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11 de Fevereiro de 2008 às 11:46

De olhos postos nos dados sobre o emprego e os salários

Head of Sales Portugal da JP Morgan Asset Management

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Como se os investidores não tivessem já tido suficientes sobressaltos nos últimos seis meses, Janeiro trouxe mais algumas surpresas. Entre estas, a redução de 125 pontos base na taxa de juro da Reserva Federal, os novos máximos atingidos pelo preço do ouro, uma crise entre as chamadas seguradoras monolinha (que operam apenas com um tipo de risco) nos EUA, mais depreciações por parte dos bancos de investimento de todo o mundo devido ao problema do "subprime" e receios de uma estagflação.

O anúncio de uma perda de 4,9 mil milhões de euros devido a uma fraude no banco francês Société Générale trouxe mais drama a este mês. Os mercados ficaram voláteis e o índice VIX de volatilidade do mercado atingiu o nível mais alto desde Março de 2003, nos 29 pontos.

O índice MSCI World teve uma variação de 8,4%, em termos de moeda local, com os mercados a parecerem estar a descontar uma recessão nos EUA e o abrandamento do crescimento global do PIB nos trimestres que se seguem. Entre os principais mercados, a Alemanha e Hong-Kong figuraram entre aqueles que registaram um notório desempenho mais fraco, com quedas de dois dígitos, enquanto os EUA foram o mercado mais forte com um retorno no índice MSCI US de -6,1%.

O MSCI desceu 12,4% em termos de moeda local, com a Rússia, Turquia e China particularmente fracos. Foram levantadas questões quanto à forma do tema do "desacoplamento" asiático. Os mercados obrigacionistas, que adoram este tipo de perdição e obscuridade, recuperaram com o índice JPMorgan Global Bond a subir 1,7% no mês e com a rentabilidade dos títulos do Tesouro dos EUA a dez anos a cair 41 pontos base para os 3,59%.

Os dados económicos do centro da tempestade, os EUA, foram fracos, mas não universalmente. O PIB relativo ao quarto trimestre cresceu apenas 0,6% em termos anuais e os dados imobiliários permaneceram fracos. Os dados relativos ao emprego foram frágeis, mas incluíram uma queda no desemprego e o inquérito de confiança dos consumidores da Universidade do Michigan foi razoavelmente forte. As receitas das empresas no quarto trimestre foram decepcionantes, mas incluíram alguns resultados muito bons dos exportadores que conseguiram tirar partido da fraqueza do dólar (por exemplo: Microsoft e Caterpiller). A ambiguidade dos dados deu origem a sugestões, segundo as quais os mercados - em particular os títulos do tesouro - tinham registado um excesso de vendas.

Os mercados accionistas não deverão encontrar a estabilidade até o fluxo de notícias negativas do sector financeiro terminar. Um sector financeiro saudável é crucial para a confiança do mercado e até que as surpresas cessem, as turbulentas condições do mercado dos últimos meses deverão permanecer. As acções parecem bem valorizadas face aos actuais rácios P/E, mas há um grande ponto de interrogação quanto à qualidade dos resultados no cálculo, enquanto os EUA permanecerem sob a ameaça de uma recessão e as economias europeias registarem um abrandamento acentuado no crescimento.

Os principais dados a vigiar nos próximos meses serão o emprego e o crescimento dos salários, tanto nos EUA como na Europa. Se o nível de desemprego permanecer nos níveis actuais, talvez os gastos dos consumidores se mantenham. Isto representa cerca de 70% do PIB dos EUA e da Europa. Um aumento do desemprego irá, certamente, prejudicar a confiança e os gastos dos consumidores, enquanto os níveis de poupança e de incumprimento de crédito aumentarão. Isto é particularmente verdade nos Estados Unidos e no Reino Unido e um problema menor na área do euro onde o endividamento dos consumidores é mais baixo.

Outro dado a vigiar é a actualização salarial anual, actualmente em curso, na maioria das economias ocidentais. Os actuais elevados níveis do IPC geral no Ocidente não têm correspondência no IPC tendencial, que permanece relativamente benigno. É através da inflação salarial que os números gerais podem ser traduzidos para a inflação tendencial, com um significativo impacto na capacidade dos bancos centrais para reduzirem as taxas de juros, caso isto ocorra.

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