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05 de Outubro de 2015 às 09:35

As ações do Reino Unido merecem um olhar mais atento?

As avaliações no Reino Unido não estão tão baratas como anteriormente, mas ainda estão ligeiramente distantes de valores "extremos".

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Nos últimos tempos, o Reino Unido tem-se perfilado como uma das economias de mercado desenvolvidas com melhor desempenho, apresentando uma taxa de crescimento média de 1,9% nos últimos quatro anos, em termos homólogos, claramente acima da média do G7, que se cifrou em 1,1% em termos homólogos. No seio deste grupo, foi a economia que apresentou um crescimento mais rápido em 2014, período em que a produção nacional cresceu 2,6%.

Este crescimento económico relativamente forte está a começar a dar frutos para os trabalhadores do Reino Unido, dado que os salários, finalmente, começaram a subir, após vários anos de degradação do nível de vida. De fato, nos últimos nove meses, temos assistido ao mais longo período de crescimento sustentado dos salários reais desde o início da crise financeira global em 2007.

Este aumento dos salários, numa altura em que o desemprego atingiu um mínimo de sete anos, tem ajudado a recuperar, de forma sólida e consistente, a confiança dos consumidores britânicos. Se atendermos ao facto de o consumo privado ser responsável por cerca de 65% do PIB do Reino Unido, o aumento da confiança e do rendimento disponível por parte dos consumidores deverá impulsionar o crescimento nos próximos trimestres. O aumento do consumo deverá igualmente fazer crescer as receitas das empresas britânicas que têm exposição ao setor do consumo no Reino Unido.

Descortinamos igualmente uma oportunidade de investimento que pode tirar partido do processo de retoma do Reino Unido e que se prende com as condições demográficas particularmente favoráveis deste país. Nos próximos anos, o Reino Unido deverá experimentar um forte crescimento populacional, sobretudo quando comparado com alguns dos seus congéneres europeus. Na Alemanha e na Espanha, por exemplo, a população ativa já está a diminuir, e iremos provavelmente continuar a assistir a decréscimos demográficos nestes países, devido à ausência de fortes fluxos imigratórios.

Qual a importância deste fenómeno para os investidores? Um crescimento demográfico lento ou negativo tende a fazer baixar o consumo, devido ao aumento da idade média da população e ao decréscimo da população ativa. Verifica-se, além disso, uma pressão crescente nas finanças públicas devido ao aumento da despesa com pensões e cuidados de saúde. A imigração em larga escala trouxe desafios políticos para o Reino Unido, mas a sua população jovem e em crescimento deverá equilibrar de forma sustentável as finanças públicas, além de constituir uma fonte de mão-de-obra que permitirá sustentar o crescimento económico e os lucros das empresas a longo prazo.

O mercado de ações do Reino Unido merece uma alocação própria
Muitos investidores globais incluem ações europeias nas suas carteiras mas não consideram que o Reino Unido constitua um mercado por direito próprio. No entanto, com 2.406 empresas cotadas e uma capitalização de mercado total de 4,2 biliões de libras, o London Stock Exchange constitui uma pedra angular dos mercados financeiros mundiais e merece ser incluído na carteira de qualquer investidor global. Além disso, o mercado de ações do Reino Unido, quase duas vezes maior que o mercado francês, é de longe o mercado europeu de maior dimensão.

Os investidores obtêm claramente alguma exposição ao índice do Reino Unido por meio de ações pan-europeias ou de um índice de ações global, mas as ações britânicas constituem um quinhão relativamente diminuto do Índice Mundial MSCI AC, na ordem de 7%, enquanto as ações norte-americanas dominam o índice, com uma quota de 52%. No caso dos mercados de ações pan-europeus, as ações do Reino Unido representam 31% do Stoxx 600, mas mais de quatro quintos deste valor corresponde a empresas FTSE 100, de mega capitalização, que poderão ter muito pouca exposição à economia britânica real e, por isso mesmo, poderão proporcionar menores vantagens de diversificação a muitas carteiras.

Em vez de se investir no Reino Unido por meio de um índice abrangente, estamos em crer que a dimensão do mercado de ações britânicas é suficiente para justificar uma alocação própria nas carteiras dos investidores, de forma a proporcionar maior exposição direta à economia deste país.

As avaliações no Reino Unido ainda não atingiram valores "extremos"
As avaliações no Reino Unido, bem como nos restantes países desenvolvidos, não estão tão baratas como anteriormente, mas ainda estão ligeiramente distantes de valores "extremos". Além disso, as previsões de lucros para 2015 indicam que os lucros das ações britânicas estão a melhorar, o que deverá ajudar a manter essas avaliações em cheque daqui para frente.

A cotação face ao valor contabilístico por ação (P/B), feitas as devidas correções das variações cíclicas, proporciona igualmente uma perspetiva interessante sobre a avaliação das ações britânicas. A diferença entre o rácio P/B, feitas as devidas correções das variações cíclicas, e o nível atual indica que o atual valor contabilístico das empresas britânicas poderá ser inferior ao que seria de esperar ao longo de um ciclo económico completo. O baixo valor contabilístico que as empresas britânicas apresentam atualmente poderá constituir uma excelente porta de entrada para os investidores a longo prazo.

Excelentes oportunidades para os investidores que procuram rendimento
O Reino Unido constitui uma excelente oportunidade para os investidores que procuram rendimento. A queda das rentabilidades das obrigações de empresas e das obrigações de dívida pública no Reino Unido e um pouco por todo o mundo colocou este tipo de investidores sob pressão. Além disso, as ações britânicas tornaram-se mais atrativas como fonte de rendimento com a descida das rentabilidades das obrigações de empresas deste país.

De modo geral, o FTSE All-Share proporciona uma rentabilidade de 3,4%, e mais de 25% das empresas que o constituem têm uma rentabilidade de dividendos superior à rentabilidade da sua dívida equivalente. Este tipo de ambiente de crédito favorece o equilíbrio financeiro das empresas britânicas, permitindo-lhes pagar as suas dívidas confortavelmente e protegendo simultaneamente o pagamento de dividendos. Nesta conjuntura, os investidores deverão explorar a estrutura de capital das empresas britânicas, a fim de tirar proveito das elevadas rentabilidades, bem como do retorno adicional que poderá advir do melhor desempenho das ações.

O Reino Unido constitui igualmente uma excelente fonte de rendimento em termos globais. Se os investidores optassem por fazer uma triagem dos mercados de ações em todo mundo, com o intuito de privilegiar apenas as empresas que pagam dividendos superiores a 3%, o seu universo circunscrever-se-ia a cerca de 750 empresas.

Implicações para os investidores
A melhoria da conjuntura económica e o aumento do consumo no Reino Unido deverá impulsionar muitas ações britânicas a curto prazo. A longo prazo, a sua população jovem e em crescimento deverá favorecer as empresas britânicas e a economia em geral.

Tal como sucede noutros países desenvolvidos, as avaliações do Reino Unido não estão tão baratas como anteriormente. No entanto, corrigindo as variações cíclicas, verificamos que as avaliações ainda estão inferiores à média a longo prazo. As ações britânicas constituem igualmente uma excelente fonte para os investidores que procuram rendimento. Por último, as rentabilidades dos dividendos são mais elevadas do que nos restantes países europeus, e existe um maior leque de empresas à escolha dos investidores.


Este artigo foi redigido ao abrigo do novo acordo ortográfico.


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