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07 de Agosto de 2006 às 13:59

Economia e Trabalho Digital

É sabido que as Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) fazem parte integrante do nosso quotidiano. Instalaram-se nas nossas casas, nos locais de trabalho e nos locais de lazer.

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Oferecem instrumentos úteis para as comunicações pessoais e de trabalho, para o processamento de textos e de informação sistematizada, para acesso a bases de dados e à informação distribuída nas redes electrónicas digitais, isto para além de já se encontrarem integradas em numerosos equipamentos do dia a dia.

Na realidade a sociedade da informação assume uma importância crescente na vida colectiva actual e introduz uma nova dimensão no modelo das sociedades modernas. Os computadores fazem parte da nossa vida individual e colectiva e a Internet e o multimédia são, cada vez mais, omnipresentes. Como refere Manuel Castells em The Internet Galaxy. Reflections on the Internet, Business, and Society, Oxford University Press, 2001, a mutação essencial - aquela que é transversal a todos os registos da mudança na actual sociedade – é a substituição das estruturas centralizadas pelas estruturas de redes (web). Ou seja, a consequência directa da informatização reside sobretudo na reorganização empresarial permanente provocada pela «nova estrutura social ligada às redes».

Tanto assim é que os responsáveis políticos têm, neste momento, plena consciência de que o futuro de cada país estará condicionado pela acção social e económica das TIC e pela forma como forem estas assimiladas pela sociedade, pela rapidez da absorção; pelo aproveitamento das oportunidades oferecidas; e também pelo planeamento estratégico da sua utilização. E, um pouco à semelhança do que acontece noutros países europeus, em Portugal o executivo de José Sócrates aprovou recentemente o Regulamento de Execução do Sistema de Incentivos à Economia Digital através da Portaria n.º 382/2005, de 5 de Abril. Este sistema de incentivos, dinamizado pelo IAPMEI, visa apoiar projectos de participação das micro, pequenas e médias empresas – oriundas da Indústria, Construção, Comércio, Turismo, Serviços e Transportes – na economia digital, actuando ao nível do reforço das capacidades técnica e tecnológica e da modernização das estruturas organizacionais, incluindo práticas de gestão modernas, e facilitando a inserção no mercado global e potenciando o alargamento dos mercados, nomeadamente fomentando as exportações e a conquista de novos mercados.

Mas não são só os decisores públicos que estão cientes da importância das TIC na economia. As organizações em geral – do sector público ao sector privado – estão também amplamente conscientes da importância da introdução das TIC para fazer face à pressão da concorrência económica. A sociedade da informação é a sociedade pós-industrial onde ganha protagonismo a economia de serviços, constituída por especialistas altamente qualificados; por saber gerador de inovação; ou pela denominada «tecnologia do intelecto», capaz de dar resposta a problemas muito mais complexos (decorrente, nomeadamente, da utilização de sistemas da informação e da cibernética).

Desta forma, a passagem progressiva do analógico para digital e do paradigma da máquina para o paradigma da rede tendem a conformar o trabalho e a sua rotina: em vez de processos mecânicos, o trabalho caracteriza-se agora pela gestão de processos complexos e baseados em fluxos mutantes.

É assim que, na sociedade da informação, o trabalho deixará, progressivamente, de implicar o recurso ao material, «ao papel e às canetas», passando a assentar especialmente em processos automatizados e computacionais (veja-se o caso da já possível autenticação de documentos através das assinaturas electrónicas). O ambiente de trabalho será assim, e cada vez mais, electrónico e desmaterializado. Além do mais, esta desmaterialização do trabalho tem repercussões positivas ao nível da desburocratização: inserido numa organização a um trabalhador pode ser solicitada, em qualquer momento e em qualquer lugar, a resolução dinâmica de algumas rotinas quotidianas, como a marcação de férias ou a justificação de atrasos e/ou faltas.

Ora, num novo ambiente digital de trabalho, é preciso que se reconheça a necessidade de maior autonomia na execução (electrónica) destas tarefas e – com a revolução digital, a explosão da Internet, a emergência do comércio electrónico e a confluência dos sectores das telecomunicações, dos computadores e do audiovisual – muitas organizações começam agora a explorar estas novas oportunidades de organizar o trabalho. E desengane-se quem pensa que esta revolução tecnológica, iniciada há mais de duas décadas, é algo de déjà vu; a verdade é que, num mundo globalizado, a aposta no conhecimento, na tecnologia e na inovação será – cada vez mais – o eixo central para o desenvolvimento das empresas e das economias.

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