que o partido não era uma espécie de SGPS de mini agrupamentos ml (1), antes um conjunto de militantes que fazia enérgica apologia de gente façanhuda  e hirsuta (com a excepção do camarada Mao-Tse-Tung -  ortografia arcaica, para manter o espírito da época - , esse sempre de  cara  bébé Nestlé),  que achava a Albânia o paraíso terreno e excelente aquela canção que qualificava o saudoso Henver Hodja como “a mais bela das flores”.

Eu bem tento convencer-me  que este descomprometimento revela a superioridade de um espírito realmente cartesiano, mas a minha mulher contrapõe que o meu problema é antes a confusão própria de idades avançadas.
E a verdade é que eu ando realmente  confuso.

No PCP e no BE não posso votar, porque eles ainda fecham a Bolsa, e lá se vão os direitos de autor do “Ganhar em Bolsa” (2).

O PS governa em maioria absoluta há uns anos e não consigo classificar esta mistura de balbúrdia com alguns  bons momentos com nota superior a sofrível menos, o que é bem pouco.

O CDS poderia ter ganho um tanto de capital de simpatia dado o desaforo do Ministro da Distribuição de Subsídios Europeus aos Agricultores , dirigido a Portas. Mas, sendo eu um liberal (3), nunca sei se eles estão na fase conservadora, democrata-cristã, ou facas-longas –  e até admito que o defeito seja meu,  por não acompanhar as coisas com a velocidade mínima necessária.

Então dir-se-ia que as coisas são simples: Se governo não, então oposição sim, e como só há um partido com potencialidade para a rotação, então, daqui a um ano, vota-se laranja, se Deus nos der vida e saúde. QED.

E até houve logo umas promessas tipo Shazammm.

Mas, minha Nossa Senhora de Fátima!, eles em público, de preferência na TV, tratam-se uns aos outros abaixo de cão, com insinuações, epítetos e adjectivos,  que vão de “branqueamente de capitais”, “caciquismo”, “estalinismo” , “métodos salazaristas” e eu nem ouço tudo porque, com crianças presentes, mudo de canal e ponho um banal filme de violência.

E isto é a linguagem em público! Agora imagine-se em privado o que não será que dizem uns dos outros!

(1) ML= marxista-leninista, para quem já se não lembre ou não seja dado a arqueologia.
(2) E até do “A Bolsa para Iniciados”, a sair brevemente (não me posso esquecer da publicidade).
(3) O meu filho mais novo não acha.

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